Da sobra ao protagonismo: o potencial da casca de café como energia limpa no ES

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*Artigo escrito por Jamilly Tressmann, hunter em negócios internacionais, diretora comercial no Instituto Sustentabilidade Brasil e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG.

No passado, a casca do café era apenas uma sobra esquecida ao lado das grandes sacas que movimentavam a economia capixaba.

Hoje, esse subproduto desperta o olhar de especialistas e produtores como uma oportunidade concreta de transformação: o Espírito Santo, estado com forte tradição na cafeicultura, pode dar um passo à frente e liderar a inovação no uso da casca como fonte de energia limpa e renovável.

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Reconhecido nacional e internacionalmente pela qualidade de sua produção de Conilon e Arábica, o Espírito Santo ocupa posição de destaque na cafeicultura brasileira.

Essa força produtiva, combinada à crescente preocupação com sustentabilidade e transição energética, abre caminho para a valorização de subprodutos antes subaproveitados — como a casca do café, que representa cerca de 50% do volume processado.

Potencial da casca do café

Com alto poder calorífico, estimado entre 3.800 e 4.200 kcal/kg, de acordo com estudos da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Embrapa Café, a casca tem grande potencial para ser usada como biomassa em caldeiras, secadores, fornos cerâmicos e até mesmo na indústria do aço, substituindo combustíveis fósseis com menor impacto ambiental.

Já existem estudos e aplicações pontuais em outros estados brasileiros, e essa alternativa energética começa a ser vista como uma solução estratégica para regiões produtoras como o Espírito Santo.

A adoção desse modelo pode gerar benefícios econômicos e ambientais relevantes. O reaproveitamento da casca contribui para a economia circular, reduzindo o desperdício e criando novas cadeias de valor.

Ao invés de descartar ou queimar de forma ineficiente, os produtores poderiam comercializar o resíduo com indústrias interessadas ou usá-lo para geração de energia nas próprias propriedades. A prática também ajudaria a diminuir emissões de carbono e a diversificar as fontes de renda no campo.

Investimentos em tecnologia

A viabilização dessa alternativa depende de investimentos em tecnologia, logística e capacitação, além do apoio de políticas públicas que incentivem a inovação sustentável no agronegócio. Cooperativas, indústrias e instituições de pesquisa têm papel essencial nesse processo de transição.

Mais do que uma solução energética, a valorização da casca de café representa um novo olhar sobre os resíduos: o de que tudo que sobra pode se tornar valor. Ao invés de ser um fim, a casca pode marcar um recomeço — um ciclo produtivo mais inteligente, resiliente e comprometido com o futuro.

No Espírito Santo, a casca que já foi sobra pode se tornar símbolo de transformação. E isso, certamente, pode ser apenas o começo.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.

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