Quase oito mil pessoas estão desabrigadas ou desalojadas no Rio Grande do Sul devido às chuvas intensas que atingem o estado, segundo boletim da Defesa Civil divulgado neste sábado (21). Das 497 cidades gaúchas, 121 registraram algum tipo de impacto, 18 decretaram situação de emergência e o município de Jaguari, estado de calamidade pública. Foram registradas três mortes e uma pessoa está desaparecida.
De acordo com a Defesa Civil, 1.914 pessoas estão em abrigos e 6.058 desalojadas. Até o momento, 731 pessoas e 137 animais foram resgatados.
Segundo boletim recente da MetSul Meteorologia, um novo episódio de chuva forte, com risco de temporais, deve atingir o Sul do Brasil entre este fim de semana e a segunda-feira (23). A instabilidade, desta vez, afetará os três estados da região, ao contrário da chuva dos últimos dias, que se concentrou principalmente no Rio Grande do Sul.

Para o RS, a previsão indica que a frente fria trará chuva já no início da segunda-feira, especialmente na metade norte do estado. No entanto, o tempo deve melhorar ao longo do dia, com sol entre nuvens e ventos fortes e gelados.
“Uma vez que a instabilidade, no momento inicial, será efeito do avanço de ar quente sobre ar frio e, em um segundo momento, de ar polar avançando com ar quente em altitude à frente, a MetSul Meteorologia alerta para o risco de temporais isolados no Sul do Brasil neste fim de semana e na segunda-feira.”
A MetSul projeta volumes de chuva entre 50 mm e 100 mm nas nascentes dos rios Taquari e Caí, entre a Serra e os Campos de Cima da Serra, o que deve provocar nova elevação no nível dos dois rios. Porém, não se espera um grande repique de cheia. Também deve chover nas nascentes do rio Jacuí, próximo a Passo Fundo, mas sem impacto significativo na cheia atual – apenas prolongando o período de nível elevado. Não há expectativa de volumes extremos neste episódio.
Efeitos da chuva no Guaíba
De acordo com o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o nível do Guaíba deve subir nos próximos dias devido às chuvas nas bacias dos rios Jacuí e Taquari, além das precipitações previstas para o final de semana.
A estimativa é que o Guaíba atinja até 3 metros na régua da Usina do Gasômetro, em Porto Alegre. O alerta é do professor Alfonso Risso, do IPH/UFRGS. Segundo ele, no pior cenário, o nível pode chegar a 3,5 metros. A cota de inundação, considerada crítica, é de 3,6 metros.
“A probabilidade de ultrapassar essa cota, como ocorreu em 2023 e 2024, é baixa”, afirma Risso. Ele ressalta, no entanto, que efeitos como o vento sul podem provocar oscilações nos níveis do lago.
A recomendação é de atenção redobrada às comunidades que vivem em áreas baixas e são frequentemente atingidas por inundações, como as Ilhas de Porto Alegre e o município de Eldorado do Sul.
Conforme o professor, as projeções são feitas com base na análise de modelos meteorológicos, no cálculo das vazões das bacias que alimentam o Guaíba e na propagação dessas águas. “Essas projeções são atualizadas diariamente e divulgadas sempre que se percebe alguma tendência mais crítica”, explica.
Apesar da elevação dos níveis, Risso destaca que os alagamentos recentes na capital do estado têm relação principalmente com a sobrecarga do sistema de drenagem pluvial. “São problemas frequentes em Porto Alegre quando ocorrem chuvas mais intensas”, pontua.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) iniciou na tarde desta sexta-feira (20) o fechamento preventivo de três comportas do sistema de proteção contra cheias. As passagens 11, 13 e 14, localizadas na avenida Castelo Branco, estão em obras e serão protegidas por bags, preenchidos com material inerte.
Líder do PT na Câmara exige informações
A vereadora Natasha Ferreira (PT), líder da bancada do partido, protocolou um Pedido de Informação na Câmara Municipal de Porto Alegre solicitando esclarecimentos à Prefeitura sobre a ausência de medidas efetivas após a enchente histórica de maio de 2024. O documento cobra transparência sobre as ações prometidas e não executadas, especialmente diante das novas chuvas intensas que atingiram a capital em junho de 2025.
Segundo a MetSul Meteorologia, em apenas 24 horas Porto Alegre acumulou mais de 100 milímetros de chuva. Para Natasha, os efeitos da crise climática continuam sendo potencializados por falhas estruturais não resolvidas. “Mais de um ano depois de uma tragédia que poderia ter ensinado muito, Porto Alegre segue sofrendo com os mesmos problemas. Queremos saber: o que foi feito? Onde foram limpos os bueiros? A cidade não pode continuar afundando na lama da negligência”, criticou.
O Pedido de Informação nº 486/2025 requer dados detalhados sobre a limpeza de bueiros, manutenção de galerias e arroios, reformas no sistema de proteção contra cheias, campanhas educativas e cronogramas de prevenção. A vereadora também solicita o envio de mapas, relatórios técnicos e atualizações sobre dados públicos referentes à gestão da infraestrutura urbana.
Na justificativa, Natasha afirma que a omissão do poder público diante da emergência climática amplia os danos sociais e ambientais e compromete a segurança da população.
A deputada federal Fernanda Melchionna (Psol) encaminhou, na quarta-feira (18), um ofício ao prefeito Sebastião Melo solicitando informações sobre as ações adotadas pela Prefeitura de Porto Alegre para mitigar os impactos de novos alagamentos nas áreas mais atingidas pelas enchentes de maio de 2024.
No documento, a parlamentar pede esclarecimentos sobre medidas estruturais, preventivas e de médio e longo prazo que vêm sendo implementadas desde a tragédia climática. O objetivo, segundo ela, é assegurar que comunidades como as Ilhas, Humaitá, Vila Santo André e outras regiões vulneráveis não enfrentem inundações recorrentes a cada novo episódio de instabilidade climática.
“Entendemos que não se trata apenas de responder às emergências, mas de enfrentar, com planejamento e ação concreta, o novo regime climático que se impõe”, afirma Melchionna no ofício. “Se a cada novo período de chuva intensa há risco de transbordamento, alagamentos e prejuízos à vida das pessoas, é fundamental conhecer o planejamento da Prefeitura para evitar que essas regiões passem a conviver historicamente com enchentes e desastres anunciados.”

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