
José Neto Rossini Torres é gestor comercial, assessor de investimento alta renda, Advogado, especialista em planejamento financeiro e autor dos livros: “Investe Logo: Compartilhando experiências com o investidor iniciante” e “O Caminho para o sucesso na Assessoria de Investimentos: Processo, Relacionamento e Intensidade”.
A história de Vinicios Santos do Carmo, 26 anos, natural do Espírito Santo, chocou muitas pessoas. Ele decidiu se alistar na guerra da Ucrânia motivado pela perspectiva de receber salários de até US$ 5 mil (R$ 27 mil) por mês. Sem qualquer juízo de valor sobre sua escolha, vale refletir. Sobre como a ausência de um planejamento financeiro e organização das finanças podem levar pessoas. Especialmente jovens, a buscar alternativas extremas em busca de segurança e propósito.
Vinicios acumulava experiência como militar no Brasil desde os 18 anos, mas jamais imaginou empunhar uma arma em trincheiras estrangeiras. Ainda assim, em novembro de 2022, ele comprou passagem e embarcou rumo à Ucrânia. Passou por avaliações, entrevistas e, finalmente, foi contratado pelo Ministério da Defesa ucraniano. O contrato inicial foi de três anos e remuneração que variam. Entre US$ 3 mil (R$ 16 mil) e US$ 5 mil (R$ 27 mil) mensais, desde que se cumpra ao menos 30 dias no front.
É importante destacar que essas cifras, num primeiro olhar, podem soar atraentes. Principalmente para quem cresce em um país em que a renda média de um jovem profissional mal supera R$ 3 mil por mês. Porém, o relato de Vinicios expõe também as condições extremas. São bombardeios constantes, frio de até –20 °C, risco real de morte e a distância de tudo o que se chama “lar”. Essa decisão extrema convergiu para a necessidade de dólar forte. No entanto, acima de tudo, para a busca de estabilidade imediata que faltava em sua vida sem planejamento financeiro.
Esse fenômeno não é isolado. Desde março do presente ano, houve um aumento estimado de 20% nas inscrições de brasileiros interessados em lutar na Ucrânia. São quase 9.620 estrangeiros recrutados nos últimos meses. Muitos buscam não apenas um propósito ou aventura, mas também uma forma de melhorar suas condições financeiras de maneira abrupta sem um planejamento.
É claro que essa análise também precisa considerar a realidade do nosso país. O Brasil carrega um histórico de incertezas econômicas, insegurança institucional, dificuldades na geração de empregos de qualidade e uma pesada carga tributária que recai sobre a população. Para muitos jovens que não têm planejamento financeiro, parece que as oportunidades de crescimento estão sempre distantes, burocratizadas ou concentradas em poucas mãos. Dentro desse contexto, é compreensível que algumas escolhas pareçam justificáveis, ainda que arriscadas. Por isso, não há aqui uma crítica à decisão do indivíduo, mas à estrutura que, muitas vezes, o empurra para esse tipo de decisão.
Planejamento é ter metas
Fazer planejamento financeiro não significa apenas investir em ações ou imóveis. Do mesmo modo envolve construir uma base sólida de reservas para emergências. Bem como compreender o impacto de endividamentos e delimitar metas de curto, médio e longo prazo. Com essa estrutura, as pessoas desenvolvem autonomia para enfrentar imprevistos. Desde a perda de um emprego até uma crise de saúde, sem recorrer a soluções drásticas.
Refletir sobre esse cenário é também entender que o dinheiro, bem organizado, é um meio para justiça social e bem-estar. Dinheiro não é um fim que justifique qualquer perigo pessoal. Educar desde cedo sobre orçamento familiar, finanças pessoais bem como a importância de um fundo de emergência não é um luxo. Tudo isso é uma necessidade para impedir que escolhas extremas ganhem força quando a vida parece não oferecer alternativas. Aí que o planejamento financeiro faz mais sentido.
Por isso, iniciativas de promover o ensino de planejamento financeiro nas escolas, empresas, em associações comunitárias bem como dentro da própria família são fundamentais. Um jovem que compreende o valor de separar gastos essenciais de supérfluos, que aprende a importância de um colchão de segurança para imprevistos, terá menos chances de buscar meios arriscados para se desenvolver.
Mais do que nunca, precisamos refletir sobre o papel das finanças como alicerce para a felicidade e o bem-estar, evitando que vidas sejam colocadas à prova por falta de preparo e por busca desesperada de renda.

José Neto Rossini Torres é gestor comercial, assessor de investimento alta renda, Advogado. Também é autor dos livros: “Investe Logo: Compartilhando experiências com o investidor iniciante” e “O Caminho para o sucesso na Assessoria de Investimentos: Processo, Relacionamento e Intensidade”.