
Procedimento foi o primeira de um programa do SUS que vai capacitar equipes do Norte e do Nordeste. Aysha tem 1 ano e 3 meses e sofre com cardiopatia congênita
Reprodução Jornal Nacional
Uma equipe médica de Manaus fez, esta semana, uma cirurgia cardíaca em um bebê, com apoio, em tempo real, de médicos que estavam a quase 3 mil km de distância, em São Paulo.
Aysha tem 1 ano e 3 meses e dorme tranquila. A mãe dela, a Larissa, também respira mais tranquila agora. É que a filha nasceu com uma cardiopatia congênita, uma comunicação entre duas válvulas do coração. E passou por uma cirurgia delicada. Deu tudo certo.
“Hoje ela já passou a comer um pouquinho. Ela está bem e não teve assim nenhuma ocorrência. A pressão dela está normalizada, ela não teve nada. Nada, nada, nada, nada. Ela está muito bem”, comenta Larissa Izabelle Oliveira de Almeida.
Todos os anos, 29 mil crianças nascem com algum problema no coração, no Brasil. Oito em cada dez, precisam de cirurgia. Normalmente, os pacientes esperam em uma fila para serem atendidos em grandes centros no Sudeste. Precisam viajar para longe de casa, pagar hospedagem. Tudo muito difícil e caro.
No caso da Aysha foi mais fácil. Uma parte da equipe estava no HCor, em São Paulo. Mas a cirurgia foi no Hospital do Coração Francisca Mendes, em Manaus. O que está acontecendo na sala é uma mudança neste tipo de atendimento.
Os médicos do HCor participam de uma cirurgia que acontece nesse momento, a quase 3 mil km de São Paulo. Eles estão orientando a equipe de Manaus. Passando o conhecimento de décadas de experiência acumulada, para que as crianças possam ser operadas e salvas lá.
A cirurgia com telemonitoramento foi feita pelo Proadi, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional, do SUS. Na sala de cirurgia, foram instaladas câmeras e microfones. Tudo o que o cirurgião via no Amazonas era transmitido em tempo real para São Paulo. E os médicos trocaram informações o tempo todo.
“Ninguém vai ensiná-lo a dar um ponto, a amarrar um fio. Nada disso. Mas talvez identificar a melhor indicação, a melhor estratégia cirúrgica — melhor caminhar por aqui, não por ali. Isso eu acho que a gente consegue contribuir bastante”, destaca o cirurgião cardíaco pediátrico do HCor / InCor, Marcelo Jatene.
George Butel, que operou Aysha, é um dos três cirurgiões cardíacos pediátricos do Amazonas. Ele já fez mais de mil operações e diz que sempre é preciso aprender mais.
“A gente se comunica e ‘olha, esse caso eu resolvi desse jeito’. Ele dizer ‘melhor que você fazer assim, porque eu já me vi nessa situação e resolvi dessa maneira’. Então, essa troca, esse diálogo que acontece nessa transmissão, isso é muito importante, entendeu?”, pontua o cirurgião cardíaco pediátrico, George Butel.
A capacitação de profissionais do Norte e do Nordeste do país pretende aumentar o número de cirurgias feitas pelo SUS, diminuir a fila e evitar o deslocamento das famílias.
“Isso é muito mais benéfico para eles — inclusive no pós-operatório — para que os pais possam dar assistência, para que a mãe esteja perto, sem precisar se deslocar num local tão distante”, afirma a coordenadora médica da cardiopediatria do HCor, Ieda Jatene.
As cirurgias com telemonitoramento vão ser feitas também em Recife e Fortaleza. E com casos cada vez mais complexos, até que as crianças possam ser atendidas perto de casa.
“Marca essa virada de chave. Une centro especializado de excelência internacional apoiando a redução no tempo de espera, o atendimento adequado no tempo adequado do SUS em vários cantos do país e de forma permanente”, relata o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Para a Aysha e para a família dela o resultado já veio.
“Graças a Deus, tudo deu certo, agora ela vai crescer mais saudável do que ela já é”, declara Larissa Izabelle Oliveira de Almeida.
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