Por Urariano Mota*
Os limites entre ficção e realidade continuam a ser rompidos. Se vivêssemos em outro planeta, eu convidaria o leitor para dizer o que é real e o que é fictício nos réus fascistas que estão sendo julgados no STF. Mas acompanhem ainda assim, porque a notícia não para de se reinventar.
A investigação da Polícia Federal descobriu que as cinco pessoas presas (quatro militares e um policial federal) confabulavam por aplicativo de mensagens, em 2022, para matar o presidente eleito Lula, o seu vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Todos seriam assassinados no mesmo dia, juntos ou em diferentes oportunidades, como era feito na ditadura militar.
Lula seria morto com “utilização de envenenamento ou uso de [produtos] químicos”, visando causar um colapso orgânico. Eles consideraram a suposta vulnerabilidade de saúde do presidente da República e ida frequente a hospitais. No caso de Moraes seria usado artefato explosivo.
Até aí nada é ficção, considerando que os relatos têm provas e testemunhas. Mas a esta altura cabe esclarecer que o conceito mais obscuro que se vê na mídia dominante e nas falas de autoridades e políticos profissionais: eles confundem ficção com mentira. Para eles, relatos mentirosos são fictícios. Meu deus poderoso dos enganos, que erro colossal.
Para não entrar em discussão filosófica, digna de Lukács e Gramsci, para não subir tão alto, somente peço a lembrança de Primo Levi e Balzac. O que eles têm de mentirosos, de fantasiosos e absurdos? Por sinal, pesquisando para este artigo, vi agora que meus romances Soledad no Recife e A mais longa duração da juventude estão na Amazon na categoria de “biografias” e “casos verdadeiros”. Acho que chegaram perto.
Mas agora vamos ao lugar onde se confundem, unidas, a realidade e a ficção. O general Mário Fernandes gritou e discutiu com os seus iguais sobre a necessidade de uma postura feroz, de guerra, “como em 64”, chamando-os para um golpe militar como o que instaurou a ditadura no Brasil de 1964 a 1985. A continuidade do plano seria uma matança geral à lá Pinochet no Chile: o morticínio de militantes socialistas do Brasil.
Isso quer dizer, para continuar na “ficção”, que houve a possibilidade clara de guerra civil, que poderia ser desencadeada com Lula morto. O povo brasileiro, os patriotas iriam aceitar a consumação de assassinatos bárbaros?
Em “Assassinos fascistas”, texto publicado por mim há mais de dois anos, escrevi numa ficção a voz de um fascista: “Essa conversa de fêmea, de feminicídio, é só ‘mimimi’. Mulher não respeita mais homem, ofende nossa honra, e depois… né? São esses comunistas que invadiram tudo, escola, faculdade, direitos humanos… Direito humano é pra quem é humano. Pra comunista, não. Eles são contra a família. Só vai matando!”. E vinham outras barbaridades indignas até de um vômito, essa náusea humana.
Em resumo: a luta contra o fascismo é permanente. Que as ficções das ruas e do poder real não nos deixam mentir. Além da literatura, escrevo agora: cadeia para Bolsonaro e o resto do bando fascista.
*Urariano Mota é escritor e jornalista. Autor dos romances O filho renegado de Deus, Soledad no Recife e A mais longa duração da juventude.
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