Lula e Macron debatem acordo entre Mercosul e UE; francês cita risco para agricultores europeus e presidente brasileiro rebate


Presidente francês deu entrevista exclusiva para a repórter Paola de Orte e falou sobre o acordo entre os dois blocos: ‘Não é, de forma alguma, protecionismo. É justiça, é coerência’. Lula e Macron discutem acordo comercial entre Mercosul e União Europeia
Os presidentes Lula e Emmanuel Macron trataram nesta quinta-feira (5), em Paris, do acordo comercial entre Mercosul e a União Europeia.
A visita começou na Esplanada dos Inválidos, cumprindo o protocolo francês. Depois, o presidente Emmanuel Macron recebeu Lula na sede da presidência. Eles discutiram o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, finalizado em 2024, mas que ainda precisa da aprovação dentro do bloco europeu.
A França tem se mostrado contra, alegando questões ambientais e de defesa da agricultura local. Lula disse que espera fechar o acordo em breve, quando o Brasil assumir a presidência rotativa do Mercosul:
“Eu quero lhe comunicar que não deixarei a presidência do Mercosul sem concluir o acordo com a União Europeia. Portanto, meu caro, abra o seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo com o nosso querido Mercosul. Esta é a melhor resposta que nossas regiões podem dar diante do cenário de incerteza criado pelo retorno do unilateralismo e protecionismo tarifário”.
Macron, que confirmou presença na Conferência do Clima, a COP 30, em Belém, em novembro, concordou que o acordo é estratégico para a Europa neste momento. Mas disse que o texto impõe um risco para os agricultores europeus, que, segundo ele, têm que cumprir uma regulação muito mais rigorosa que os sul-americanos. Ele citou como exemplo o uso de agrotóxicos e a proteção ao meio ambiente. Lula rebateu a crítica. Disse que o Brasil é rigoroso nos compromissos ambientais e na redução do desmatamento.
Na prática, Macron resiste, pressionado pelos agricultores franceses, que temem perder mercado para produtos brasileiros como soja, café e carne – muito mais competitivos. Só em 2024, o custo de produção da carne bovina no Brasil foi menos da metade do custo francês.
Lula e Macron debatem acordo entre Mercosul e UE; francês cita risco para agricultores europeus e presidente brasileiro rebate
Jornal Nacional/ Reprodução
Os diplomatas brasileiros, nos bastidores, relatam que não há expectativa de que a França mude de posição publicamente, mas eles acreditam que pode haver avanços diante da instabilidade do cenário internacional. Além das guerras, os europeus demonstram muita preocupação com os Estados Unidos, um aliado antigo que agora, na gestão de Donald Trump, tem pressionado o continente com tarifaços e a redução da ajuda militar.
Os dois presidentes foram questionados sobre a guerra na Ucrânia. Lula voltou a defender mudanças na ONU e disse que o Brasil sempre atuou pela paz na região. Macron também defendeu o fim da guerra, mas destacou a diferença entre os dois países:
“Há um agressor, a Rússia, e um agredido, a Ucrânia. Todos queremos a paz, mas os dois não podem ser tratados em pé de igualdade”, afirmou o presidente francês.
Depois do encontro, Emmanuel Macron deu uma entrevista exclusiva para a repórter Paola de Orte. Ao ser questionado sobre o acordo entre Mercosul e União Europeia, Macron voltou a dizer que é preciso fazer ajustes no texto, especialmente na área ambiental. Ele defendeu a criação de um protocolo adicional com salvaguardas para a agricultura europeia e disse que, se o Mercosul aceitar a mudança, está disposto a assinar o acordo:
“O que pedimos é que haja cláusulas-espelho para esses agricultores. Isso não é, de forma alguma, protecionismo. É justiça, é coerência. Eu sou a favor de que tenhamos um protocolo adicional que permita ter cláusulas-espelho ou cláusulas de salvaguarda”.
As medidas propostas por Macron adicionam barreiras para proteger os agricultores europeus da competição com o agronegócio brasileiro. As salvaguardas são um mecanismo que permite que os países integrantes suspendam temporariamente as tarifas do acordo se sentirem que a produção doméstica está ameaçada. Já as cláusulas-espelho impõem as regras de produção aplicadas dentro da União Europeia a produtos importados.
Na sequência, o presidente Lula se tornou o segundo brasileiro a receber uma homenagem da Academia Francesa, em uma sessão fechada. O primeiro foi Dom Pedro II, em 1872.
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