
Ela achou que era estresse. Ou cansaço. Ou ansiedade. Passou um tempo, melhorou. Depois voltou. E voltou diferente. Um olho embaçado, um braço sem força, o corpo mandando sinais que ninguém conseguia explicar. Até que o nome apareceu: esclerose múltipla.
No dia 30 de maio é celebrado o Dia Mundial da Esclerose Múltipla, uma doença neurológica crônica, autoimune e cheia de estigmas.
Não é comum, mas também não é rara. E, quando chega, muitas vezes encontra uma mulher jovem, ativa, no auge da vida — e muda tudo.
O que é a esclerose múltipla?
É uma doença em que o próprio sistema imunológico da pessoa, que deveria protegê-la, passa a atacar estruturas do seu sistema nervoso central, mais especificamente a bainha de mielina, que reveste os neurônios.
Essa bainha funciona como o “isolante dos fios elétricos” do corpo. Quando ela está danificada, os sinais que saem do cérebro ou da medula espinhal podem se perder ou atrasar. É aí que aparecem os sintomas.
Quais sintomas a pessoa pode ter?
A esclerose múltipla pode se manifestar de formas diferentes em cada pessoa, mas os sintomas mais frequentes incluem:
- Formigamento ou dormência em um lado do corpo;
- Fraqueza muscular, geralmente em um braço ou perna;
- Alterações visuais, como visão turva ou embaçada (às vezes, só de um olho);
- Desequilíbrio e dificuldade para andar;
- Fadiga intensa, que não melhora com repouso;
- Rigidez ou espasmos musculares;
- Em alguns casos, alterações urinárias ou disfunções cognitivas (como dificuldade de concentração).
Esses sintomas podem surgir em surtos (momentos em que há inflamação ativa no sistema nervoso) e, depois, melhorar parcial ou totalmente. Por isso, muita gente demora a perceber que algo mais sério está acontecendo.
Quem costuma ser afetado?
A esclerose múltipla costuma aparecer entre os 20 e 40 anos, com maior incidência em mulheres. A causa exata ainda não é totalmente compreendida, mas estudos indicam que fatores genéticos e ambientais têm papel importante.
Não é uma doença contagiosa. Também não é considerada hereditária no sentido clássico, embora familiares de primeiro grau tenham um risco ligeiramente maior que o restante da população.
Quantas pessoas têm EM?
Estima-se que mais de 2,8 milhões de pessoas no mundo convivam com a doença. No Brasil, o número gira em torno de 35 mil pessoas, segundo dados da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla.
A incidência é considerada baixa, mas os impactos na vida social, emocional e produtiva são grandes justamente porque afeta, em geral, adultos jovens, em plena fase ativa da vida.
Existe tratamento?
Sim. Embora ainda não haja cura, há vários tratamentos comprovadamente eficazes que reduzem a frequência dos surtos, controlam a inflamação e ajudam a preservar a função neurológica.
Quanto mais cedo o diagnóstico e o início do tratamento, melhor o prognóstico.
Além das medicações que modulam o sistema imune, o acompanhamento pode envolver reabilitação física, apoio psicológico e controle de sintomas específicos.
E a vida depois do diagnóstico?
A esclerose múltipla não é uma sentença de fim de vida ativa. Com acompanhamento especializado e tratamento regular, muitas pessoas seguem trabalhando, estudando, cuidando da família, praticando exercícios e mantendo seus projetos.
Mas é preciso olhar com seriedade. O diagnóstico precoce, o acesso a profissionais capacitados e o combate ao preconceito fazem parte do cuidado.
Por que falar sobre isso?
Porque quanto mais se fala, mais se entende. E quanto mais se entende, menos se julga.
O Dia Mundial da Esclerose Múltipla é um convite para olhar com atenção para sinais que costumam ser ignorados, para sintomas que parecem comuns demais pra serem levados a sério. E para lembrar que, quando o corpo fala, principalmente com insistência, a gente precisa parar e escutar.