
Sinal do equipamento do animal monitorado foi detectado na costa da Libéria, na terça (6). Segundo os pesquisadores, ‘essa é a primeira migração entre continentes registrada com um tubarão marcado no Brasil’. Tubarão-tigre marcado em Fernando de Noronha
Bruno Galvão/Acervo pessoal
Um tubarão-tigre, marcado com um transmissor via satélite em Fernando de Noronha, foi detectado na África, numa viagem com distância de 5 mil quilômetros. O sinal do equipamento do animal monitorado foi registrado na costa da Libéria, na terça (6).
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A coordenadora do Projeto Tubarões e Raias, Bianca Rangel, que também é pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que foi a primeira vez que essa migração foi confirmada.
“O registro é inédito. É a primeira migração entre continentes registrada em um tubarão marcado no Brasil. Esse animal, marcado com transmissor via satélite por pesquisadores em Noronha, está na costa africana, depois de nadar mais de 5 mil km”, comemorou Bianca.
A fêmea, que foi batizada com o nome de Georgina, recebeu o equipamento há quase um ano, no dia 13 de julho de 2024 (veja vídeo abaixo). A partir daí, passou a ser monitorada no estudo sobre o comportamento da espécie.
Tubarão-tigre marcado em Fernando de Noronha viaja para a África/ Imagem Bruno Galvão
Parceria
A pesquisa é desenvolvida pelo Projeto Tubarões e Raias de Noronha em parceria com a Arabia Saudita King Abdullah University of Science and Technology (KAUST), instituição da Arábia Saudita.
A pesquisadora da KAUST, Raquel Lubambo, que é brasileira, enfatizou a importância do uso da tecnologia para confirmar a migração.
“A tecnologia possibilitou a gente identificar que essa fêmea traçou uma rota e chegou na África. Isso é muito importante porque confirma que a população da costa brasileira está conectada com tubarões da costa africana”, falou Raquel Lubambo.
A estudiosa declarou que a fêmea marcada pode se reproduzir com animais da costa africana, outro fato relevante.
“Caso ela se reproduza com tubarões-tigres africanos, vai viabilizar um fluxo genético entre animais das duas partes do Atlântico. O cruzamento é fundamental quando a gente pensa na conservação da espécie no geral”, avaliou Raquel Lubambo.
A migração também causa preocupação. “Estamos muito empolgados com a chegada dessa fêmea em águas africanas. Mas também estamos receosos pela intensidade da atividade pesqueira naquela região. Esperamos que a Georgina siga ilesa na sua migração”, falou Bianca Rangel.
Outros registros
A rota migratória para a África foi indicada em 2014, quando um tubarão-tigre rastreado por outra equipe de pesquisa já tinha migrado nesta rota. Naquela oportunidade o tubarão foi pescado pela frota de pesca da Costa do Marfim, no meio do Oceano Atlântico, antes de completar a migração.
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Análise das correntes
A análise das correntes marinhas confirma que a fêmea nadou contra a corrente. O monitoramento do sinal do transmissor deste animal indicou que o equipamento não emitiu o sinal porque estaria numa área mais profunda.
“Existe uma corrente subsuperficial, ou seja, mais profunda, que vai em direção da África. Esse tubarão pode ter usado essa corrente como forma de locomoção”, declarou Raquel Lubambo.
A pesquisadora falou, ainda, que com base na avaliação dos dados de satélite, foi possível descobrir que alguns fenômenos oceanográficos contribuíram para a mudança do padrão das correntes marítimas.
“Essa fêmea começou a ‘surfar’ nas correntes em direção a costa africana. É difícil cravar como foi a movimentação deste tubarão, mas é bem provável que essa fêmea tenha usado dessas variáveis oceanográficas para se ajudar”, informou a estudiosa da KAUST.
A viagem em linha reta tem 3 mil km, mas a fêmea fez o caminho mais longo, com 5 mil km
Projeto Tubarões e Raias/Divulgação
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