
Jonas Montedioca, de Mogi Guaçu (SP), havia previsto entrar com a documentação de visto na próxima semana para estudar na Sam Houston State University, no Texas. Jovem pianista de Mogi Guaçu (SP) conquistou uma bolsa para estudar piano nos Estados Unidos, mas foi surpreendido com anúncio de Trump de suspensão de entrevistas para vistos de estudantes.
Arquivo pessoal
O pianista brasileiro Jonas Montedioca, de 18 anos, teme que a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de suspender entrevistas de vistos para estudantes, atrase o sonho de estudar música no Texas.
O jovem de Mogi Guaçu (SP) ganhou uma bolsa para estudar na Sam Houston State University, e previa entrar com a documentação na próxima semana.
“Estou tentando descobrir como é que vai ser, como é que vai ficar, se vai revogar, o que vai acontecer. […] mas o plano era eu começar o processo do visto nessa primeira semana de junho. Foi bem por pouco”, contou o jovem.
📲 Siga o g1 Campinas no Instagram
De acordo com Alex Santos, gerente de uma empresa de assessoria em vistos e passaportes, de Campinas (SP), estudantes que já haviam recebido o documento de instituições de ensino dos Estados Unidos para solicitar as entrevistas do visto conseguirão avançar nas etapas do processo.
Já para quem não tinha recebido a documentação, Alex explica que, segundo informações do Consulado dos Estados Unidos em São Paulo, não será possível iniciar o processo, já que o sistema por onde são feitas as solicitações das entrevistas informa que não há mais vagas disponíveis.
“O grande problema está em quem está começando o processo agora. Quando a gente entra no sistema e coloca a opção de visto de estudos, ele não abre vagas. Não tem vagas. Eu não consigo fazer um novo agendamento e a gente não sabe até quando isso vai ficar dessa forma para uma pessoa que vai fazer um visto de estudante”, explicou o gerente.
Comprovação de renda
Enfrentar a incerteza sobre o processo de visto é apenas mais uma barreira no caminho do jovem pianista para realizar o sonho de estudar fora do país.
Embora tenha conquistado a bolsa de maior valor, de US$ 8 mil, a universidade do Texas exige que ele comprove ter renda para custear despesas como alimentação, moradia e transporte.
O jovem tem tentando arrecadar os R$ 50 mil necessários para essa comprovação, e para isso tem realizado vaquinas online e recitais beneficentes.
Jonas contou que estava aguardando atingir o valor – ou próximo disso – para comprovar a renda e receber o documento da Sam Houston State University que o levaria às primeiras etapas do visto: o preenchimento de formulário e as entrevistas.
Trump x universidades: com medo de perder o visto, alunos estrangeiros deletam redes sociais, excluem grupos de Whatsapp e evitam sair de casa
Porém, com a suspensão dessa etapa por decisão do presidente Donald Trump, o jovem já imagina que terá de aguardar para realizar o sonho de estudar piano na instituição – ele precisaria começar o processo do visto até a metade de junho para ingressar na universidade em agosto, quando começam as aulas.
Apesar disso, Jonas segue otimista de que não perderá a bolsa.
“A faculdade ainda não me falou nada sobre, mas eu acredito que não tem tanto risco de perder a bolsa, porque já foi recebida a carta da bolsa, ela já foi assinada. Por causa disso eu acho que não tem essa possibilidade assim tão facilmente, mas ainda estou tentando descobrir.”
O jovem acredita que a universidade pode pedir que os estudos sejam adiados por um semestre ou que as aulas comecem a ser ministradas na modalidade virtual.
🎹 Como tudo começou
O pianista conheceu a possibilidade de estudar numa faculdade estadunidense com o professor e pianista Filipe Alexandrino.
“Meu atual professor de piano fez aula particular com um professor brasileiro da Sam Houston State University, o Diego Caetano. Ele me apresentou esse professor, que me explicou como funcionava o processo para entrar, só que aí ele avisou que o custo era alto e que tinham as bolsas”, contou Jonas.
Com o passar dos meses o músico acabou se interessando pela possibilidade estudar piano fora do Brasil e o professor o incentivou. Jonas relata que sabia que nem ele e nem a família “teriam condição financeira” para bancar outras despesas.
Jonas Montedioca durante recital beneficente de piano.
Arquivo pessoal
“Meu professor foi vendo que eu tava em condições de fazer a prova, de tentar passar e ter chance de uma bolsa que ajudasse. Só que ele também não esperava que iria ser a bolsa máxima. Foi realmente uma surpresa para nós dois. […] Fui fazendo as contas e aí eu cheguei na conclusão que eu não ia ter a condição financeira. Foi aí que surgiu a ideia da vaquinha e tudo mais”.
🎼 O pianista já apresentou recitais em Itapira (SP), Mogi Guaçu e Mogi Mirim (SP). O próximo recital, que terá o valor dos ingressos revertidos para o projeto de estudar fora acontece neste sábado (31), no Espaço Cultural MusikHaus, em Campinas.
“Para mim os recitais estão funcionando como uma despedida também, além de arrecadar. Se eu conseguir mesmo ir, vai ter sido uma despedida”, afirma o pianista.
O jovem passou por um extenso processo de seleção ao entrar na universidade, além de aulas intensivas de inglês.
Após a inscrição, ele fez duas provas escritas, uma para ingresso na instituição, outra para o curso de música, enviou histórico escolar, vídeos tocando piano, informações pessoais, até chegar na etapa final, a audição.
Jonas e o professor de piano Filipe Alexandrino, que o incentivou a prestar a prova da Sam Houston State University.
Arquivo pessoal
Jonas começou a ter interesse pelo piano aos 12 anos, mas por conta da pandemia e outros percalços, só começou a fazer aulas com 14 anos, em 2021, quando começou a estudar no Centro Cultural de Mogi Guaçu com o pianista Renato Barzon.
“Ficou essa vontade acumulada por dois anos e a hora que eu comecei a fazer aula acho que veio tudo de uma vez, foi muito bom, eu vi que realmente era aquilo que eu queria. Valeu a pena a espera. E eu acho que essa espera até ajudou a crescer a vontade de querer fazer aula de piano.”
✈️ ‘Lugar 100% novo’
Apesar da empolgação pela oportunidade, Jonas revela que ir para “um lugar 100% novo” também traz alguns receios.
“Dá um pouco de medo por não saber o que encontrar. E nesse caso é muito diferente, porque além de ser um lugar diferente, é uma cultura diferente, é uma língua diferente, pessoas diferentes, você não vai ter sua família para você voltar”, disso.
A questão do visto e a possibilidade de sofrer preconceito por ser estrangeiro também preocupam o pianista, mas ele conta que coletou boas informações a respeito da universidade, que possui diversos alunos e professores de outras nacionalidades.
“O que me tranquiliza é o fato de ter muitos alunos e professores internacionais, isso traz um conforto. Realmente dá uma insegurança, mas nada que me impeça, por exemplo, de ir para lá”, explicou.
Acuados por Trump, estudantes estrangeiros apagam redes e evitam sair de casa
*Sob supervisão de Fernando Evans
VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região
Veja mais notícias da região no g1 Campinas