Lula recebe título de doutor ‘honoris causa’ em universidade ‘herdeira de Maio de 68’ na França

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta sexta-feira (6) o título de doutor honoris causa da Universidade Paris 8, em Saint-Denis, na França. A homenagem da universidade, herdeira dos protestos estudantis e sindicais de Maio de 68, ocorre durante a primeira viagem de Estado à França de um presidente brasileiro desde 2012.

“Esta universidade nasceu da esperança e da coragem do povo francês, no calor das ruas de 1968. Construiu-se como resposta às exigências de uma juventude que sonhava com um mundo mais igualitário e um ensino mais acessível, crítico e conectado às realidades sociais. Acolheu estudantes de todas as origens como parte central de seu projeto”, lembrou Lula durante o discurso.

O presidente também destacou a educação como elemento central de sua trajetória política e como “a mais poderosa ferramenta para romper o ciclo da fome e da pobreza” e celebrou sua própria origem como um operário metalúrgico que chegou à presidência sem diploma universitário. “Foi preciso que um metalúrgico sem diploma universitário chegasse ao poder pelo voto popular para mudar essa realidade”, afirmou.

Lula reforçou ainda o compromisso de seu governo com a ampliação do acesso à educação, mencionando a criação de novas instituições federais de ensino e a aprovação da lei de cotas durante os governos do Partido dos Trabalhadores. Anunciou ainda a criação da primeira universidade indígena do país, prevista para 2026, elaborada em consulta com os povos originários. “Nos governos do Partido dos Trabalhadores, consolidamos um modelo de ensino mais aberto e inclusivo.”

A cerimônia também foi marcada por referências à luta contra a desigualdade, ao papel das universidades na formação do pensamento crítico e à resistência frente aos ataques da extrema direita ao conhecimento e à diversidade. “A essência da democracia é governar para todos”, disse Lula. “É assegurar participação popular real, com trabalhadores organizados, com juventude crítica e movimentos sociais respeitados.”

Lula aproveitou a ocasião para abordar temas globais, como a regulação da inteligência artificial (IA) e a emergência climática, destacando o papel das universidades na produção de conhecimento comprometido com a transformação social. Ele antecipou que a próxima cúpula do Brics a ser sediada no Brasil, trará uma declaração sobre governança da IA. “As universidades também têm papel decisivo no enfrentamento da crise climática”, afirmou.

O discurso de Lula incluiu ainda posicionamentos políticos sobre conflitos internacionais, como a guerra na Ucrânia e o genocídio do povo palestino em Gaza. “As universidades e o movimento estudantil seguirão como vozes da resistência intelectual aos horrores cometidos em todas as guerras”, declarou. A fala ocorre em meio a críticas de parte do corpo docente da universidade, que contestou a homenagem a Lula por considerarem ambígua sua posição sobre a guerra na Ucrânia.

Apesar das críticas pontuais, a cerimônia foi marcada por aplausos e pelo reconhecimento à política educacional implementada durante os governos petistas.

Ao encerrar o discurso, Lula agradeceu a homenagem e defendeu o fortalecimento dos laços acadêmicos entre Brasil e França. Ressaltou iniciativas como programas de dupla diplomação com universidades brasileiras e o acolhimento de doutorandos indígenas. Citando Paulo Freire, concluiu: “Que sigamos honrando o legado do mestre brasileiro Paulo Freire e colocando a educação como prática da liberdade, o diálogo como método e a crítica como ferramenta de emancipação”.

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