
Segundo o boletim de ocorrência, a investigação será feita com base na tipificação penal de ‘homicídio culposo na direção de veículo automotor’. Mas ainda há uma série de perguntas que não foram respondidas. Passageira de transporte de moto por aplicativo morre em São Paulo
A passageira Larissa Barros Máximo Torres, de 22 anos, morreu no sábado (24) após ser arremessada de uma moto de aplicativo na Avenida Tiradentes, na região central de São Paulo.
Segundo o motociclista que levava a jovem, que machucou braço, perna e costela no acidente, um carro abriu a porta enquanto eles passavam pela faixa azul (via exclusiva para motos) e a batida teria jogado os dois contra outro veículo.
Na versão da Polícia Civil, o carro estava parado no semáforo com o motorista e dois passageiros. Um deles estava bêbado e teria aberto a porta do veículo de repente.
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À polícia, o motorista do veículo, que também era de aplicativo, disse que um dos passageiros abriu a porta em uma “brincadeira”.
Os passageiros do carro são o advogado de 28 anos, Felipe Moutinho Hilsenrath Garcia, e o economista João Pedro Baptista Viegas De Oliveira Paes, de 28.
Larissa foi enterrada na segunda-feira (26) no cemitério Primavera 1, em Guarulhos, na Grande São Paulo.
O acidente aconteceu em meio a uma disputa entre a Prefeitura de São Paulo e as empresas 99 e Uber sobre a liberação ou não do serviço de moto por app na cidade. (Veja aqui o vaivém na Justiça.)
Segundo o boletim de ocorrência, a investigação será feita com base na tipificação penal de “homicídio culposo na direção de veículo automotor”. Mas ainda há uma série de perguntas que não foram respondidas.
Veja a seguir o que se sabe e o que falta esclarecer sobre o acidente:
Quais são as versões do acidente?
Larissa foi atropelada?
Quem abriu a porta do carro?
Por que o motociclista não prestou depoimento?
Foi prestado socorro?
Quem era Larissa?
Quais serão os próximos passos da investigação?
Quais são as versões do acidente?
Segundo o motociclista, um carro abriu a porta enquanto eles passavam pela faixa azul (via exclusiva para motos). A batida teria arremessado os dois contra outro veículo
Reprodução/PM
No Boletim de Ocorrência registrado após o acidente, o motorista de aplicativo conta que, por volta das 23h, durante a última corrida, estava com dois passageiros: o advogado Felipe Moutinho Hilsenrath Garcia e o economista João Pedro Baptista Viegas De Oliveira Paes. Segundo ele, os dois começaram a “brincar”.
“Um dos passageiros, inicialmente em tom de brincadeira, disse que iria descer do veículo. Após parada do motorista no semáforo vermelho, o passageiro João Felipe abriu a porta e nesse momento passava uma motocicleta que colidiu com a porta do veículo, arremessando os passageiros da moto no carro da frente”, diz trecho do B.O.
Os nomes de João Pedro e Felipe estão misturados na declaração, então a referência a João Felipe no trecho acima pode não estar precisa. No mesmo documento, Felipe diz que estava conversando e brincando durante a viagem, mas afirma que “não viu nada do que aconteceu”, que apenas “ouviu o barulho e depois se deu conta que se tratava de um acidente.”
Já João Pedro conta que estava no veículo com seu amigo conversando quando ouviu um baralho e percebeu que era um acidente. Ele diz “não ter visto os fatos que motivaram o acidente”. Além disso, diz no boletim que estava embriagado e não sabe dizer se abriu ou não a porta do veículo. Que não nega que abriu, mas que não se recorda de ter feito isso.
Larissa foi atropelada?
Carro que motociclista e passageira teriam colido após serem atingidos por porta.
Reprodução/PM
No domingo (25), a família de Larissa afirmou que ela havia sido atropelada por outro carro após cair da moto. Nesta segunda-feira (26), o motociclista de aplicativo Henderson de Souza Maior, envolvido no acidente, afirmou à TV Globo que ela não foi atropelada, mas sim que ambos foram arremessados contra outro carro.
“O que realmente aconteceu foi que o carro abriu a porta jogando a gente no outro carro que estava no trânsito. Não teve atropelamento, tudo foi culpa da ação de uma pessoa louca… abrir uma porta no meio da avenida. Eles estavam bêbados”, afirmou o motociclista.
Quem abriu a porta do carro?
Ainda não se sabe quem abriu a porta do carro que teria causado o acidente que matou Larissa
Reprodução/PM
Ainda não se sabe e a resposta para essa pergunta continua em investigação pela Polícia Civil.
Procurada, a defesa de João Pedro lamentou a morte de Larissa e negou que o economista tenha aberto a porta do carro e que em “nenhum momento contribuiu para a ocorrência do fatídico acidente”.
Já a defesa de Felipe alegou que o cliente só “é uma testemunha do caso” e que enviará nota após o novo depoimento dele, que deve acontecer nesta quarta-feira (28).
Por que o motociclista não prestou depoimento?
Motociclista foi socorrido e levado para um hospital em Santana
Arquivo pessoal
Henderson contou que não se negou a comparecer à delegacia para prestar depoimento, conforme consta na versão do Boletim de Ocorrência. Ele esclareceu ter sido socorrido e levado para um hospital. A versão apresentada no Relatório Autoridade Policial confirma a informação.
“Em nenhum momento corri. Fui socorrido para o pronto-socorro de Santana, e a passageira, para outro hospital. Não fui à delegacia quando o hospital me liberou porque não sabia que tinha que ir até lá. Um policial me ligou às 4h da manhã, mas falei que não tinha condições de me locomover, mas que estava à disposição para prestar esclarecimentos”, contou o motociclista.
Foi prestado socorro?
Sim. Larissa foi levada para a Santa Casa, segundo o Boletim de Ocorrência, mas não resistiu aos ferimentos. Já o motociclista sofreu ferimentos na perna, no braço e na costela. Ele foi levado a um pronto-socorro em Santana e liberado horas depois.
Segundo Henderson disse à TV Globo, Larissa estaria viva no momento em que foi socorrida e dizia que “estava com vontade de vomitar”.
Quem era Larissa?
Larissa era formada em marketing e estudava engenharia de produção
Arquivo pessoal
Formada em marketing e estudante de engenharia de produção, Larissa Barros Maximo Torres, de 22 anos, era “cheia de planos e sonhos”, segundo a família dela.
Ela trabalhava como supervisora comercial para pagar a faculdade e, no sábado à noite, havia sido homenageada em uma festa da empresa como a melhor funcionária do mês.
Acabaram com a vida de uma menina de 22 anos cheia de planos, cheia de sonhos, que se ocupava, que gostava de viver e tinha uma meta na vida.
Quais serão os próximos passos da investigação?
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) afirmou que os ocupantes do automóvel foram conduzidos ao 2º Distrito Policial (Bom Retiro), onde prestaram depoimento e deram suas versões sobre os fatos.
A defesa de Felipe Moutinho Hilsenrath Garcia disse ao g1 que ele deve ouvido novamente nesta quarta-feira (28).
Procurada, a SSP não respondeu até a última atualização desta reportagem se os envolvidos no acidente serão ouvidos novamente ou quando isso acontecerá.