
Com menos de 25 mil habitantes, Santa Teresa, na região serrana do Espírito Santo, vem ganhando destaque nacional por suas ações de preservação ambiental. Além de ser sede do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), a cidade é considerada uma das maiores áreas de biodiversidade do planeta e integra o ranking das cinco cidades brasileiras com mais registros de plantas, animais e fungos no Desafio Mundial da Natureza Urbana, promovido pela plataforma iNaturalist. E é no meio dessa biodiversidade que um exemplo concreto de recuperação ambiental se tornou referência para o estado.
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Fazenda já recuperou seis nascentes da Bacia do Rio Bonito, que abastece parte da Grande Vitória
Na comunidade de Aparecidinha, a Fazenda Angelita, do produtor rural Gilson Mansur, já contabiliza mais de 30 mil árvores nativas plantadas e a reativação de seis nascentes da Bacia do Rio Bonito, afluente do Rio Santa Maria da Vitória, um dos principais responsáveis pelo abastecimento hídrico da Grande Vitória.
“Quando eu comprei essa propriedade e vi no cartório que era a cabeceira do Rio Bonito, perguntei ao tabelião por que esse nome, já que não havia água. Ele me respondeu que era porque a nascente estava ali, mas estava degradada. Foi aí que entendi que aquilo era uma missão”, lembra Gilson.
A paisagem, que há anos sofria com erosão e improdutividade agrícola, foi transformada por meio do reflorestamento e da construção de cinco represas, responsáveis pela recarga das nascentes. Gilson substituiu um antigo cafezal por espécies nativas da Mata Atlântica, como jatobá, pitanga, ipê-rosa e araçá, e eliminou até mesmo uma estrada para favorecer a regeneração da mata.
“Hoje, a mata plantada já chega à altura da vegetação original. E o mais importante: as futuras gerações vão entender o valor da água, porque ela é a vida”, reflete.
Desde que o projeto recebeu apoio da promotora de Justiça Vera Lúcia Murta, cerca de dois mil estudantes, desde escolas da região até universidades e o IFES, já passaram pela fazenda, participando de oficinas, plantios e seminários.
“Nós trazemos alunos de todas as escolas, inclusive das faculdades da região, e eles participam de seminários, oficinas, atividades práticas. É uma forma de mostrar na prática a importância da conservação e da sustentabilidade”, destaca Vera.
Segundo Vera, a vivência no campo é essencial para transformar a relação dos jovens com o meio ambiente. “A água, hoje, a gente sabe, é finita. E isso sendo mostrado para eles de forma educativa é uma forma que a gente tem de contribuir com o desenvolvimento do próprio ecossistema”.
A iniciativa inspirou o surgimento do projeto Caçadores de Água, que distribui camisetas criadas por um artista local e busca formar defensores ambientais desde a juventude.
O trabalho da Fazenda Angelita tem servido de inspiração para outros produtores e lideranças da região. “A gente vê o impacto na comunidade e em toda a região. É uma inspiração que precisa ser replicada”, reforça o secretário de Meio Ambiente de Santa Teresa, Fabrício Fardin.
Modelo de preservação no Espírito Santo
Segundo o Observatório da Restauração e Reflorestamento (ORR), o Espírito Santo é o terceiro estado que mais recuperou áreas da Mata Atlântica entre 2021 e 2024, com 27,5 mil hectares restaurados. A cidade de Santa Teresa contribui diretamente com esses avanços, apoiada por iniciativas como o Programa Reflorestar, do Governo do Estado, que já destinou mais de R$ 50 milhões à recuperação florestal nos últimos anos.
“Temos aqui a Reserva Biológica Augusto Ruschi, sob gestão do ICMBio, que abriga uma das maiores biodiversidades do planeta. Santa Teresa não é só um refúgio natural — é um exemplo vivo de que a conservação é possível e necessária”, ressalta Fardin.