
Um olhar e o corrupião
O clique foi rápido, mas ficou eternizado. Uma cena curiosa: um corrupião pousado exatamente sobre minha lente teleobjetiva. Essa fotografia, que abre esta matéria, talvez simbolize melhor do que qualquer palavra a conexão que construí com a natureza ao longo dos anos.

O corrupião estava em reabilitação no Instituto Nacional da Mata Atlântica. Já estava acostumado com pessoas, e durante um curso de fotografia de natureza que eu estava ministrando, ele, inesperadamente, pousou curioso em minha câmera.
Os participantes do curso não perderam tempo e eternizaram aquele momento especial para mim.
Sempre enxerguei meu trabalho como fotógrafo de natureza, além de estética e técnica fotográfica. Minhas imagens são ferramentas de transformação. São a maneira que encontrei de sensibilizar pessoas, de provocar reflexões e, quem sabe, inspirar mudanças.
O curioso é que, durante muito tempo, minha relação com a natureza estava muito ligada ao trabalho. Foi quando conheci o universo da observação de aves que essa conexão ganhou um novo significado.
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Descobri que observar a vida selvagem poderia ser também meu hobby, uma fonte inesgotável de alegria, bem-estar e realização pessoal.
Além da fotografia
A partir desse contato com a observação de aves, algo se transformou em mim. Comecei a entender que não se tratava apenas de fotografar, mas de viver a natureza, de estar presente, atento e conectado.
Antes disso, nos primeiros anos de minha jornada como fotógrafo de natureza, eu entrava na floresta buscando uma imagem, mas sem realmente entendê-la. Com a observação de aves, comecei a entender mais sobre as espécies, comportamentos, cantos e nomes.
Foi aí que tive um insight interessante. Comecei a perceber que entrar na floresta sem conhecer seus elementos, era semelhante a entrar em uma biblioteca sem saber ler. Quem iria se interessar pela leitura dessa forma? Acredito que a conservação da natureza segue o mesmo princípio.
Também entra nessa equação, o fator felicidade. Um estudo realizado pelo Centro Alemão de Pesquisa em Biodiversidade revelou que viver próximo a áreas ricas em biodiversidade de aves aumenta significativamente a satisfação e o bem-estar das pessoas.
A pesquisa indicou, inclusive, que observar mais espécies de aves aumenta a sensação de felicidade.

Eu não precisava de mais provas. Vi, na prática, amigos superarem quadros de depressão e até largarem vícios ao mergulharem no mundo da observação da fauna e flora. Para muitos, esse contato com a natureza se tornou mais importante do que outras atividades que os faziam mal.
É curioso como esse hobby lembra o famoso jogo digital “Pokemon” (de caçar criaturas), só que aqui, na observação da natureza, a atividade acontece na vida real, sem causar dano algum às espécies “capturadas” pelas câmeras fotográficas.
Aliás, costumo repetir uma frase que escutei uma vez e que fez todo sentido para mim: “A sensação da fotografia de natureza é muito parecida com a da caça, mas, em vez de tirar uma vida, você a eterniza.”
O poder da ciência cidadã
Essa paixão pela observação me levou também ao universo da ciência cidadã. Plataformas como o iNaturalist, Biofaces, Wikiaves, e-bird, GBif têm revolucionado a forma como qualquer pessoa, de qualquer lugar, pode contribuir com a ciência.

Mapa de observações. Todos os registros do usuário são catalogados por espécies e por coordenadas geográficas de onde as fotos foram realizadas.
E foi nesse contexto que conheci as Bioblitz, uma “evolução” dos famosos Big Days da observação de aves. Trata-se de um desafio coletivo em que pessoas se unem para registrar o maior número possível de espécies em determinado local e período.
Diferente de uma competição, a Bioblitz é uma ação para alcançar um objetivo coletivamente. Uma celebração da biodiversidade e da nossa capacidade, enquanto sociedade, de olhar para a natureza e gerar conhecimento. É sobre conexão, pertencimento e, acima de tudo, conservação.
Um convite irrecusável
Quando o Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) me convidou, junto ao Instituto Últimos Refúgios, para ajudar na realização da Bioblitz da Mata Atlântica 2025, não pensei duas vezes. Aceitei com orgulho. Afinal, sou um grande entusiasta do trabalho do INMA e também apaixonado por iniciativas que promovem essa aproximação entre pessoas e natureza.
LINK PARA O PROJETO NO iNATURALIST

A Bioblitz da Mata Atlântica 2025 acontece de 27 de maio a 30 de junho e convida escolas, pesquisadores e toda a população a participar desse grande mutirão de ciência cidadã. A proposta é simples: registrar, por meio de fotos, plantas, animais e fungos, e enviar para o iNaturalist.
Os dados coletados nas atividades se transformam em informação científica, ajudam pesquisadores, ajudam a mitigar lacunas do conhecimento sobre a biodiversidade, fortalecem a conservação e, tão importante quanto, proporcionam uma experiência que pode mudar vidas.
Neste ano, o evento acontece de forma presencial em quatro municípios: Santa Teresa (ES), Vitória (ES), Vargem Alta (ES) e São José dos Campos (SP). Mas qualquer pessoa, de qualquer lugar da Mata Atlântica, pode participar.
Olhar, sentir e entender
Observar a natureza é um exercício de percepção com algo que, muitas vezes, passa despercebido na correria do dia a dia.
E aqui, vale uma reflexão que carrego comigo. A percepção humana é limitada, pois filtramos uma parte da realidade. Observar, portanto, é também um exercício de tentar perceber o que está além do que os olhos podem ver.
A conexão que transforma
Fotografar a natureza, observar aves, participar de uma Bioblitz… tudo isso é, para mim, uma paixão que me conecta com algo maior. É uma forma de me sentir parte do mundo real.
A cada registro, seja de uma pequena borboleta, uma árvore centenária ou um pássaro raro, sinto que estou contribuindo para construir uma ponte. Uma ponte que liga as pessoas ao mundo natural.
Algo que faça com que elas tenham a vontade de conhecer mais sobre o nosso planeta. Que se interessem em aprender a “ler” a natureza.
E quando vejo tantas crianças, jovens, professores, pesquisadores e cidadãos participando da Bioblitz, me dá uma esperança, em um momento tão obscuro, de retrocessos nas políticas ambientais brasileiras.




Juntos pela Mata Atlântica
O convite está feito. Participe da Bioblitz da Mata Atlântica 2025. Crie sua conta no iNaturalist, inscreva-se no projeto da Bioblitz da Mata Atlântica , fotografe a natureza ao seu redor e ajude-nos a perceber mais profundamente, nem que seja por meio do recorte de 1 mês, esse grande mosaico de vida.


Além de contribuir com a ciência, você vai, quem sabe, descobrir um novo olhar sobre o mundo. Um olhar mais atento, mais sensível e mais conectado com a beleza e a importância da biodiversidade.
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Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!