
‘Let’s go rodeo’ tem participação de Diplo e elementos que até enriquecem atmosfera genérica, mas sonoridade poderia ser trilha de comercial no Texas; veja análise do g1. Título: “Let’s go rodeo”
Artista: Ana Castela
Nota: 5,5/10
Ana Castela virou um dos principais nomes do sertanejo fazendo uma mistura interessante entre elementos tradicionais do estilo com características do pop, funk e música eletrônica. Isso, alinhado a um discurso que valoriza a cultura agro e a vida no interior.
Mas, para seu primeiro álbum de estúdio — ela tem outros dois trabalhos ao vivo –, a cantora mato-grossense decidiu apostar tudo no country americano. Numa versão datada, simplória. Algumas músicas de “Let’s go rodeo”, disco lançado nesta quinta-feira (29), parecem trilha de comercial de supermercado do Texas.
Como o próprio nome indica, pouca coisa do projeto remete à identidade brasileira do sertanejo. Ana está mais interessada em emular uma versão teen da Shania Twain dos anos 1990 em “Olha onde eu tô”, faixa escolhida como primeiro single do álbum.
Ana Castela se apresenta na Festa Junina de Votorantim (SP)
Reprodução/TV Globo
Já “Se amando nas BR” tem algo do country pop de Carrie Underwood — e letra com referências a “Nosso quadro”, maior hit da cantora, lançado em 2023.
Faixas mais dançantes se sobressaem, com elementos que fogem da atmosfera country genérica. “As cowgirl” tem o beat estridente do funk mandelão de São Paulo (e, no refrão, uma menção à melodia de “I love it”, hit da banda sueca Icona Pop com a popstar britânica Charli XCX).
Em “Tropa do chapelão”, uma parceria com o DJ americano Diplo, vale a pena prestar atenção na batida eletrônica feita com o som do berrante, instrumento usado para chamar o gado, que é símbolo do povo sertanejo.
Mas, entre as nove faixas, a melhor é uma balada romântica: “Pra quem você ligou” tem narrativa redondinha sobre uma desilusão amorosa, numa letra simples, direta e gostosa de cantar. Uma receita parecida com a de “Nosso quadro”. É grande o potencial para virar hit.
Capa do álbum ‘Let’s go rodeo’, de Ana Castela
Divulgação
O grande mérito de Ana Castela em “Let’s go rodeo” é buscar uma sonoridade um pouco diferente da que vem dando certo no sertanejo. Nos últimos anos, o gênero se tornou um tanto repetitivo. Os próprios artistas têm falado em uma estagnação criativa.
Por outro lado, desde as primeiras modas de viola nos anos 1920, o Brasil passou um século desenvolvendo sua própria perspectiva da música sertaneja. Não apenas uma: ao longo das décadas, muitas vertentes ganharam as paradas, com características e discursos particulares, que transformaram o estilo no mais popular do país.
Soma-se a isso o fato da música pop estar cada vez mais preocupada com identidade… e fica difícil se conectar com um som tão gringo, que já está até meio ultrapassado.