
Médicos suspeitam que morte tenha ocorrido por lesão pulmonar conhecida como ‘EVALI’, associada ao uso de vape. Estudante perdeu pulmão esquerdo. Jovem segura cigarro eletrônico em imagem de arquivo
TV Globo/ Reprodução
Médicos que atenderam a adolescente de 15 anos, que morreu nesta quarta-feira (28) por complicações causadas, supostamente, pelo uso de cigarro eletrônico, conhecido como vape, em Brasília, contaram ao g1 que a família não sabia que a estudante fazia uso do dispositivo.
A informação só foi descoberta durante a entrevista médica, após o agravamento do quadro de saúde. A suspeita é que a morte tenha ocorrido por lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico, conhecida como “EVALI” — sigla em inglês para e-cigarette or vaping use-associated lung injury.
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A estudante morava em Ceilândia, no Distrito Federal, com os pais. Segundo os médicos, a jovem perdeu o pulmão esquerdo.
Saga por hospitais
Médicos ouvidos pela reportagem contaram que a adolescente estava com uma tosse persistente há cerca quatro meses. A família procurou atendimento em vários hospitais, até que a menina foi internada no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB).
O primeiro diagnóstico foi de pneumonia comunitária, pneumonia por influenza A e EVALI, segundo o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF).
Em 18 de maio, a adolescente foi transferida da UTI do HMIB para a enfermaria do Hospital Cidade do Sol (HSol), em Ceilândia.
A paciente foi tratada com antibióticos, corticosteroides e suporte clínico. Segundo o IgesDF, a estudante apresentou melhora com fisioterapia para recuperar a função pulmonar.
Dois dias depois, a menina voltou a ter febre e o tratamento precisou ser ajustado.
Em razão da “necessecidade de continuidade do cuidado especializado”, a adolescente foi transfrida pra o Hospital Universitário de Brasília (HUB), na terça-feira (27).
O HUB informou que a paciente ficou sob os cuidados da equipe de pneumologia.
Como o quadro de saúde se agravou, na quarta-feira (28) “houve necessidade de cuidados em unidade de terapia intensiva (UTI)”, mas o hospital estava com lotação máxima.
A jovem então foi transferida para a UTI do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN).
O g1 apurou que ainda na ambuilância ela sofreu uma parada cardíaca. A equipe do HRAN tentou reanimá-la, mas não teve sucesso.
A Secretaria de Saúde (SES-DF) não deu informações sobre o caso, em função da legislação que impõe sigilo sobre o prontuário de pacientes atendidos na rede pública.
‘Luto eterno’, diz pai de adolescente
Maria Enedina Scuarcialupi, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
A família da jovem não quis falar sobre a morte. “Estamos em luto eterno”, disse o pai.
Até a última atualização desta reportagem, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) não havia aberto investigação sobre o caso, que foi reportado à Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
A coordenadora da comissão, Maria Enedina Scuarcialupi, explica que uma investigação para comprovar morte por uso de vape só será aberta caso a família autorize.
Segundo a médica, a adolescente vinha procurando atendimento por causa de uma tosse que não passava e que estava piorando muito. O caso começou a ser tratado como pneumonia, evoluiu para insuficiência respiratória aguda, e a suspeita é de lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico, conhecida como “EVALI” (veja entrevista acima).
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O uso de dispositivos eletrônicos para fumar, como o vape, é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009. Apesar disso, a comercialização desses produtos ocorre de forma clandestina em várias regiões do país.
“O vape tem várias substâncias químicas. Independente da marca, ele tem vitamina E. […] Se for para inalação, ela se transforma como se fosse cristais e provoca lesões nos alvéolos, que inflamam e viram fibrose, como se fosse cicatriz. […] O tecido perde a funcionalidade, não funciona mais para entrar o oxigênio e sair o gás carbônico. Ele não faz mais a respiração”, diz Maria Enedina Scuarcialupi.
A médica explica que a EVALI é uma doença nova e teve o CID (Classificação Internacional de Doenças) registrado recentemente.
“Nem todos os médicos estão habituados. Às vezes, o médico nem lembra de perguntar se o adolescente usa vape. […] Muitos jovens já devem ter morrido com diagnóstico de insuficiência respiratória aguda por influenza, Covid, por infecção, porque simula o quadro de infecção”, afirma.
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