Como uma eventual prisão de Bolsonaro afetará as eleições de 2026? Analistas respondem

De acordo com a previsão de juristas, o julgamento que acontece no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a tentativa de golpe de Estado poderá ser concluído em outubro, se tudo correr de forma célere. Uma possível prisão de Jair Bolsonaro (PL) ainda em 2025 vem fazendo as forças políticas calcularem os possíveis efeitos da retirada de cena do ex-presidente, que está inelegível mas segue sendo o principal nome do campo da extrema direita no país.

Analistas políticos, no entanto, recomendam cautela. “Trata-se de um processo que está correndo e que tem seu rito próprio, então não interessa quando vai ser a eleição, do ponto de vista jurídico”, alerta a cientista política do INCT/SANI/CNPq, Carolina Botelho. “É óbvio que os atores e os agentes dos partidos estão fazendo cálculos, a função deles é essa e eles precisam fazer esse cálculo. Agora, eu não sei se a sociedade em si precisa ter essa essa preocupação. Eu acho que o rito judicial tem um processo que é dele, e vai ter que passar por ele. E a gente vai ter que esperar”, completa.

Por outro lado, o cientista político Cláudio Couto destaca o potencial de mobilização das bases da extrema direita diante de uma eventual prisão do ex-presidente. “É claro que se você tem uma decisão como essa de produzir a prisão da principal liderança desse campo, vai ter gente que vai ficar indignada e vai protestar e vai se mobilizar de alguma maneira”, avalia Couto, agregando que, nos últimos anos, a esquerda tem perdido espaço para a direita na capacidade de mobilização.

“A gente vê que essa base social da extrema direita está muito mais mobilizada do que a base da esquerda, mesmo quando a gente compara com o que foi o efeito da prisão do Lula. Claro que no dia da prisão, teve aquele imenso ato lá no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e tudo mais, e depois você teve o acampamento que ficou meses na frente da Polícia Federal em Curitiba. Agora, quando você pensa de forma mais ampla, não teve tanta mobilização assim”, analisa o pesquisador.

“Se a gente está falando de gente que ficou acampada na frente de quartéis durante mais de mês, não seria de se estranhar que essas pessoas, por exemplo, resolvessem fazer um acampamento ao estilo Acampamento Lula Livre na versão Bolsonaro. Acho que isso pode acontecer. Disposição para isso eu acho que essas pessoas têm”, ressalta Couto.

Já Carolina Botelho tem uma opinião mais ponderada a respeito. “Ele [Bolsonaro] indo para a prisão, vai culminar numa grande mobilização nacional? Isso aí eu não tenho como responder. Ele tem capacidade de aglutinar essas pessoas, como ele já aglutinou outras pessoas, em outros momentos. Mas também não tem como prever isso. Eu sei que ele tem menos recursos, mas ele ainda tem apoiadores, e apoiadores da classe política também. Mas nem todo mundo hoje estaria disposto a colocar sua cabeça à prova para fazer com que o Bolsonaro vire um herói que está sendo preso”, avalia a cientista política.

Por outro lado, os especialistas avaliam que se a prisão de Bolsonaro ocorrer ainda em 2025 – fora, portanto, do contexto eleitoral – os candidatos a herdeiros políticos do capitão terão como principal bandeira a liberdade de seu líder. “Todo mundo que supostamente possa vir como presidenciável, terá essa pauta como uma das principais. Isso já está acontecendo”, ressalta Botelho.

Já Couto pondera que, para além de seus representantes, a direita se consolidou como força política no Brasil, e a vitória da esquerda nas próximas eleições também dependerá de como o atual governo chegará em 2026. “Eu acho que o governo chega no ano que vem num cenário muito desfavorável, do ponto de vista da disputa eleitoral. E aí, claro, abre espaço para candidaturas à direita, seja da extrema direita, que eu acho que é mais mobilizada, tem um núcleo mais forte de apoio na sociedade, seja alguma direita mais convencional”, afirmou.

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