
Você já parou para pensar de onde vem a pimenta-do-reino que usamos na culinária? Em Linhares, no Espírito Santo, estado responsável por cerca de 60% da produção nacional, tradição, sustentabilidade e inovação andam lado a lado no cultivo de uma das especiarias mais exportadas pelo agro capixaba.
Só em 2023, mais de 77 mil toneladas foram colhidas no Espírito Santo. Parte importante desse volume passa por propriedades como a Agropastoril Abiko, que há mais de 40 anos investe na produção de pimenta-do-reino em larga escala.
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Linhares mantém tradição familiar no cultivo de pimenta-do-reino
Uma das principais apostas da fazenda foi a construção de 25 estufas artesanais, feitas com lona e piso de cimento, num investimento de R$ 3 milhões. A estrutura garante a secagem natural ao sol, reduzindo perdas e aumentando o rendimento em relação ao método tradicional com secador rotativo.
“Esse produto aqui é todo para exportação, 100%. Para obter qualidade, é preciso investir. Com as estufas, evitamos perdas que podem chegar a 20% no secador rotativo”, explica Ricardo Abiko, produtor rural. Ao todo, são 11 mil metros quadrados dedicados à secagem, permitindo o processamento em larga escala.

Mas as inovações não param por aí. No lugar das tradicionais estacas de madeira, a fazenda adotou uma solução sustentável: o uso da moringa como tutor vivo para as plantas. A mudança reforça a proposta de uma agricultura regenerativa.
“Em vez de cortar árvores, nós estamos plantando árvores”, destaca a engenheira agrônoma Sandra Mendonça. Segundo ela, a moringa permite que as plantas alcancem até 3 metros de altura, um ganho em produtividade em relação ao tutor convencional, que atinge cerca de 2 metros. Além disso, a copa da moringa cria um microclima favorável ao desenvolvimento da pimenta, ajudando a equilibrar as altas temperaturas dos meses mais quentes.
O manejo também prioriza a sustentabilidade. “Agora, com a chegada das temperaturas mais baixas, realizamos a poda da moringa, e todo esse material retorna ao solo”, completa a agrônoma.
A colheita está a todo vapor e deve alcançar entre 300 e 400 toneladas neste ano, com destino garantido para mercados como Europa, Estados Unidos, Turquia e México. A produção também foi otimizada com pequenas soluções tecnológicas, como a instalação de esteiras que automatizaram processos antes manuais, com baixo custo.
“Antes, essa área precisava de dez pessoas. Hoje, fazemos o trabalho com apenas quatro, graças às esteiras que desenvolvemos aqui mesmo na propriedade. De um lado cai a pimenta, do outro o talo, que também é reaproveitado para compostagem”, explica Ricardo. O investimento foi de cerca de R$ 5 mil.
Com estufas, agricultura regenerativa, tecnologia e sucessão familiar, a Agropastoril Abiko mostra que tradição e inovação podem caminhar juntas. A propriedade já está na quarta geração.
“Eu sinto muito orgulho e fico feliz de saber que começou no meu bisavô, passou para os meus avós, para o meu pai e agora está comigo e com meu irmão. A nossa fazenda une sustentabilidade, tradição e inovação, e é muito bom saber que o nosso produto vai para o mundo inteiro”, conta Aika Abiko, filha de Ricardo e estudante do terceiro período de Agronomia.
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