Equilíbrio no uso da inteligência artificial no dia a dia

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Foto: Freepik

* Artigo escrito por Howard Roatti, especialista em inteligência artificial, professor da Unidade de Computação e Sistemas da Faesa

Imagine uma estrada que começa bem asfaltada, com placas claras e paisagem bonita. À medida que seguimos, ela vai ficando mais estreita, começa a ter buracos e, em algum ponto, percebemos que, se não pararmos para avaliar, podemos acabar longe demais do caminho ideal.

Assim é o uso da inteligência artificial: começa como uma grande ajuda, mas pode se tornar um problema se usada sem medida.

A IA está cada vez mais presente no nosso dia a dia. Ela sugere o melhor trajeto no trânsito da Reta da Penha, ajuda comerciantes da Glória a atender melhor seus clientes pelas redes sociais e até auxilia estudantes a fazerem pesquisas com mais rapidez. Tudo isso facilita a vida, economiza tempo e aumenta a produtividade.

Aplicativos que indicam qual remédio tomar, serviços que montam cardápios personalizados, ferramentas que criam textos, desenhos, vídeos.

A gente nem percebe, mas já acorda e dorme rodeado de decisões automatizadas. E isso, claro, tem seu valor.

Quem nunca usou o GPS para escapar do trânsito da Terceira Ponte ou deixou um robô responder uma dúvida no WhatsApp da empresa?

Howard Roatti, especialista em inteligência artificial, professor da Unidade de Computação e Sistemas da Faesa

Mas quando passamos a depender dela para tudo, desde escrever um simples e-mail até tomar decisões importantes, corremos o risco de deixar de exercitar aquilo que temos de mais valioso: o pensamento, o senso crítico, a criatividade.

O que era ferramenta vira atalho, e, com o tempo, pode nos deixar mais acomodados do que preparados.

Será que estamos ensinando as novas gerações a pensar por conta própria ou a seguir o que o algoritmo manda?

Será que a gente ainda sabe fazer uma lista de supermercado sem ajuda de aplicativo? Quando foi a última vez que você tomou uma decisão sem “dar um Google” antes?

É como usar diferentes aplicativos de navegação: o Waze pode indicar um atalho pelo meio de um bairro mal iluminado, o Google Maps pode sugerir uma rota que ignora obras recentes e o Apple Maps às vezes parece não conhecer tão bem algumas ruas do Centro.

Se você conhece a cidade, confere a rota e escolhe o melhor caminho. Mas se não conhece e só segue o que aparece na tela, pode acabar parado no engarrafamento ou pior, em apuros.

Com a IA é a mesma coisa: ela dá respostas com segurança, mas isso não significa que estão certas. Se a gente não tiver pelo menos uma noção do assunto, corre o risco de ser convencido por algo que não faz sentido, só porque “parece inteligente”.

Usar a IA com equilíbrio é como saber a hora de sair da Praia do Canto para evitar o engarrafamento da volta para casa. Tem hora que vale pegar carona na praticidade, sim.

Mas tem vez que o melhor é confiar no próprio instinto, resolver com calma, conversar olho no olho ou até anotar as ideias num papel mesmo, sem filtro, do nosso jeito.

A tecnologia veio para ficar, mas quem define o rumo somos nós. Não precisamos viver como no passado, mas também não dá para terceirizar tudo para as máquinas. Talvez a maior inteligência, no fim das contas, seja a de saber a hora certa de seguir com elas e a hora de dar uma pausa.

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