Pressão por resultados e metas, fiscalização fora do ambiente de trabalho, uso excessivo de plataformas digitais, desvalorização profissional. Essas são algumas das causas que estão adoecendo os profissionais estaduais de educação. Essa é a avaliação dos participantes da audiência pública que ocorreu na Assembleia Legislativa do Paraná.
E, ainda, entre as falas realizadas na Audiência, afirmou-se que o governador Ratinho Junior (PSD) e o secretário de educação Roni Miranda são responsáveis diretos pelo adoecimento dos educadores. Também criticaram o Ministério Público do Paraná (MP-PR), que não acolhe as denúncias feitas por entidades e pela oposição na Assembleia Legislativa.
Convidada, a Secretaria Estadual de Educação não encaminhou representante à audiência.
O deputado estadual Professor Lemos (PT) disse que está ocorrendo um verdadeiro massacre dos educadores. Segundo ele, o governo Ratinho Junior exclui os estudantes que poderiam baixar o IDEB, atacando a educação dos jovens e adultos, o ensino noturno, a educação no campo, e fazendo mudanças na matriz curricular. Tirando disciplinas que são fundamentais para os estudantes como filosofia, sociologia e artes.
“Os professores estão se sentindo vigiados fisicamente, mas também pelas redes sociais. Estão usando as plataformas e redes para vigiar e punir. E essa pressão tem levado ao adoecimento e a morte”, denuncia o professor Lemos.
O deputado recordou que a bancada de Oposição tem levado as denúncias ao Ministério Público do Paraná, mas sem ter tido apoio. “Eles arquivam, mesmo tendo condições de investigar. E não foi apenas uma, mas várias denúncias”, denuncia o deputado.

A presidente da APP Sindicato, Walkíria Olegário Mazeto, concordou que o adoecimento da categoria não é por acaso. Segundo ela, “é intencional e organizado. O sindicato tem denunciado esse modelo educacional há anos. Apresentamos uma pesquisa mostrando que a qualidade do ensino piorou e a SEED recusou nossa análise”, alertou.
Ela também apresentou dados de adoecimento da categoria e mostrou que é resultado de uma política que enxerga a educação de forma privatizada e instrumentalista. “O ex-secretário Renato Feder implementou esse modelo no estado, compilou e vendeu essa fórmula para outros estados e municípios”, enfatiza Walkiria, dizendo que a educação virou mercadoria e demonstrando que os afastamentos aumentam a partir do segundo semestre.
Assembleia da categoria realizada no último sábado (6) aprovou o fim do uso das plataformas digitais, das metas e cobranças, o fim dos tutores e embaixadores, que cobram as metas, contratação de trabalhadores e fim da punição após apresentação de atestados médicos.
Governador e secretário de educação devem ser responsabilizados
O deputado federal Tadeu Veneri (PT) disse que o “governador Ratinho Junior e o secretário de educação Roni Miranda são diretamente responsáveis pelas mortes que acontecem nas escolas. Isso não acontece por acidente. É proposital para precarizar a educação do Paraná. As plataformas não são para educar, mas para substituir professores”, analisou.
Veneri fez coro também contra a omissão do Ministério Público do Paraná. Para ele, o judiciário não está cumprindo com o seu papel em diversas áreas. Ele ainda criticou a ausência do líder do governo e presidente da Comissão de Educação da Alep, Hussein Bakri (PSD), que foi convidado a participar da audiência pública e não compareceu.
Proponente da audiência pública, o deputado estadual Goura Nataraj (PFT) disse que “nós estamos vendo uma epidemia de adoecimento na educação, das nossas professoras e dos nossos professores. Quando convocamos essa audiência, ninguém imaginaria o fato que ocorreu na semana passada”, afirmou ao se referir a morte da professora Silvaneide Monteiro de Andrade.
Além dela, a professora Rosane Maria Bobato faleceu na tarde de quinta-feira (5) enquanto trabalhava no Colégio Estadual Santa Gemma Galgani, em Curitiba. A docente passou mal durante o expediente, chegou a ser acolhida na coordenação da escola, mas não resistiu e morreu no local.
A deputada estadual Luciana Rafagnin (PT-PR) abordou a gravidade dos casos no Paraná, com o falecimento de duas professoras. Ela comentou que as denúncias chegam diariamente.
“Existe uma realidade dos professores e servidores muito ruim. Esse modelo está adoecendo a todos, principalmente como efeito dessa cobrança de metas. O governador precisa compreender que esse não é o melhor para o Paraná. Ainda mais que dados mostram que esse modelo não tem trazido bons resultados para o estado”, sublinhou.
Já o deputado estadual Requião Filho (sem partido) criticou a postura dos governos com relação aos trabalhadores da educação. “Há uma desconstrução do serviço público. A sociedade está contra o estado e as instituições e isso tem sido alimentado pela extrema-direita”, comentou.
Pesquisa mostra burnout entre professores

O evento reuniu pesquisadores, sindicatos, profissionais da educação e representantes de órgãos públicos, com o objetivo de expor dados, relatos e propor medidas concretas contra a precarização da carreira docente.
O professor Everton Marcos Grison, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre Ensino e Filosofia (NESEF-UFPR) apresentou uma pesquisa sobre as condições de trabalho dos docentes do Paraná. O diagnóstico é de uma classe desgastada e pressionada. Segundo ele, 76,8% dizem trabalhar com desconforto e cansaço físico e mental. Os principais motivos para isso seriam pressão por resultados e metas, indisciplina e conflitos com estudantes e fiscalização das atividades fora do horário de trabalho. A classe ainda diz que sofre com ansiedade, desânimo e sono intranquilo, sintomas claros de burnout.
Com relação ao uso das plataformas digitais implementadas pela Secretaria de Educação, 1988 pesquisados disseram que se sentem sobrecarregados, 1232 insatisfeitos e 1159 esgotados.
“Este é um diagnóstico. Há uma cultura de desgaste no interior da escola que está sim interferindo no sentido da vida dos docentes e no seu trabalho. É necessário uma mudança profunda desse modelo. Ainda lamento que representantes da SEED na audiência pública. A ausência diz muito”, comenta o pesquisador.
A professora e dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores/as da Educação (CNTE), Marlei Fernandes, trouxe dados nacionais sobre o adoecimento de profissionais da educação. Principalmente com o aumento do uso de plataformas digitais e a “não desconexão”. “Notamos que os governos não têm implementado as leis de proteção aos profissionais”.
::. CONFIRA COMO FOI A AUDIÊNCIA PÚBLICA

Em assembleia, categoria decidiu boicotar plataforma digital. Foto: Leandro Taques
Projeto de lei que combate assédio moral no serviço público
A deputada estadual Ana Júlia Ribeiro (PT) protocolou na Assembleia Legislativa do Paraná o Projeto de Lei nº 397/2025, que estabelece princípios e diretrizes para a abordagem a servidores públicos no âmbito da administração estadual. O objetivo é combater práticas de assédio moral, coação, cobranças abusivas e desrespeito no ambiente de trabalho.
De acordo com o texto do projeto, o Estado do Paraná deverá assegurar que toda abordagem por parte de autoridades a servidores seja pautada pela dignidade da pessoa humana, urbanidade, respeito, clareza, objetividade, profissionalismo e fundamentação legal. A proposta também proíbe práticas como exposição vexatória, cobrança pública de desempenho individual e abordagens informais que possam configurar assédio moral.