Existe correlação entre Selic, inflação e dólar?

A inflação já mostra sinais claros de desaceleração. O IPCA perdeu força, a demanda arrefeceu e a economia caminha devagar. Ainda assim, a taxa básica de juros permanece elevada, não por excesso de cautela do Banco Central, mas porque a política econômica do governo federal falha em oferecer previsibilidade, equilíbrio fiscal e segurança institucional.

O governo teve uma oportunidade histórica: herdou uma economia com inflação controlável, reservas sólidas e um cenário internacional menos turbulento do que em ciclos anteriores. 

Em vez de consolidar essa base, optou por tensionar as instituições, atacar o Banco Central e flexibilizar as regras fiscais. O resultado? Um ambiente de desconfiança que impede a queda sustentável dos juros.

A política monetária está funcionando, o resto do governo, não

A função da Selic é conter a inflação ao esfriar a economia e controlar as expectativas futuras. E, nesse aspecto, a política monetária tem cumprido seu papel. Mas o Banco Central não atua no vácuo. Sem respaldo fiscal, sem responsabilidade nos gastos e sem coordenação política, o efeito dos juros se torna limitado.

Ao invés de apoiar uma estratégia coordenada de estabilização, o Executivo tem promovido ruído institucional. O novo arcabouço fiscal, apesar de aprovado, não convenceu o mercado. 

As metas foram tratadas como sugestões, e o crescimento das despesas públicas segue fora de controle. Tudo isso alimenta incerteza e, mantém os juros elevados.

O dólar responde a quê: aos juros ou à insegurança política?

Em teoria, uma taxa básica de juros alta atrairia capital estrangeiro e fortaleceria o real. Mas, nos últimos trimestres, o dólar se manteve pressionado mesmo com uma das maiores taxas de juros do mundo.

Esse descolamento revela o essencial: o problema não é mais monetário, é político. A instabilidade gerada por decisões erráticas, declarações hostis ao setor produtivo e o desrespeito às instituições espanta investidores. O capital exige retorno, sim, mas exige também segurança. E é isso que está em falta.

Juros altos custam caro, e quem paga é quem produz

Enquanto o governo insiste em transferir a responsabilidade para o Banco Central, quem sente os efeitos reais dos juros elevados é o Brasil produtivo:

  • Pequenos e médios empresários sem acesso a crédito;
  • Famílias endividadas pagando mais por financiamentos;
  • Empregos que deixam de ser gerados por falta de investimento;
  • Municípios e estados com arrecadação estagnada.

A taxa de juros reflete o risco percebido por quem empresta dinheiro ao governo. E esse risco aumentou porque a gestão federal falhou em manter um plano claro, crível e responsável.

Existe correlação entre Selic, inflação e dólar? Existe, mas não funciona sozinha. A correlação existe, mas é sabotada por dentro. A Selic permanece alta porque o governo não transmite confiança. Enquanto essa confiança não for restaurada, a economia continuará travada e o custo irá recair sobre quem mais precisa de previsibilidade: quem trabalha, empreende e gera valor.

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