Assim que o calendário muda de maio para junho, é inevitável não perceber o clima junino que se instala no nordeste. Fogueiras, bandeirolas, comidas típicas e uma boa trilha sonora são fáceis de encontrar em quase toda esquina, principalmente em cidades do interior. Além de todos esses elementos, o clima mais frio garante a presença de um convidado ilustre na mesa com toalha xadrez: o licor.
A bebida, que é alcoólica e pode ser de diversos sabores, aquece o corpo e serve como um gás para os mais desanimados. Sabendo da importância e da tradição do consumo do produto no período das festas juninas, o Acorda Cidade resolveu visitar Cachoeira, no estado da Bahia. A cidade tem uma ligação tão forte com o licor que a bebida é considerada patrimônio histórico municipal.
Feito em Cachoeira: um selo de qualidade
A produção de licores em Cachoeira, cidade histórica da região do Recôncavo da Bahia, é famosa nacionalmente. A bebida é tão valorizada que ser produzida lá ganhou uma espécie de rótulo simbólico de certificação de alta qualidade: “Se é de Cachoeira, é bom!”. Vinícius Alves Mascarenhas, proprietário do Licor do Porto, comentou que no cardápio tem mais de 30 sabores, com preços a partir de R$ 17,00, para agradar todos os gostos e bolsos.
“Temos também linhas de coquetéis e doces fabricados com as cascas de frutas que são utilizadas para fazer o licor, evitando o descarte de lixo no meio ambiente. O nosso carro-chefe é o licor de jenipapo, que é o tradicional da época. Eu acredito que, em todos os fabricantes, essa opção é um dos destaques nas vendas. Temos também o licor de maracujá cremoso, que é um produto diferenciado, produzido com frutas e leite selecionados, para deixar a bebida bem cremosa”, disse Vinícius.
Mas por que é tão bom assim?
O proprietário da Licor do Porto, empresa com duas décadas de atuação no mercado de bebidas, explicou que a fama do licor de Cachoeira é proporcional à qualidade dos produtos e que grande parte deste reconhecimento está atrelado à garantia de um processo que valoriza a qualidade da matéria-prima e a tradição no processo de fabricação.
“No processo de fabricação dos licores, cada um tem uma particularidade. É um processo muito cuidadoso e diferente. O que torna o licor de Cachoeira diferente é que a gente começa a comprar as frutas agora, em 2025, e os licores [produzidos com essas frutas] só serão vendidos em 2026. Tem todo um processo de cortar, selecionar, lavar as frutas, colocar em fusão, deixar com a casca para transferir o cheiro da fruta para a bebida, para que o licor tome aquele sabor encorpado”, disse Vinícius.
Um “anarriê” nas vendas
Apesar do grande prestígio, Mascarenhas revelou que o setor de bebidas alcoólicas vem sofrendo com um movimento de baixa nas vendas, impulsionado por um movimento de valorização da qualidade de vida. O novo comportamento do perfil dos consumidores tem impactado negativamente a venda dos licores, até mesmo os mais famosos.
“Todas as bebidas alcoólicas tiveram uma queda por conta da saúde. As pessoas têm optado por beber bebidas com menos teor alcoólico, com menos açúcar. Isso a gente tem visto [por exemplo] com o crescimento do consumo da Coca-Cola zero açúcar. As pessoas estão priorizando mais a saúde”, disse o dono da empresa fundada em 2005.
Vinícius disse que, apesar da leve queda, até este momento do ano as vendas, em números absolutos, superaram as ocorridas no mesmo período do ano passado, movimento que, segundo ele, é fruto de um investimento pesado em marketing para alcançar novos públicos, propagar e consolidar a fama que o licor de Cachoeira já tem.
“O licor é tradicional no período junino, mas aqui em Cachoeira a expansão tem sido para todos os meses do ano. A bebida tem sido consumida pelas pessoas em todos os momentos. A gente tem crescido muito em outras cidades, atingindo o extremo sul da Bahia, que não tinham o costume de comprar o licor. Graças a Deus, está reconhecendo a importância do licor de Cachoeira, a história da bebida na cidade e a qualidade que a gente carrega também”, concluiu Vinícius.
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