O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) tomou o canteiro de obras do Minhocão, como é conhecido o viaduto elevado presidente João Goulart, no centro de São Paulo (SP), na manhã desta sexta-feira (13). O protesto acontece nas obras do chamado “jardim de chuva”, anunciado pela prefeitura de Ricardo Nunes (MDB) como parte de um plano de “requalificação” da região central da capital paulista.
“Não é revitalização, é higienização” e “Jardim do Nunes: florido por cima, desumano por baixo” estampavam faixas do protesto dos sem-teto. “Só não vê quem fecha os olhos; ele [Nunes] e o governador Tarcísio estão varrendo os pobres das regiões que interessam à especulação imobiliária”, ressalta Ana Paula Perles, da coordenação nacional do MTST.
Os funcionários faziam um buraco no canteiro central da avenida Amaral Gurgel para a instalação do jardim quando foram surpreendidos pelo ato. Com os braços cruzados ao lado dos caminhões da obra, observaram o protesto, que durou cerca de duas horas.
“O MTST ocupou o canteiro de obras do ‘jardim de chuva’ que a prefeitura está fazendo para denunciar o processo intenso e violento que Tarcísio e Ricardo Nunes, de mãos dadas, vêm promovendo de expulsão das pessoas, sem alternativa habitacional digna”, explica Beatriz Nowicki, coordenadora estadual do MTST. “O problema gera uma fábrica de sem-tetos e expulsa as pessoas para cada vez mais para longe do centro, em nome da especulação imobiliária”, completa.
“Para nós, a prefeitura vem fazendo um balcão de negócios com a cidade, com privatização e expulsão das pessoas das áreas centrais e com muita truculência”, avalia Nowicki.
A manifestação acontece no dia em que completa um mês desde que o fluxo da Cracolândia, local onde usuários e redutores de danos se juntavam na rua dos Gusmões, foi esvaziado após ações repressivas da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Desde então, pessoas em situação de rua estão pulverizadas pelo centro e denunciam a intensificação da violência de Estado. É neste contexto que uma massa de ar polar faz a capital paulista atingir o recorde de baixa temperatura no ano.
Estacionamento e jardim no Minhocão
A obra alvo de protesto dos sem-teto começou no último sábado (7), como uma reação da gestão Nunes às críticas feitas ao bolsão de vagas para estacionamento sob o viaduto. A ideia de colocar carros no local usado por pessoas em situação de rua para se abrigar do frio e da chuva foi do vice-prefeito, o ex-comandante da Rota, coronel Mello Araújo.
Depois da má repercussão do estacionamento, a prefeitura começou o que chama de “segunda fase de requalificação” ao longo de quatro quarteirões da rua Amaral Gurgel, embaixo do elevado. Além do “jardim de chuva”, o plano é fazer um bolsão para taxistas e um ponto de aluguel de bicicletas.
Segundo a administração municipal, os bolsões para carros e os jardins de chuva – instalações embaixo do viaduto com reservatórios subterrâneos que armazenam água pluvial – vão coexistir.
Procurada pelo Brasil de Fato, a gestão Nunes afirmou que “a revitalização de espaços públicos é um ato contínuo da administração e que a requalificação daquela área é uma demanda da população”.
“A gestão reitera que tem ampliado as ciclovias na cidade e a que está localizada sob o Minhocão será mantida. Sobre a questão dos moradores de rua, a Prefeitura reitera que tem a maior rede socioassistencial do país, com 29 mil vagas para pessoas em situação de rua”, diz a nota da prefeitura.
O urbanista e vereador Nabil Bonduki (PT) esteve no canteiro de obras na última quinta-feira (12) e, em sua rede social, afirma que o jardim “não corresponde ao que vem sendo propagandeado”.
“A começar pelo fato de que a chuva não cai ali, em um local coberto pela estrutura do elevado. Nem há incidência de sol adequada para o desenvolvimento da vegetação”, avalia Bonduki.
“Trata-se de um canteiro que vai receber a água drenada lá de cima do Minhocão. Esse sistema de drenagem precisa ser muito bem feito para dar conta da grande quantidade de água nas chuvas fortes para não gerar inundações na Amaral Gurgel”, alerta o urbanista, que diz ter falado com os funcionários da obra. “A situação está tão mal planejada que os trabalhadores não têm um exato conhecimento sobre o projeto”, alega.
“A falta de planejamento e a improvisação”, conclui Bonduki, “sugerem que o objetivo principal continua sendo simplesmente desalojar a população em situação de rua com mais uma obra de arquitetura hostil, o que é proibido pela Lei Padre Júlio Lancellotti”.
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