Porque acabar com a escala 6×1 e colocar o rico no Imposto de Renda é essencial para o Brasil

A história de luta dos e das trabalhadoras no Brasil tem momentos bem definidos em torno do tema da redução da jornada sem redução salarial. Em 2024, mais um capítulo dessa história se iniciou a partir de duas palavras de ordem: “Queremos a Vida Além do Trabalho” e “Fim da Escala 6×1”. Essas palavras seguiram a cartilha de agitação, dialogaram com as emoções e afetaram a sensibilidade do nosso povo, que foi, durante um bom tempo, ludibriado com o discurso do “seja você seu próprio chefe”. A morte de trabalhadores nos locais de trabalho se tornou ponto de discussão e, em memória daqueles e daquelas que tiveram suas vidas ceifadas por uma jornada e escala de trabalho extenuantes, estamos e permaneceremos em luta.

A real é que todo mundo tem a mesma necessidade, mas dificilmente consegue transformá-la em pauta comum de luta. Muitas vezes, aqueles que o fazem correm o risco de ser taxados como economicistas — como nós fomos. Mas veja: se tudo é político, a fome e a miséria também são.

Com isso, o ano de 2025 se abriu com a possibilidade de discutirmos de forma prática a unidade das forças populares em torno de três pautas em comum: o fim da escala 6×1, a redução da jornada sem redução salarial e a taxação dos super-ricos (aqueles tipo o filho do Eike Batista que matou um jovem atropelado com o carro a mil por hora — não é o meu tio que cuida do mercadinho do bairro na Barra do Ceará, não).

A ferramenta necessária para expressar e dar corpo a essa unidade é um velho conhecido nosso: o Plebiscito Popular. Este, com a capacidade de unificar os mais diversos setores e linguagens — sejam elas igrejas, movimentos populares, partidos, sindicatos, centrais etc. Essa ferramenta iniciou sua organização no começo do ano e, até o final do mês de junho, todas as organizações serão convocadas para construir o plebiscito, que deve ter como espaço de debate todo e qualquer lugar que nosso povo ocupe — das igrejas aos bares. Por isso, esta escrita segue com a humilde função de, além de agitar o plebiscito, munir a nossa juventude de argumentos e permitir que o nosso povo se aproprie do Plebiscito Popular.

Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) vinculam longas jornadas sem descanso adequado ao aumento de doenças cardiovasculares, depressão e queda de produtividade. Luís Felipe chegou ao trabalho animado com uma possível efetivação. No entanto, no final da tarde, ao ser chamado pelo departamento de recursos humanos da empresa, soube que não seria efetivado e que teria o seu contrato encerrado. Pouco tempo após o anúncio, Luís tirou a sua própria vida no ambiente de trabalho, no ano de 2024, em Cajamar.

Países como França e Alemanha já adotaram escalas mais humanizadas, provando que reduzir dias trabalhados não prejudica a economia — pelo contrário, aumenta a eficiência. Além disso, um ponto de discussão importante é o tema da tecnologia, que desde a década de 1980 avança indiscutivelmente, o que nos provoca a refletir sobre o seu papel no aumento da produtividade e como ela deve estar também a serviço da redução da jornada e da escala de trabalho. A luta por menos horas de trabalho acompanha os avanços tecnológicos. Se máquinas e automação aumentaram a produtividade, por que os trabalhadores ainda seguem sendo explorados com a jornada de 44 horas ou mais? Países como a Suécia, com jornadas experimentais de 6 horas por dia, mostram que menos horas elevam a satisfação e a eficácia.

No Brasil, onde milhões enfrentam deslocamentos exaustivos e empregos precarizados, reduzir a jornada também geraria mais postos de trabalho, distribuindo oportunidades.

Enquanto trabalhadores pagam proporcionalmente mais impostos sobre consumo (como ICMS e IPI), os ultra-ricos brasileiros concentram riqueza em paraísos fiscais e pagam menos sobre renda e patrimônio. Dados do IBGE revelam que o 1% mais rico detém quase 50% da renda nacional, enquanto a carga tributária recai sobre os mais pobres.

Taxar grandes fortunas e aumentar alíquotas para dividendos poderiam financiar:

  • Saúde e educação públicas;
  • Transporte e moradia dignos;
  • Geração de empregos.

O argumento de que isso “desestimula investimentos” é falacioso: países como Noruega e Alemanha taxam seus ricos em até 45%, sem fuga de capitais.

Ainda, com esses dados, é importante sim concluir que, se o posto do seu bairro não funciona e se falta merenda na escola, é sim devido ao fato de que aqueles que recebem mais de R$ 50.000,00 pagam menos do que devem para o desenvolvimento do nosso país.

Por fim, é importante que não deixemos de demarcar quantas pessoas serão beneficiadas com o fim da escala 6 por 1, a redução da jornada, a taxação dos super-ricos e a isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000,00. A população que recebe até R$ 5.000,00 por mês corresponde à maioria esmagadora, chegando a quase 70%, e estima-se que apenas 1% da população receba mais de R$ 28.000,00.

Ainda, considerando que a maioria dessa população que recebe até R$ 5.000,00 está nas jornadas 6×1 e 5×2, podemos sim considerar que o plebiscito tem um apelo junto à maioria esmagadora da população brasileira.

Dessa forma, é papel nosso, das organizações, construir essa ponte de diálogo com nosso povo. Por fim, convidamos todos e todas para se somar nessa construção. No estado do Ceará, teremos a nossa primeira plenária estadual no dia 14 de junho, que deve definir como o plebiscito chegará a cada município, bairro, escola e universidade do estado, para anunciar que acabar com a escala 6×1, reduzir a jornada e taxar os super-ricos será a vitória de 2025.

*Thalita Vaz é militante do Levante Popular da Juventude

**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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