Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Simpeem), Cláudio Fonseca, classificou como “autoritária” e “descabida” a decisão da Prefeitura de afastar diretores de 25 escolas da rede municipal para participação em um suposto curso de formação. Para Fonseca, a medida pode estar preparando o terreno para uma possível privatização das unidades escolares.
“Nós suspeitamos que é para a terceirização da gestão escolar”, diz Fonseca. O presidente do sindicato acredita que a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) pode estar preparando o terreno para entregar a administração das escolas a organizações supostamente sem fins lucrativos, o que ameaça o caráter público e democrático da rede.
“É uma intervenção na unidade escolar”, denunciou. O afastamento, anunciado sob o argumento de melhorar indicadores de aprendizagem, gerou protestos de educadores e comunidades escolares. Segundo ele, a prefeitura não apresentou nenhum planejamento concreto do programa de formação. “Eles não tinham nenhum indicador de que programa é este. Qual é a grade curricular? O que é que vai ser desenvolvido nesse período?”
O dirigente relatou que o Simpeem, o Sindicato Especialistas Ensino Público São Paulo (Sinesp) e o Sindicato dos Educadores da Infância (Sedin), entidades representativas do setor, participaram de uma reunião com a Secretaria de Educação, mas saíram sem respostas claras.
Ainda segundo o presidente do Simpeem, a escolha das escolas não teve critérios transparentes, tampouco foram considerados fatores como desigualdade social, falta de estrutura ou carência de profissionais especializados. “Você pode concentrar alguns esforços e recursos para que as escolas possam desempenhar plenamente a sua função social. Mas eleger 21 escolas por critérios que não se sabe com precisão?”, questiona.
Um novo ato contra a medida está marcado para esta terça-feira (27), às 18h. O Simpeem, em conjunto com outras entidades sindicais, avalia novas mobilizações. “Vamos debater quais são as melhores ações, as mais incidentes, com mais força para reverter essa decisão do governo”, diz Fonseca.
Falta de investimento e descumprimento de acordo
Fonseca argumenta que os principais problemas da rede municipal estão relacionados à falta de investimento e de apoio. “É necessário colocar profissionais de educação para a superação das dificuldades de aprendizagem, como psicólogos, por exemplo. Nós não queremos a medicalização da educação, mas precisamos de suporte”, destaca.
Ele também cobrou compromisso com metas estabelecidas pela própria prefeitura. “Se uma escola não alcançou suas metas, vão fazer comparação com as metas da administração. Se concluirmos que ele [o prefeito] não cumpriu as metas, cabe um pedido de afastamento do prefeito?”, compara.
O sindicato denuncia que a decisão fere o acordo firmado ao fim da última greve da categoria, realizada recentemente. “No protocolo de negociação, o item 15 se refere exatamente à discussão desse programa de formação dos diretores. O governo descumpre”, cita. A origem do programa seria uma lei aprovada no final de 2023 pela Câmara Municipal, também sem debate com os educadores.
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