Cenário de incerteza trava o mercado global de celulose: impacto na demanda, estoques e preços

A persistente falta de definições claras em relação à guerra tarifária continua gerando um cenário de estagnação no mercado global de celulose, especialmente do lado da demanda. Nesse contexto, os compradores adotam posturas conservadoras, gerenciando seus estoques com cautela. Tomar decisões de compra tornou-se um desafio: a volatilidade macro e microeconômica pode alterar o panorama em poucas semanas — por vezes, antes mesmo de os pedidos serem entregues —, levando os agentes de mercado a minimizar os riscos. Na prática, isso significa adquirir apenas o estritamente necessário, mesmo com os preços atuais da celulose abaixo das médias históricas.

No caso da China, a demanda por celulose foi impactada pela queda na procura por papel acabado em todos os seus tipos, especialmente nos mercados internacionais, com destaque para o mercado norte-americano. Embora a recente trégua entre os governos dos Estados Unidos e da China tenha trazido algum alívio, as incertezas persistem, dificultando a tomada de decisões de compra relevantes. A produção de papel e cartões na China caiu 2% no primeiro trimestre em comparação com os três trimestres anteriores.

O mercado de celulose é caracterizado principalmente por ser guiado pela oferta. Nesse sentido, espera-se que a produção no segundo trimestre do ano supere os volumes registrados no primeiro. Segundo dados da PPPC, os dias de estoque dos produtores encerraram o primeiro trimestre em níveis considerados “controlados”. No entanto, esse período foi marcado por paradas programadas de manutenção, especialmente no Brasil, onde a Suzano, por exemplo, concentrou a maioria de suas paradas entre janeiro e março. Embora a temporada de manutenções continue, é provável que o mercado enfrente uma situação de excesso de oferta, agravada pela demanda enfraquecida mencionada anteriormente.

Os estoques nos principais portos da Europa e da China refletem esse desequilíbrio. Na Europa, foi registrado um aumento de 13% em comparação com a média dos últimos doze meses. Na China, os estoques acumulados nos primeiros quatro meses de 2025 ficaram 16% acima da média de 2024.

A China, que representa aproximadamente 40% da demanda global de celulose, mantém o foco na evolução dos preços de revenda no mercado interno. Há poucas semanas, o preço da celulose de fibra curta girava em torno de US$ 600 por tonelada; no entanto, de acordo com relatórios locais e índices de referência, atualmente é negociada abaixo de US$ 550, enquanto o preço de revenda doméstico segue ainda mais baixo. Vale lembrar que, no ciclo de preços anterior, não houve uma recomposição significativa de estoques nem substituições relevantes de madeira importada por celulose importada entre os produtores integrados de papel. Esse comportamento pode sinalizar uma possível recuperação da demanda, além de um reequilíbrio entre oferta e demanda, caso os preços baixos se mantenham nos próximos meses.

Quanto à celulose de fibra longa para papel, os preços caíram levemente em todos os mercados. A migração da demanda para a fibra curta se mantém, impulsionada por uma diferença de preços que ainda ultrapassa os US$ 200 por tonelada. Essa dinâmica já levou alguns produtores europeus a considerar paradas temporárias de produção. A Metsa, por exemplo, anunciou em maio negociações com seu sindicato para implementar essa medida em duas de suas fábricas. Nesse cenário, os produtores de fibra longa — incluindo a celulose fluff — da América do Sul demonstram vantagem competitiva em relação aos seus pares do hemisfério norte.

Uma das notícias mais relevantes do setor é a resolução do conflito legal entre J&F e Paper Excellence pela propriedade das ações da Eldorado. O grupo brasileiro anunciou oficialmente a recompra da totalidade das ações em posse da PE, consolidando-se como o único acionista da empresa. Embora essa resolução não tenha impacto imediato no mercado, espera-se que viabilize o tão aguardado anúncio da construção de uma segunda fábrica de celulose no Brasil por parte da Eldorado.

Em conclusão, enquanto persistirem as incertezas decorrentes da guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos, o mercado de celulose continuará apresentando sinais de estagnação em seus fundamentos. A retomada dependerá de uma maior clareza no cenário tarifário global ou, alternativamente, de um choque do lado da oferta — algo que, ao menos no curto prazo, parece mais provável no segmento de fibra longa do que no de fibra curta.

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