Por que a parceria do Rio com a China é estratégica para o futuro do estado?

Escrevo esta coluna da China, onde estou para participar de um curso de imersão cultural que tem tudo a ver com o trabalho político que desenvolvemos no Rio de Janeiro. Muito além de uma viagem de estudo, essa experiência é uma oportunidade de conhecer de perto um país que ocupa papel central na economia mundial, valoriza sua rica tradição cultural e aposta na solidariedade entre nações como caminho de desenvolvimento. E que tem tudo a ver com o Brasil. É neste espírito de troca e aprendizado que viajo, certa de que os próximos dias trarão reflexões importantes para pensar o presente e o futuro do nosso estado.

O Rio de Janeiro, com seu pulsar vibrante e sua história entrelaçada com a formação do Brasil, sempre foi uma metonímia cultural do nosso país e isso tem tudo a ver com a minha viagem à China. Atravessamos uma encruzilhada estratégica na qual o seu enorme potencial de desenvolvimento é emperrado por um ambiente institucional extremamente hostil e violento. Diante de um cenário global em profunda transformação, o estado tem diante de si uma oportunidade: recalcular sua rota institucional e posicionar-se como a principal ponte cultural entre o Brasil e a China. Este não é um mero exercício de diplomacia ou exotismo; é uma necessidade econômica urgente, cujo alicerce deve ser a valorização, difusão e aprofundamento da história, cultura e língua chinesas. Este diálogo cultural robusto é o passaporte indispensável para ampliar e fortalecer substancialmente o interesse da China em investir e exportar suas tecnologias de ponta para o Rio de Janeiro.

Mas você pode me perguntar: Dani, por que o Rio?

É possível ver com facilidade que nos últimos anos quadrilhas sem nenhum projeto para desenvolver e planejar com igualdade social e distribuição de renda dominaram o estado do Rio de Janeiro. No entanto, mesmo com administrações desastrosas e um ativismo jurídico que destruiu as empresas e complexos econômicos do estado, o Rio possui a infraestrutura simbólica e material porque segue como capital cultural do país, sede de universidades de excelência, epicentro de decisões econômicas nacionais no passado e ainda um grande hub logístico. Veja só o Porto do Açu e o Galeão! Nossa visibilidade internacional, ainda que desafiada, permanece significativa. Transformar essa visibilidade em um foco específico na China é crucial.

A história da imigração chinesa no Rio é antiga e significativa. Por exemplo, você sabia que o nome da cidade de Queimados carrega uma marca deste passado? Aquela região era ponto de passagem de trabalhadores chineses trazidos como alternativa à mão de obra escravizada no século XIX, muitos dos quais foram abandonados à própria sorte. Além disso, o Rio de Janeiro foi palco da histórica passagem de Ho Chi Minh, líder da Revolução Vietnamita, que trabalhou como cozinheiro em navios no Porto do Rio, no início do século XX, testemunhando de perto a vida dos imigrantes asiáticos na cidade. Essas camadas históricas demonstram que o Rio já compartilha, há muito tempo, laços quase invisíveis com o Oriente.

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Reconhecendo essa herança, recentemente protocolei um Projeto de Lei na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para instituir o Dia do Imigrante Cantonês no calendário oficial. Também sigo engajada na luta pela aprovação do Dia Estadual da Cultura Chinesa, reforçando o compromisso institucional com o reconhecimento e valorização dessa presença histórica e cultural no estado.

Ao longo da minha trajetória, entendi que negócios duradouros, especialmente os ligados à infraestrutura e à tecnologia, não florescem no vácuo. Eles se constroem com base na confiança, e a confiança nasce da compreensão mútua. É por isso que vejo a cultura como um elemento estratégico para aproximar o Rio de Janeiro da China.

Ignorar a profundidade milenar da civilização chinesa, sua rica história, a longa jornada e a revolução comunista, seus valores filosóficos, sua expressão artística única e o poder da sua língua, é tentar construir uma ponte sobre areia movediça. Empresas e investidores chineses (e, nós, brasileiros também) olham para além dos números; valorizam parceiros que demonstrem respeito genuíno e interesse por sua identidade. Amigos, entender e compreender a China vai muito além dos dados econômicos.

Quando o Rio de Janeiro investe seriamente em ensino de Mandarim – expandindo significativamente a oferta em escolas públicas, universidades e cursos técnicos, garantindo a estrutura necessária para educadores chineses em intercâmbio por aqui, bem como valorizando e apoiando os profissionais de educação brasileiros na China, está dando um recado claríssimo. Assim como o fortalecimento de termos de cooperação em pesquisa e conhecimento entre instituições de ensino brasileiras, chinesas e do sul global. E não só na área da educação. A difusão cultural promovendo festivais de cinema, exposições de arte contemporânea e tradicional, mostras de gastronomia, seminários sobre filosofia e história chinesa, e fomentando intercâmbios artísticos e acadêmicos. Com iniciativas dessa área, o Rio de Janeiro envia um sinal poderoso: “Nós os compreendemos, os respeitamos e queremos ser parceiros de verdade”.

Isso tudo não é mais uma despesa para o Estado, é um investimento estratégico na construção de capital relacional!

Uma vez estabelecida essa ponte de compreensão e respeito mútuo, as portas para o interesse econômico chinês se abrem com muito mais força e segurança. O Rio de Janeiro tem demandas permanentes que se alinham perfeitamente com as forças da China, como a infraestrutura moderna, tecnologias verdes e renováveis, cidades inteligentes e indústria 4.0.

Sem a ponte cultural, no entanto, esses projetos encontram barreiras invisíveis, mas poderosas: desconfiança, incompreensão de processos, dificuldades de comunicação e a sensação de que se trata apenas de uma transação fria, não de uma parceria estratégica. Com a ponte cultural sólida, o Rio se transforma de um mercado potencial em um parceiro preferencial, onde os investidores chineses se sentem verdadeiramente acolhidos e compreendidos.

Em tempos de transformações tão aceleradas, quem constrói pontes chega ao futuro mais rápido. E aí, partiu conhecer a China?

*Dani Monteiro é deputada estadual (Psol/RJ) e presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj.

**Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

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