
Território palestino é o lugar ‘mais faminto do mundo’, segundo o porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Entrega de ajuda humanitária sob tutela de Israel, considerada insuficiente pela ONU, tem caos e reclamações. Nova entrega de ajuda humanitária em Gaza tem correria e reclamações de desrespeito e caos
Toda a população da Faixa de Gaza está em risco de fome extrema, afirmou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) nesta sexta-feira (30).
“Gaza é o lugar mais faminto do mundo. (…) 100% da população está em risco de fome extrema”, afirmou o porta-voz da OCHA, Jens Laerke.
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Outra agência da ONU, o Programa Mundial de Alimentos, descreveu como “horda de famintos” os palestinos que invadiram um armazém de suprimentos na faixa central de Gaza nesta semana.
‘Se você é forte, consegue pegar ajuda’
Após quase uma semana de entrega de ajuda humanitária mediada por Israel na Faixa de Gaza, palestinos relataram caos, dificuldades e falta de dignidade para terem acesso a comida. “Se você é forte, consegue pegar. Se não for, não pega.”
Segundo os palestinos, que enfrentam grave crise humanitária em Gaza, o cenário se repete nas entregas de alimentos realizadas pela empresa americana Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), escolhida por Israel para ajuda humanitária no território.
E não foi diferente nesta quinta-feira (29). Palestinos em Rafah, no sul de Gaza, foram vistos carregando pacotes de alimentos próximo a um ponto de distribuição da GHF. Teve correria e cada um carregou o que conseguiu. No entanto, muita gente sai de mãos abanando.
“Estou com fome e quero comer. Não tem farinha, não tem comida, não tem pão, não tem nada em casa. Toda vez que eu vou (buscar ajuda), pego uma caixa, cem pessoas se amontoam em cima de mim, trezentas. Não consigo pegar nada. Só volto pra casa. Antes, a agência (UNRWA) me mandava uma mensagem: eu ia como qualquer pessoa respeitada, pegava (a ajuda) e voltava (pra casa). Agora, não tem nada. Se você for forte, pega (a ajuda); se não for forte, não pega”, afirmou o Abdel Wader Rabie à agência de notícias Reuters.
Com a retomada limitada da ajuda, o Exército israelense —que agora controla uma ampla área de Gaza— realiza nova ofensiva terrestre, tendo matado 3.901 palestinos desde o colapso de uma breve trégua em meados de março, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo terrorista Hamas.
Palestinos carregam suprimentos na Faixa de Gaza perto do Corredor de Netzarim, no centro do território, em 29 de maio de 2025.
REUTERS/Ramadan Abed
Israel afirma que suas operações militares têm como alvo apenas integrantes do Hamas e acusa o grupo de usar civis como escudo, alegação que o Hamas nega. A nova rodada de ajuda humanitária, criticada e ainda considerada insuficiente pela ONU, ocorre após bloqueio total de 11 semanas de entrada de suprimentos no território. O argumento israelense era que a ajuda chegava ao grupo terrorista.
O desespero em Gaza é grande. Um armazém do Programa Mundial de Alimentos foi invadida na quarta-feira por uma “horda de palestinos famintos”, como descreveu a agência da ONU, que levaram tudo. O tumulto deixou mortos e feridos.
“É muito difícil, queremos comer, queremos viver. O que devemos fazer? Não é fácil. Pegamos apenas comida (em quantidade necessária) para nos manter vivos”, disse à Reuters um palestino que carregava caixa de suprimentos em Rafah.
Na terça-feira, outro tumulto com tiroteio também deixou mortos e feridos após palestinos terem invadido centro da GHF durante entrega de suprimentos.
Apoiada por Israel e por seu aliado Estados Unidos, a GHF disse que distribuiu cerca oito mil caixas de alimentos —o equivalente a 462 mil refeições— desde o início da semana, quando começou a atuar em Gaza sob a tutela israelense.
A Organização das Nações Unidas e outras entidades internacionais de ajuda humanitária boicotaram a fundação, argumentando que ela enfraquece o princípio de que a ajuda deve ser distribuída de forma independente das partes em conflito, com base nas necessidades da população.
Palestinos invadem centros de ajuda humanitária em Gaza em busca de comida
A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce, minimizou as críticas ao programa de ajuda, chamando-as de “reclamações sobre o estilo”.
Israel afirma que uma vantagem do novo sistema de distribuição é a possibilidade de fazer triagem dos beneficiários nos pontos designados, excluindo qualquer pessoa associada ao Hamas. Em guerra contra o grupo desde outubro de 2023, Israel acusa o Hamas de roubar suprimentos e usá-los para fortalecer sua posição — algo que o Hamas nega.
Israel iniciou sua campanha militar em Gaza em resposta ao ataque terrorista do Hamas contra comunidades do sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas e resultou no sequestro de 251 pessoas levadas como reféns para Gaza, segundo números israelenses.
A ofensiva israelense já matou mais de 54 mil palestinos, segundo as autoridades de saúde de Gaza, e reduziu grande parte do enclave costeiro densamente povoado a escombros.
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