Orlando Caliman: o tarifaço de Trump e o comércio exterior capixaba

É provável que ainda não tenhamos condições objetivas que nos possibilitem identificar mudanças significativas no fluxo de comércio exterior capixaba decorrentes do tarifaço provocado pelos Estados Unidos. Talvez, apenas sinalizações observáveis em setores mais diretamente afetados, como o do aço, ou indiretamente e supostamente, nas importações provenientes da China. Confira a análise do diretor econômico da Futura, Orlando Caliman.

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Por Orlando Caliman*

No caso do aço, focando-nos nas exportações de semimanufaturados de aço, nosso produto de maior peso nas exportações para o mercado americano, ocorreu, de fato, uma queda de 13% comparando-se os cinco primeiros meses de 2025 com o mesmo período em 2024. Foram 372 milhões de dólares em 2025 contra 428 milhões em 2024. Com queda de 36% acontecendo em abril em relação ao mesmo mês em 2024. Já em maio a queda foi menor: 11%.

Em 2 de junho, Trump dobrou a aposta contra o aço e o alumínio brasileiro, elevando as tarifas dos dois produtos de 25% para 50%. Certamente os efeitos virão mais adiante caso negociações não avancem e mudem o cenário. Aliás, um cenário que se mantido pode até retardar ou mesmo comprometer futuros investimentos no segmento de aço no Espírito Santo.

As exportações totais do Espírito Santo para os Estados Unidos, fixando-nos nos períodos em questão, registraram queda de apenas 3%: 1,263 bilhões de US$ em 2025 contra 1,306 bilhões. Percentual menor do que observado no total geral de exportações, que foi de 9%. Movimento que contribuiu para elevar a participação americana nas exportações capixabas de 28% para 30%.

A boa notícia vem do setor de rochas, que exportou para os EUA produtos no valor de 343,5 milhões de US$; um incremento de 24% em relação ao mesmo período de 2024. Na mesma direção, pelotas de minério de ferro exportadas para lá apresentaram incremento de 27%. Uma boa sinalização para um cenário de oportunidades a se considerar que as siderúrgicas americanas demandarão mais dessa matéria prima, numa perspectiva de reindustrialização interna projetada por Trump.

Já a queda nas exportações de celulose para o mercado americano, que foi de 28%, pode não ter relação com o tarifaço, mas, é de se registrar que foi bem maior do que o desempenho negativo nas exportações totais do produto (-7,3%).

Do lado das importações, onde havia a percepção de que a China, para compensar perdas no mercado americano, passaria a focar em mercados alternativos para desovar produtos, inclusive o Brasil, ainda não são detectados movimentos que fujam da normalidade. As importações feitas pelo Espírito Santo daquele país caíram apenas 4,6% no período. Importações de automóveis continuam no topo do ranking de produtos, praticamente mantendo o patamar anterior.

Já em relação ao mercado americano as importações capixabas cresceram 26% no comparativo dos cinco primeiros meses dos dois anos, passando de 660 milhões de US$ para 833 milhões. Movimento que fez cair o saldo comercial, favorável ao nosso estado, de 630 milhões de US$ para 430 milhões.

Com o dólar em queda e mantido o tarifaço o mais provável é que as expectativas em relação ao mercado americano se mantenham guiadas pela tendência observada até então.

*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência

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