
Geração de negócios, oportunidades e tudo o que o mercado da sustentabilidade oferece para empreendedores e empresas. Esses são algumas das metas da conferência Sustentabilidade Brasil que acontece no Estado entre os dias 11 e 14 de junho, na Praça do Papa, em Vitória.
E não poderia haver lugar melhor. O Espírito Santo se destaca no cenário nacional com iniciativas voltadas para o crescimento econômico sustentável.
Para se ter ideia, em 2024, o Banco de Desenvolvimento do Estado (Bandes) liberou R$ 156,1 milhões em debêntures por meio do Fundo ESG de desenvolvimento. Foi dinheiro para financiar projetos inovadores nos setores industrial e principalmente energético.
O Brasil, de uma forma geral, desponta como um potencial líder global na economia verde, com projeções indicando um acréscimo de até US$ 430 bilhões ao PIB até 2030.
Esses são apenas alguns temas de discussão na conferência, que já é tradicional no nosso calendário aqui do Estado e este ano tem um peso diferente. Isso porque é uma etapa oficial da COP30, a Conferência da ONU para o CLima, que acontece no Pará em novembro.
Elias Carvalho é o organizador da conferência capixaba e aponta a importância de produzir conteúdo que tenha medidas práticas. Ele destaca ainda que as discussões no Estado vão virar uma carta que será encaminhada às Nações Unidas.
Veja a entrevista completa com Elias Carvalho:
Como o Sustentabilidade Brasil ficou maior do que uma feira?
Hoje o Sustentabilidade Brasil é uma conferência. A gente vem fazendo um trabalho muito sério, muito profundo com o Instituto de Sustentabilidade Brasil, o qual eu presido. E a nossa equipe técnica vem debatendo isso desde o final do ano passado.
O evento acontece com um capital intelectual incrível, mas você não tem um registro disso. Não sai uma proposta concreta sobre aquele debate que aconteceu naquele evento, e aquilo se perde. Daí mais um ano, outro evento, depois mais outro evento. Ou seja, essa dor de não ter o conteúdo registrado fez com que nossa equipe técnica se debruçasse num sistema, num projeto, em que a gente realmente pudesse entregar e ter ali um resultado concreto, prático.
Nesse sentido, a gente pode entregar para o Brasil e para o mundo uma proposta realmente relevante sobre os 40 temas que serão debatidos na COP deste ano em Belém, no Pará, em novembro.
Quais são esses 40 temas?
A nossa área técnica pegou uma trilha. A COP começa lá atrás, na Rio 92, na conferência. Foi a primeira. Então, a nossa equipe traçou uma trilha do Rio a Belém, com conexão no Espírito Santo. Então criamos 13 trilhas. Essas trilhas se transpassam e juntas elas perfazem 40 pautas.
As pautas vão desde mudanças climáticas, passando por inclusão até ESG. Você tem educação ambiental, saúde, mudanças climáticas, que estão afetando muito a saúde das pessoas hoje.
Você tem a questão de uma matriz econômica importante que vai ser debatida, que é a economia azul, que é toda a economia que vem do mar. Nós temos hoje um Estado com um litoral absurdamente incrível, com qualidade de água, segundo especialistas, de primeira linha para esse tipo de economia. Você tem uma série de potenciais. Países nórdicos hoje, como Finlândia, Noruega, têm 65% do PIB vindo do mar. É uma matriz econômica que precisa ser debatida.
Todos esses temas nós estamos trazendo com 120 painelistas. Três painelistas debatendo cada tema diferente. Nesse sentido, a gente vai chegar realmente junto com a plenária, que também será interessada no tema, a um resultado final, prático. Ou seja, vamos oferecer para o Brasil e para o mundo a sugestão final deste trabalho.
Painelistas do Brasil e do exterior?
Temos do exterior e do Brasil. E sempre um capital intelectual incrível, sempre gente estudiosa. É muita participação das universidades do Brasil todo, não só da UFES. Temos nomes da Universidade de Minas Gerais, de São Paulo, do Albert Einstein. E representantes de grandes instituições como o vice-presidente do Banco do Brasil que vem falar sobre inclusão.
Ou seja, tudo isso está inserido em um mecanismo em que nós temos pretas, mulheres, pessoas com deficiência… é uma inclusão total. Um evento que entrega uma participação bastante extensa de pessoas de todos os níveis e do mesmo modo com contribuição para a gente entregar, na prática, o que a gente precisa: respostas.
Vai ser uma mini COP?
Eu diria que faz parte da COP. Todos os paineis serão gravados e editados. Do mesmo modo um relatório de cada um deles, com propostas, vai ser encaminhado à COP. O Sustentabilidade Brasil é no Espírito Santo, mas contempla Rio, São Paulo e Minas Gerais.
Como um evento que começou no ES ganhou essa proporção ao ponto de ser chancelado pela ONU?
Primeiro por que o Espírito Santo já vem numa liderança por meio do governador Renato Casagrande, que está à frente dessa pauta há muito tempo. Ele é presidente do Consórcio Brasil Verde, lidera 21 estados.
O Espírito Santo tem toda uma aplicação de recursos do Bandes, um trabalho exemplar na descarbonização. Temos o Reflorestar, que é pioneiro no Brasil, começou aqui. Então, o Espírito Santo tem vários bons exemplos. A ONU olha para o Espírito Santo como referência de sustentabilidade.
Qual o efeito prático dessa preocupação com sustentabilidade no nosso dia a dia?
Há um interesse do mercado em investir em estados que preservam o meio ambiente. Governos, empresas, instituições que realmente trabalhem a sustentabilidade. Nesse sentido, hoje, mesmo empresas médias já estão colocando diretorias de sustentabilidade, buscando ESG na prática.
Os eventos climáticos estão cada vez mais extremos. E o Estado começa a atrair empresas, olhares, investidores. Empresas querem ligar sua marca a um Estado que preserva. Isso dá visibilidade e uma imagem muito boa.
O ES é referência em ESG no Brasil?
Tem muito a caminhar, mas está à frente dos outros estados. A economia verde cresce e gera oportunidades de negócios.
E o Sustentabilidade Brasil deste ano, como se posiciona na geração de negócios?
Será um grande encontro de interessados: empresas, terceiro setor, governos. Todos interligados. São políticas públicas que fazem acontecer. Dentro do evento haverá debates sobre saúde, economia criativa, turismo e gastronomia. Tudo sem dano ao meio ambiente, com grande empregabilidade.
A feira traz empresas de vários estados, startups, inovação. É um espaço de conexão. Quem participa ganha muito.
E a agricultura? Como será tratado o debate sobre agro e sustentabilidade?
A pauta do agro está incrível, com pessoas de altíssimo nível. O Espírito Santo dá exemplo por ter um agro sustentável. O produtor cuida da água, da vegetação, entende que plantar árvore é colher água. E o Espírito Santo tem todos os biomas. É um retrato do Brasil.
Houve um recuo na pauta ESG com a volta de Donald Trump à presidência dos EUA? Isso afetou o evento?
Hoje, não tem como negar os efeitos climáticos. Estão em todo lugar. O negacionismo é uma imbecilidade. O mercado europeu não compra de quem não cuida do meio ambiente. Empresas que ignoram ESG perdem valor, consumidores exigem responsabilidade.
Por mais que se queira polarizar, não dá. A maré da sustentabilidade virou um mar inteiro. Não adianta nadar contra. E sim, isso será debatido.
E a exploração de petróleo na margem equatorial da Amazônia? Como o tema será abordado?
A transição energética é lenta, mas tem que ser firme. Vai levar décadas. Não dá para parar tudo de repente. Precisamos de energia. Se for possível explorar com o menor impacto, com tecnologia, temos que fazer. É minha visão pessoal. E isso precisa ser debatido. O nome já diz: transição. Tem que ser concreta.
Quais vão ser os pontos altos da Sustentabilidade Brasil 2025, poucos meses antes da COP30?
Eu acho que a mudança climática é algo que não tem como deixar de discutir. Ou seja, o tema está latente. Do mesmo modo o tema da inclusão. As pessoas precisam ser incluídas, pretos, pobres, povos indígenas. Nesse sentido, nós temos que cuidar. Porém, acima de tudo, eu acho que a gente precisa entender que o meio ambiente precisa de muito diálogo.
A gente vai defender tudo isso na nossa conferência. Dialogar, negociar, porque a gente só vai conseguir chegar realmente a algum lugar dialogando.
Quantas pessoas passaram pela feira ano passado?
O ano passado foram 12 mil pessoas, lá no Parque de Exposições de Carapina. Este ano nós esperamos 25 mil pessoas na Praça do Papa. Gente do mundo inteiro. Nós vamos receber pessoas de Portugal, Estados Unidos… Naturalmente, a gente vai receber gente do Brasil e do mundo aqui.
O que você acha que pode sair de mais importante daqui para abastecer a COP30 no Pará?
A gente chama de Carta do Espírito Santo, já que o Estado está com essa marca muito forte de abraçar a pauta de sustentabilidade. Nesse sentido, nós queremos um documento que leve as sugestões dos 40 painéis assinada pelas instituições que vão participar do evento. Quanto mais instituições assinarem com a gente essa carta, mais força elas vão ter.
Não é só uma carta burocrática…
Não. Porque vão sair medidas práticas de liderança. Em outras palavras, são sugestões, obviamente. A organização da COP virá ao evento para chancelar. Do mesmo modo, nós vamos levar juntos esse documento produzido aqui, num evento oficial da COP.
Como as empresas aqui do ES podem se beneficiar pelo Sustentabilidade Brasil?
O empresário pode linkar a marca dele. Nesse sentido, ele se liga a um evento que discute 40 pautas da vida. Mudanças climáticas, educação ambiental, inclusão, transição energética e muito mais.
Onde você quer chegar com essa conferência?
Eu acho que é uma missão. Eu tenho certeza de que esse projeto vai viajar o Brasil inteiro. Esse formato que a gente criou trabalha em todos os estados brasileiros.
Nós queremos ir para Nova York no ano que vem, levar o Sustentabilidade Brasil à Semana do Clima, fazer um evento nosso lá.
Queremos ajudar realmente as autoridades, o terceiro setor, bem como as empresas, a falar a mesma língua. Queremos usar o evento para fazer a integração das pessoas interessadas no tema.
Elias Carvalho é o idealizador e organizador da conferência Sustentabilidade Brasil
Veja abaixo a entrevista completa: