Miss Brasil Gay: história de resistência e orgulho LGBT+ há quase 50 anos


Criado em 1976 pelo cabeleireiro Chiquinho Mota, evento nasceu da fusão entre o espírito carnavalesco e o travestismo artístico desafiando o regime militar. Profissionalizado, hoje é reconhecido como um dos maiores símbolos de expressão e ativismo da comunidade LGBT+ Concurso ‘Miss Brasil Gay’ começou em 1977 em Juiz de Fora, foto de arquivo
TV Integração/Reprodução
O Miss Brasil Gay é um ato político, uma luta de resistência que começou na ditadura militar e segue na democracia.
Em 1976, o cabeleireiro Chiquinho Mota desafiou o regime militar ao criar uma noite de desfile com o objetivo de arrecadar fundos para a escola de samba Juventude Imperial, de Juiz de Fora, que enfrentava sérias dificuldades financeiras. O evento, que nasceu da fusão entre o espírito carnavalesco e o travestismo artístico, resistiu ao tempo, se reinventou e hoje é reconhecido como um dos maiores símbolos de expressão e resistência da comunidade LGBT+ no Brasil.
No Dia Internacional do Orgulho LGBT+, o diretor artístico do evento, André Pavam, conta ao g1 a história do Miss Brasil Gay, que neste ano realiza a sua 43ª edição no mês de agosto.
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O que parecia “apenas uma brincadeira” para arrecadar fundos ganhou destaque e virou uma tradição que atravessa quase cinco décadas. Nos anos 1980, o evento cresceu, ganhou regras e uma estrutura mais profissional, aproximando-se do formato do tradicional.
Em 2006, com a saúde de Chiquinho fragilizada, André Pavam, então assistente de camarim e apresentador, assumiu a direção artística. Um ano depois, em 2007, o Miss Brasil Gay recebeu o título de Patrimônio Imaterial de Juiz de Fora.
Chiquinho Mota no Miss Brasil Gay de 2024, foto de arquivo
TV Integração/Reprodução
Evolução no concurso
A profissionalização do Miss Brasil Gay avançou a partir de 2008, quando todas as candidatas passaram a representar concursos estaduais, o que ampliou a visibilidade e o alcance do evento.
Nos estados sem disputa própria, como Paraná, Tocantins, Goiás, Sergipe e Acre, a representação ocorre por meio de seleções feitas em outras regiões. Nos últimos anos, o regulamento passou a exigir não só beleza, mas também oratória e compromisso social.
“Não basta ser a mais bela do país. É preciso representar uma causa e levar uma mensagem para a comunidade LGBT+ e para o público”, destaca Pavam.
André Pavam e Chiquinho Mota, foto de arquivo
Redes Sociais
Segundo Pavam, essa mudança reflete a seriedade e a equidade que o concurso busca alcançar, com normas técnicas e um sistema de notas claro para todas as candidatas.
“A relação das misses com o concurso também mudou. Antes, muitas tentavam disputar o título ano após ano, mas hoje só podem concorrer no máximo três vezes. Senão, era um sonho sem fim”.
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As vencedoras tornam-se porta-vozes, participam de congressos e concedem entrevistas. “Elas ganham destaque não só nos concursos estaduais, mas também como representantes e inspirações para toda a comunidade LGBT+”, complementou.
Um legado que não pode morrer
Allexa Dantas, de Minas Gerais, foi eleita Miss Brasil Gay 2024
Miss Brasil Gay/Divulgação
Ao longo de quase cinco décadas, o Miss Brasil Gay se consolidou como vitrine para uma comunidade tão diversa e viva, necessária e potente.
Apesar das conquistas e do destaque que o evento carrega, realizá-lo não ficou mais fácil. A edição de 2025, marcada para 23 de agosto no Terrazzo, em Juiz de Fora, é considerada por André Pavam a mais difícil de todas.
“Todos os anos enfrentamos a mesma batalha por investimento e patrocínio privado. O setor privado fecha os olhos para um evento que movimenta 52 setores da economia local e projeta uma imagem positiva da cidade. Precisamos evitar que esse legado desapareça”, desabafa o diretor artístico.
Miss Bahia Nanete de Windsor, vencedora do concurso em 1981, foto de arquivo
Divulgação
Pavam reforça que, acima de tudo, o Miss Brasil Gay representa uma plataforma para dar voz a quem, por muito tempo, foi silenciado.
“É uma responsabilidade enorme. Não se trata apenas de uma faixa, mas de uma projeção para todas as pessoas e famílias que fazem parte dessa história. Porque sonhos não morrem, e nós não vamos parar”.
“Levamos alegria, beleza e carnaval. Combatemos preconceito através da alegria e da arte e não vamos parar por aqui”.
Miss Brasil Gay 2025: mais enxuto
O Miss Brasil Gay 2025 está marcado para o dia 23 de agosto, no Terrazzo, em Juiz de Fora. A venda de ingressos começa no dia 1º de julho, presencialmente ou pelo site do evento.
Além das 27 candidatas, cada uma representando um estado do país, o evento contará com apresentações artísticas.
Concurso Miss Brasil Gay é símbolo de resistência
Os apresentadores serão Ikaro Kadoshi e Sheila Veríssimo, que comandarão os desfiles das misses em trajes típicos e de gala. Também estão confirmadas as seguintes atrações da noite:
Sheron Corrêa;
Danny Cowlt;
Titiago, em performance com Andréia Andrews;
Marcos Marinho, com uma apresentação em homenagem a Édith Piaf;
Uátila Coutinho, que levará ao palco Hellena Borgys, vencedora do reality Caravana das Drags.
Como nas edições mais recentes, a oratória fará parte da avaliação. As finalistas responderão a perguntas de conhecimentos gerais, com os temas sorteados no momento da prova.
Outra novidade, segundo a organização, será a escolha de 12 semifinalistas. Dessas, sairão seis finalistas — uma delas eleita por voto popular.
Allexa Dantas, candidata de Minas Gerais, vence o Miss Brasil Gay 2024
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