As Bigtechs e o Bolsonarismo de mãos dadas desenhando 2026

O 2º Seminário Nacional de Comunicação do Partido Liberal (PL), realizado em Fortaleza apenas três meses após o 1º — realizado em fevereiro — revelou uma aliança estratégica entre o bolsonarismo e as big techs: Meta, Google, TikTok, X (ex-Twitter) e Kwai. O objetivo é claro: fortalecer a presença digital da extrema direita brasileira nas eleições de 2026.

A atividade de preparação da comunicação do partido de Jair Bolsonaro contou com a participação ativa de executivos dessas plataformas, que apoiaram, organizaram e ministraram workshops e oficinas sobre criação de conteúdo digital, uso de inteligência artificial para produção de vídeos e imagens, e estratégias de engajamento nas redes sociais. Também estiveram no Centro de Eventos do Ceará para apresentar funcionalidades das suas plataformas, como o assistente de IA da Meta e ferramentas do Google, como o Gemini e o Notebook LM, destacando o potencial dessas tecnologias para impulsionar campanhas políticas.

Diante dessa parceria, é prudente lembrar que, poucas semanas antes do 1º Seminário de Comunicação do PL, essas mesmas plataformas não enviaram representantes à audiência pública convocada pela Advocacia-Geral da União (AGU), em janeiro, que discutiu a regulação das plataformas digitais. Isso ocorreu após a Meta — empresa que controla Facebook, Instagram, Threads e WhatsApp — anunciar mudanças nas suas diretrizes de moderação, extinguindo, por exemplo, os serviços de checagem de notícias falsas.

Não é mais necessário convencer que essas empresas não têm qualquer compromisso com o debate democrático ou com o combate à disseminação de desinformação e discurso de ódio nas redes digitais. Mas é fundamental atentarmos para o fato de que são justamente essas corporações que se utilizam da defesa da liberdade de expressão para mascarar o alinhamento do capitalismo de vigilância com projetos políticos específicos ao redor do mundo. Ao oferecer “aulões” sobre o uso da IA para criar imagens, vídeos e narrativas políticas, as big techs não apenas instrumentalizam a tecnologia, mas moldam subjetividades e estratégias de poder.

O que o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han chamaria de “psicopolítica digital” atua aqui com força: as plataformas não apenas observam os comportamentos dos usuários, mas os orientam, mercantilizam e modulam, transformando cada sujeito em um microempreendedor de si mesmo e, no caso da esfera política, em um influenciador ideológico. A promessa de que “qualquer um pode criar conteúdo impactante com IA” desloca a luta política para o plano da performatividade algorítmica, onde quem entende melhor os mecanismos da atenção vence — não necessariamente quem tem os melhores argumentos.

A extrema direita, ao se apropriar da estética patriótica, da IA e das plataformas, não só comunica ideias, mas constrói uma identidade emocional e estética que neutraliza o dissenso, convertendo o debate político em espetáculo e consumo. É a face atual da dominação: sedutora, eficiente e retroalimentada por indivíduos que acreditam estar livres, enquanto obedecem a algoritmos fabricados para convencê-los de que figuras como Nikolas Ferreira e André Fernandes são realmente jovens contra o sistema.

A colaboração orgânica das big techs com o bolsonarismo indica que a corrida de 2026 já começou, com a extrema direita a alguns hectares de terra à frente. Precisamos enxergar além da taxa de aprovação do governo e da capacidade de formar alianças amplas: o que está em jogo é o controle da produção de sentido. Essa aproximação deve levantar sérias preocupações sobre a integridade do processo democrático no Brasil.

Enquanto patinamos no Congresso Nacional com o Projeto de Lei 2630/2020, que visa regulamentar as plataformas digitais no país, a extrema direita continua — e continuará — enviando mensagens no Zap da família, produzindo e viralizando vídeos com o uso da IA para promover sua agenda política, formar e propagandear seus novos quadros e convencer nosso povo de que são eles os verdadeiros defensores da liberdade e da democracia.

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*Gabriella Carvalho é estudante de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará (UFC), integrante da Coordenação Nacional do Levante Popular da Juventude e Diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE).

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. 

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