Tiroteios em operações policiais mataram 352 jovens no RJ no governo Castro; entenda

Dados divulgados recentemente pelo Instituto Fogo Cruzado mostram um aumento considerável nos tiroteios em disputas de grupos armados na região metropolitana do Rio de Janeiro. O resultado recorde aponta 34 confrontos diretos entre facções e/ou milícias em apenas quatro semanas.

Somente no mês de maio, pelo menos 19 pessoas foram baleadas, dez morreram e nove ficaram feridas nessas ocorrências. O número é três vezes maior que a média mensal dos últimos nove anos, que era de dez casos.

Outra tendência preocupante diz respeito ao número de tiroteios que ocorreram durante ações policiais. O Instituto aponta que houve um aumento desse tipo de operação desde o início da gestão de Cláudio Castro (PL), com a morte de mais de 352 jovens.

Segundo o relatório mais recente, de janeiro a maio de 2025, foram 1.011 tiroteios na região, sendo que mais de 440 ocorreram durante ações da polícia. Comparado ao mesmo período de 2024, houve um aumento de 20% nesse tipo de ocorrência, com consequente crescimento de 7% no número de mortos e 21% no número de feridos por arma de fogo no período.

Essa dinâmica é interpretada pela organização como um sinal de que, “mesmo com menos tiroteios no geral, as operações policiais estão se tornando mais letais e representando uma parcela maior da violência armada”.

O Brasil de Fato conversou com o coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado Carlos Nhanga sobre os dados e a conjuntura que leva a região a esse cenário. Segundo ele, a situação é consequência de uma política que tem foco no confronto e não soluciona as questões estruturais do território.

“Hoje, 20% do território metropolitano está sob controle de facções e milícias. Isso não aconteceu por acaso. As operações policiais tradicionais, centradas no confronto, não apenas falharam em conter essa expansão como frequentemente a alimentam.”

O relatório mostra detalhes sobre a concentração territorial dos conflitos que reafirmam características da violência na região. Dos 34 registros, 19 ocorreram no Morro dos Macacos, considerado o epicentro das disputas da região. O resultado representa 56% do total.

Apesar do recorde nas disputas territoriais, o número de tiroteios e vítimas na região metropolitana do Rio de Janeiro apresentou queda em comparação ao ano anterior. Foram registrados 177 tiroteios/disparos de arma de fogo, uma redução de 30% em relação aos 254 mapeados em maio de 2024.

O total de pessoas baleadas também diminuiu, com 106 vítimas, 57 mortes e 49 pessoas feridas. Isso representa queda de 20% nos mortos e 28% nos feridos frente a 139 vítimas registradas no mesmo período do ano passado.

O Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do estado e pediu um posicionamento sobre os dados. Em nota, a pasta respondeu que desconhece a metodologia utilizada no levantamento.

No texto, o órgão ressaltou ainda que, “de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), somente entre janeiro e abril deste ano, foram retiradas das ruas 2.185 armas de fogo, um aumento de 7,3% em relação ao mesmo período de 2024, incluindo 263 fuzis, o que representa um crescimento de 10%.”

Leia a íntegra da entrevista com Carlos Nhanga a seguir:

Brasil de Fato: Os dados de maio de 2025 mostram que o número de tiroteios envolvendo disputas entre grupos armados na região metropolitana do Rio de Janeiro bateu um recorde, sendo três vezes maior que a média dos últimos nove anos. Como o Instituto Fogo Cruzado analisa o papel da política de segurança pública atual na origem e perpetuação desse cenário de colapso, e a que objetivos (ou falta deles) atribui esse resultado alarmante?

Carlos Nhanga: O recorde de tiroteios em disputas não é um fenômeno isolado, mas o resultado previsível de três décadas de políticas de segurança estruturalmente equivocadas.

Hoje, 20% do território metropolitano está sob controle de facções ou milícias. Isso não aconteceu por acaso. As operações policiais tradicionais, centradas no confronto, não apenas falharam em conter essa expansão como frequentemente a alimentam. Os dados mostram um aumento de 300% nos tiroteios de disputas territoriais em 2024 comparado com 2017.

Qual o objetivo real dessas políticas? Essa é a questão. O recorde de maio revela que continuamos sem uma política de segurança com objetivos claros de redução da violência. Até que o Estado priorize investigação, inteligência e desarticulação das redes econômicas do crime – em vez de operações sem planejamento – seguiremos batendo recordes trágicos como este.

Apesar de uma queda no número total de tiroteios em maio de 2025 em comparação com maio de 2024 na região metropolitana do Rio de Janeiro, os dados acumulados para 2025 (janeiro a maio) revelam um aumento de 20% nos tiroteios durante ações e operações policiais, resultando em um crescimento de 7% no número de mortos e 21% no número de feridos baleados. Como o Fogo Cruzado interpreta essa dinâmica, em que as ações policiais parecem estar vinculadas a um aumento nas vítimas ao longo do ano?

Esses dados confirmam exatamente o que vimos em 2024: mesmo com menos tiroteios no geral, as operações policiais estão se tornando mais letais e representando uma parcela maior da violência armada.

É uma tendência preocupante que revela dois problemas centrais: primeiro, a persistência de operações mal planejadas, sem inteligência prévia; segundo, o abandono das diretrizes da ADPF 635, que comprovadamente reduz a letalidade quando respeitada.

Veja os números históricos: em 2019, 28% dos tiroteios tiveram participação policial. Em 2023, esse percentual subiu para 34%. Em 2024, batemos o recorde da nossa série histórica com 36%. Agora, em 2025, continuamos nessa escalada. Essa dinâmica prova que não basta reduzir o número total de tiroteios se você aumenta a letalidade das ações estatais. É uma conta que não fecha

Que políticas públicas específicas seriam prioritárias para construir e implementar uma estratégia de longo prazo para mudar o cenário? Quais são os principais desafios para que essas políticas sejam efetivamente adotadas e financiadas pelas autoridades?

As políticas prioritárias precisam se basear em evidências. O passo inicial seria implementar investigação sistemática das movimentações financeiras dos grupos criminosos. Nenhuma facção ou milícia sobrevive sem recursos econômicos, mas seguimos atacando apenas os do final da cadeia.

Outra prioridade seria um combate efetivo à corrupção e às conexões entre crime organizado e agentes públicos. As milícias não param de crescer e isso não seria possível sem alto nível de conivência institucional.

Fortalecer a investigação de homicídios também deveria constar como prioridade. O Rio soluciona apenas 25% dos casos – uma das piores taxas do país. Como vamos desarticular estruturas criminosas se não investigamos nem os crimes mais básicos?

Por fim, é fundamental concluir a implementação de câmeras corporais, garantir o controle externo das polícias pelo Ministério Público e o básico: ter um plano de segurança com metas e indicadores.

Mas o grande desafio não é técnico, é político. Há interesses consolidados nesse modelo de confronto constante. Políticos que se elegem vendendo medo e setores que lucram com a insegurança

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