O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu deportar ao menos 1 milhão de migrantes por ano durante o seu mandato. Em discurso, o mandatário afirmou que vai fortalecer ainda mais a fiscalização na fronteira e vai contratar 10.000 novos agentes de Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE), 5.000 agentes adicionais da Patrulha de Fronteira, além de construir mais centros de detenção de migrantes .
“Financiamos integralmente as seções finais do muro da fronteira e propomos um novo imposto sobre remessas enviadas a países estrangeiros . E aumentaremos drasticamente as deportações para um mínimo de um milhão de imigrantes ilegais por ano”, disse nesta quinta-feira (26).
Todo esse pacote está incluído no projeto apelidado por Trump de Grande e Bonito Projeto de Lei. O texto foi apresentado pela Casa Branca e começará a ser votado neste sábado (28) no Congresso.
Na esteira dos anúncios do republicano, o Pentágono anunciou que pretende criar mais duas zonas militarizadas na fronteira com o México. Hoje, são dois postos militares na fronteira. A ideia é também financiar mais voos para deportações, além de reforçar o trabalho em cidades que não tem cooperado com as autoridades federais de imigração.
Segundo a CNN, Trump planeja também limitar o pedido de asilo de migrantes que já estejam nos Estados Unidos de maneira irregular. A meta seria rejeitar todos os pedidos e deportar imediatamente esses migrantes.
O grupo venezuelano Missão Verdade trabalha com o tema das migrações em estudos e levantamentos. De acordo com o pesquisador Eder Peña, a meta de deportar 1 milhão de migrantes por ano é “irreal” para o contexto atual. Para que fosse factível, seria necessário aumentar muito o ritmo das deportações.
“Esse valor é exagerado. Joe Biden em 2024 repatriou quase 271 mil pessoas. A média para isso foi de 753 pessoas por dia. Para Trump alcançar sua meta deveria deportar 2.700 por dia, pelo menos. Isso significa que no primeiro mês deveriam ser 25 mil migrantes deportados. Mas não tem sido assim, Trump não alcançou isso”, afirmou ao Brasil de Fato.
O dado apresentado pelo pesquisador representa o recorde de deportações de um presidente estadunidense em um ano e foi alcançado no último ano do mandato de Biden, superando até os valores alcançados durante o primeiro governo de Trump. Com o republicano, o ano com mais deportações teve 267.260 saídas de migrantes.
Outra questão significativa indicada pelo grupo é o impacto econômico para os países de origem. Enquanto muitos economistas entendem que há uma contribuição com o retorno de uma população economicamente ativa, outros grupos afirmam que há também a tendência de diminuição de remessas enviadas para os países dos migrantes.
“O impacto econômico é complexo. Algumas economias latinoamericanas vivem de remessas e essas deportações limitaria grande parte dessa saída de dólares. Trump usa as deportações como propaganda e para gerar uma tensão contínua. Ele está buscando criar condições para que os migrantes que ficam nos EUA tenham uma menor cobertura econômica, segurança social, por fazer seu trabalho. Ele quer baratear a mão de obra interna para ampliar os ganhos empresariais”, disse.
Trump chegou a um acordo com poucos países para que eles recebam deportados. Um deles é a Venezuela. Ainda que a política de deportações tenha sido promovida pela Casa Branca, Caracas auxilia no retorno dos venezuelanos ao país e colocou o programa do governo Volta à Pátria, iniciado em 2023, à disposição. O objetivo do governo de Nicolás Maduro é oferecer apoio logístico aos venezuelanos que estão fora do país em situação de vulnerabilidade e desejam voltar.
O acordo foi costurado depois de uma visita do enviado especial da Casa Branca, Richard Grenell, à Venezuela.
Para Peña, é “quase impossível” chegar a um acordo com a Casa Branca, já que a política dos EUA é de imposição e não de diálogo.
“Com os EUA não têm acordos, eles estão exercendo imposições e estão avançando sobre algumas linhas estratégicas que Trump tem sobre a América Latina. Tem governos subordinados a suas condições. Cada vez que os EUA tentam passar uma tabula rasa na América Latina, quem paga são os países subordinados, porque geram protestos e revoltas que se tornam, problemas para os governos. Eu entendo que os acordos são difíceis com eles”, disse.
Ele entende que acordos costurados até agora, como é o caso da Venezuela, se dão mais por voluntarismo, para evitar novos conflitos, mas ao mesmo tempo também é uma questão de dignidade dos países que recebem. Peña afirma que, mesmo desrespeitando uma série de normas do direito internacional, a tendência é que os Estados Unidos estejam imunes a um julgamento externo. Ele citou o caso de Maikelys Espinoza, de apenas dois anos, que foi separada dos pais nos EUA e enviada de volta à Venezuela depois de três meses.
“Os EUA dificilmente terão implicações jurídicas internacionalmente. No caso da Maykelis, não aconteceu nada, e foi algo muito grave. Eles não são inscritos, por exemplo, no direito da criança. Isso tira deles a obrigação de ter algum acordo”, afirmou.
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