Atividade econômica, gastos em alta, guerra tarifária e tensões no Oriente Médio: veja porquê o BC subiu juro e impacto nas aplicações


De acordo com economistas, o novo aumento da taxa de juros básica da economia brasileira favorece as aplicações em renda fixa. O dólar, por sua vez, pode mostrar queda pontual. Sede do Banco Central em Brasília
REUTERS/Adriano Machado
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central surpreendeu a maior parte do mercado financeiro nesta quarta-feira (18) ao subir a taxa básica de juros da economia de 14,75% para 15% ao ano. Esse é o maior patamar em 20 anos.
A instituição indicou, ainda, que o juro seguirá alto por um “período bastante prolongado” de tempo.
A aposta da maior parcela dos analistas era de que o BC fosse interromper o ciclo de alta da Selic, que vem desde setembro do ano passado, mas a instituição optou por elevar a taxa pela sexta vez seguida.
Com a decisão, o chamado juro real brasileiro, isto é, aquele que desconta a inflação prevista para os próximos doze meses (usado na comparação internacional) subiu e ficou em segundo lugar no ranking mundial, calculado pelo MoneYou.
O BC adotou uma postura conservadora para tentar atingir a meta de inflação — que é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo (podendo oscilar entre 1,5% e 4,5%). Ao fixar o juro, o BC olha para as projeções de inflação para os próximos 18 meses.
Copom decidiu elevar a taxa de juros para 15% ao ano
O que diz o Copom
De acordo com a instituição, a decisão do BC é reflexo da atividade econômica ainda aquecida, embora mostre desaceleração, motivada entre outros fatores pela alta dos gastos públicos.
Também é consequência da guerra tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, além do conflito no Oriente Médio — que pressiona o preço do petróleo para cima e pode afetar a inflação brasileira.
🔎Veja os recados do BC abaixo:
“Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado algum dinamismo, mas observa-se certa moderação no crescimento. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação”, diz o Banco Central.
“O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal [para as contas públicas] impactam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, acrescenta a instituição.
“O ambiente externo mantém-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos. Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica”, diz o Banco Central.
Opinião de economistas
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, citou a persistência inflacionária e a instabilidade externa como fatores para alta dos juros.
“A elevação da Selic para 15% ao ano pelo Copom sinaliza uma resposta firme ao quadro de inflação resiliente e instabilidade externa, especialmente diante das pressões vindas do câmbio e dos preços de combustíveis. A decisão, embora mais agressiva do que parte do mercado projetava, busca preservar a credibilidade da política monetária [de juros] e ancorar as expectativas inflacionárias em meio a um ambiente global mais volátil”, avaliou Carlos Braga, o Grupo Studio.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do banco Inter, citou as preocupações do Banco Central sobre os gastos públicos em alta, e seu impacto na economia. O BC tem citado a necessidade de desacelerar a economia para ter uma política de juros menos agressiva.
“O Copom menciona os sinais de moderação do crescimento da economia por um lado, mas também ressalta as incertezas na condução da política fiscal [alta de despesas], com pressões no mercado de trabalho e projeções de inflação ainda elevadas”, afirmou Rafaela Vitoria, do banco Inter.
Fabricio Echeverria, fundador e CEO da Oby Capital, falou sobre o peso do cenário externo na decisão do Copom.
“O cenário externo também contribuiu para a decisão, com o Copom apontando elevada incerteza global decorrente da política fiscal e comercial dos Estados Unidos, choques sobre o comércio internacional e tensões geopolíticas. Esses fatores têm gerado volatilidade nos preços de ativos e afetado as condições financeiras globais, especialmente em países emergentes”, acrescentou Fabricio Echeverria, fundador e CEO da Oby Capital.
Aplicações financeiras
De acordo com economistas, o novo aumento do juro básico da economia favorece as aplicações em renda fixa, na comparação com o mercado acionário. O dólar, por sua vez, pode mostrar queda pontual.
“O aumento tende a gerar um ajuste imediato na curva de juros, com alongamento das taxas longas, e pode provocar uma valorização pontual do real frente ao dólar, dependendo da comunicação do Banco Central. Para os próximos meses, o foco do mercado será monitorar os desdobramentos das contas públicas e o impacto desse movimento nas expectativas de inflação, que ainda seguem desancoradas”, Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.
Com a decisão do BC, segundo Paulo Henrique Oliveira, analista de investimentos de renda fixa da Daycoval Corretora, a renda fixa continua trazendo boas oportunidades.
“CDBs de bancos sólidos, com liquidez diária e rendimento a partir de 100% do CDI, além do tesouro Selic, seguem rendendo mais de 1% ao mês. Essas são alternativas eficientes para a alocação da reserva de emergência ou para os recursos com uso no curto prazo. Já para prazos intermediários, os títulos públicos pré-fixados ainda oferecem taxas bastante elevadas. Pode ser um bom momento para garantir a rentabilidade atrativa, logo na entrada de investimento”, avaliou Paulo Henrique Oliveira, da Daycoval Corretora.
“E, pensando no longo prazo, o Tesouro IPCA mais segue competitivo, com retorno real acima de 7% ao ano junto com proteção contra a inflação. Em resumo, o cenário segue favorável para quem busca previsibilidade de longo prazo, solidez e bons retornos na renda fixa”, acrescentou o analista da Daycoval.
Ricardo Serone, Diretor Financeiro e de Investimentos da BB Previdência, também mencionou o bom retorno das aplicações em renda fixa.
“A partir da próxima ata do Copom será possível ter uma direção mais clara dos próximos passos e como poderão influenciar em mudanças nas alocações dos ativos. De qualquer maneira, as carteiras dos planos estão bem posicionadas para se beneficiar das taxas de curto prazo e principalmente de longo prazo, com a aquisição de títulos de vários vencimentos e taxas acima de 7% ao ano de ganho real”, disse Ricardo Serone, da BB Previdência.
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