Caso Djidja completa 1 ano: relembre a morte da ex-sinhazinha e condenação da família por tráfico


Um ano após a morte de Djidja, irmão, mãe e integrantes do grupo religioso “Pai, Mãe, Vida” foram condenados por tráfico e associação para o tráfico. Djidja Cardoso, empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido que morreu por suspeita de overdose
TV Globo/Reprodução
A empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, foi encontrada morta há um ano em dentro de casa, em Manaus. O caso ganhou repercussão nacional por envolver drogas, religião e crimes como tráfico e associação para o tráfico, resultando em condenações pela Justiça.
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O g1 preparou uma retrospectiva sobre o caso a partir dos seguintes pontos:
Quem era Djidja Cardoso
Últimos momentos em vida
Morte da ex-sinhazinha
Prisão da mãe e irmão
Investigação
Grupo religioso
Condenação
1. Quem era Djidja Cardoso
Ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, foi encontrada morta em Manaus.
Reprodução/Redes Sociais
Djidja Cardoso nasceu em 3 de fevereiro de 1992 e ganhou notoriedade no Amazonas entre 2016 e 2020, ao interpretar a sinhazinha da fazenda do Boi Garantido no Festival Folclórico de Parintins — personagem de destaque que representa a filha do fazendeiro na história do auto do boi, que embasa as apresentações.
Após se despedir do papel, Djidja passou a trabalhar ao lado da mãe e do irmão na administração da rede de salões de beleza “Belle Femme”, com unidades em Manaus e em Parintins. Nas redes sociais, compartilhava com os seguidores a rotina de treinos de musculação e seu amor por animais, principalmente cobras.
2. Últimos momentos em vida
Imagens mostram últimas horas de Djidja Cardoso com vida
Meses antes da morte, Djidja revelou que enfrentava um quadro de depressão. No dia 3 de fevereiro, quando completou 32 anos, ela publicou um vídeo nas redes sociais comemorando a data com amigos e familiares, no qual compartilhou a informação: “Só tenho a agradecer, principalmente por ter passado e superado esses meses doente (depressão, gastrite, etc)”.
Vídeos gravados pelo ex-namorado, Bruno Roberto, registraram as últimas horas de vida de Djidja Cardoso. Em uma das gravações, feitas entre a noite de 27 de maio e a madrugada do dia 28, ela aparece segurando um frasco de cetamina, substância alucinógena utilizada em tratamentos veterinários, mas que também é consumida ilegalmente como droga recreativa. No vídeo, Bruno pede para a ex soltar a droga, mas ela resiste.
Em outro registro, Djidja está deitada na cama, procurando a tampa de uma seringa, enquanto Bruno reclama que quer dormir. Em resposta, ela afirma: “eu vou me aplicar”.
“Eu tentei”, diz o ex-namorado. Djidja pergunta “tentou o quê?”, e Bruno responde: “Te salvar, mas olha aí como tu tá. Tu não quer parar de usar isso”, disse.
3. Morte da ex-sinhazinha
Djidja Cardoso, empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido que morreu por suspeita de overdose
TV Globo/Reprodução
Djidja Cardoso foi encontrada morta dentro da própria casa, onde morava com a mãe e o irmão, em Manaus. Segundo uma fonte próxima à família, que não quis se identificar, parentes tentavam contato com ela por telefone e não conseguiam, então resolveram ir à casa da família. Ao entrarem no imóvel, por volta das 6h (horário de Brasília), encontraram o corpo da empresária sobre a cama.
O laudo preliminar do Instituto Médico Legal (IML) apontou que causa da morte foi um edema cerebral, que comprometeu o funcionamento do coração e da respiração. No entanto, o documento não especifica o que provocou esse quadro clínico.
A principal hipótese da polícia é que a morte tenha sido provocada por uma overdose de cetamina. O g1 entrou em contato com a Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), que detém o laudo oficial da morte, para saber o que teria causado o quadro clínico de Djidja, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
4. Prisão da mãe e do irmão
Caso Djidja: polícia prende familiares e funcionários da ex-sinhazinha em Manaus
Dois dias após a morte de Djidja Cardoso, em 30 de maio, a Polícia Civil do Amazonas deflagrou a Operação Mandrágora, que resultou na prisão de Cleusimar e Ademar Cardoso — mãe e irmão da ex-sinhazinha — além de Verônica Seixas, Claudiele da Silva e Marlisson Vasconcelos, todos funcionários da família.
Segundo as autoridades, os presos eram responsáveis por fornecer e aplicar, de forma indiscriminada, a droga cetamina durante rituais religiosos realizados dentro do grupo liderado pela família.
Mandados de busca e apreensão foram cumpridos na residência de Djidja, em unidades da rede de salões de beleza administrada por ela e na clínica veterinária onde a substância era adquirida. Durante a operação, foram apreendidas ampolas de cetamina, dezenas de seringas, agulhas, aparelhos celulares, computadores e documentos.
5. Investigação
Djidja, a mãe Cleusimar Cardoso e o irmão, Ademar Cardoso.
Arquivo Pessoal
Segundo a Polícia Civil, os cinco presos eram, à época, apontados como integrantes de um grupo religioso denominado “Pai, Mãe, Vida”, que convencia seus seguidores de que o uso da droga cetamina permitiria a transcendência para outra dimensão e o alcançar da salvação espiritual.
Ao longo da investigação, também foram presos o ex-namorado de Djidja Bruno Roberto, o personal trainer da família Hatus Silveira, além de donos e funcionários de clínicas veterinárias suspeita de fornecer cetamina para o grupo.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, na época, o grupo já estava sob investigação havia pelo menos 40 dias antes da morte da ex-sinhazinha. As investigações indicavam, ainda, que algumas vítimas do grupo religioso foram submetidas a violência sexual e aborto.
6. O grupo religioso
Caso Djidja: polícia explica como funcionava seita que usava medicação irregular
O grupo “Pai, Mãe, Vida” era liderado por Cleusimar, Ademar e Djidja. Dentro da crença, Ademar era considerado a representação de Jesus Cristo, Cleusimar seria Maria, e Djidja era vista como a personificação de Maria Madalena.
O grupo realizava rituais em que promoviam o uso indiscriminado de cetamina e defendiam o uso do entorpecente como forma de alavancar a elevação espiritual. Ademar e a mãe também possuem o nome do grupo tatuado no corpo.
Em publicações nas redes sociais, o irmão da ex-sinhazinha se apresentava como um tipo de ‘guru’ que poderia ajudar as pessoas a ‘sair da Matrix’ – que seria ir para o ‘plano superior’ citado pelo grupo.
De acordo com a polícia, as evidências apontam que os rituais eram realizados dentro dos salões de beleza e na residência da família. Nos locais foram encontrados ampolas de cetamina, dezenas de seringas e agulhas.
7. Condenação
Família de Djidja Cardoso é condenada por tráfico de drogas
Um mês após a prisão de Cleusimar e Ademar Cardoso, a Polícia Civil do Amazonas concluiu o inquérito, indiciando 11 pessoas. Além da mãe e do irmão de Djidja, foram indiciados os funcionários do salão de beleza da família, o ex-namorado da empresária, o ex-personal trainer da família, além do dono e funcionários de clínicas veterinárias suspeitos de fornecer cetamina ao grupo.
Ainda no mês de junho, o Ministério Público pediu a condenação de sete dos indiciados e a absolvição de três réus, alegando ausência de provas suficientes para condenação.
Seis meses depois, o juiz Celso de Paula condenou a mãe e o irmão de Djidja, além de outras cinco pessoas, por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Dos sete condenados, apenas Verônica e Bruno Roberto – que estão em liberdade provisória – poderão recorrer em liberdade. Já os demais, estão cumprindo as penas no regime fechado, conforme a sentença judicial.
O juiz também absolveu por insuficiência de provas os réus Emicley Araujo Freitas Júnior, ex-funcionário da clínica que fornecia a droga, Claudiele Santos da Silva e Marlisson Vasconcelos Dantas, ex-funcionários do salão de beleza da ex-sinhazinha.
Caso Djidja Cardoso: a investigação sobre a morte da jovem que ganhou fama como estrela do Festival de Parintins
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