‘O PT não pode ficar submisso aos interesses de Raquel Lyra e João Campos’, diz líder do MST

Neste domingo (6), quase 3 milhões de petistas em todo o Brasil podem ir às urnas para votar nas candidaturas às presidências municipais, estaduais e nacional do partido, além de chapas para compor as direções da sigla nas três esferas. Em Pernambuco, postulam a direção do PT o ex-deputado federal Fernando Ferro e o deputado federal Carlos Veras. Ao longo dos últimos meses, o debate sobre os rumos do partido no estado foi afetado pelo debate sobre a posição do PT em relação à governadora Raquel Lyra (PSD) e ao seu provável concorrente, o prefeito do Recife, João Campos (PSB).

Em entrevista ao Brasil de Fato, o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Jaime Amorim lamenta que o partido não tenha, até o momento, buscado se colocar entre os protagonistas na disputa pelo governo do estado. “O PT tem bons quadros, preparados para fazer a disputa”, avalia Amorim, mencionando os senadores Humberto Costa, Teresa Leitão e o deputado Carlos Veras. O membro da direção nacional do MST diz que o partido tem condições de assegurar ao menos um terço do eleitorado pernambucano, considerando que Lula tem os votos de cerca de 60% dos eleitores no estado.

Jaime Amorim considera que quando o partido “sai menor” ao se limitar a “discutir para onde vai”. “Até porque ambos [Lyra e Campos] têm o mesmo programa. (…) São dois grupos similares, ou pode-se dizer que são quase do mesmo grupo”, aponta ele, lembrando que a governadora foi formada no PSB, partido pelo qual foi deputada estadual, enquanto seu pai, João Lyra, foi vice do governador Eduardo Campos, pai de João Campos. “Um é mais neoliberal, outro é menos, mas ambos são neoliberais com elementos progressistas”, resume o dirigente sem terra.

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Amorim pondera saber que a prioridade do PT estadual, em 2026, é assegurar a reeleição do senador Humberto Costa, mas defende que “o partido se posicionaria melhor se construísse o seu próprio programa para Pernambuco”. “Não podemos ficar submissos aos interesses desses dois grupos. E se for para se aliar com um ou com o outro, que seja a partir do compromisso deles com as propostas desse programa”, diz Jaime. O líder do MST, no entanto, não vê o cenário de disputa entre João Campos e Raquel Lyra como ruim. “É um cenário até bom, porque não temos a extrema direita”.

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), devem se enfrentar nas urnas em 2026. Foto: Hesídio Góes/Secom Governo de Pernambuco | Hesídio Góes/Secom Governo de Pernambuco

No Processo de Eleições Diretas (PED) deste ano, o MST tem quatro militantes disputando as direções municipais. Os sem-terra candidatos são: Francisco Terto, disputando os rumos do PT em Caruaru; Tales Gracindo, candidato em Goiana; Cristiane “Titi” Cavalcante, candidata em Petrolândia; e Florisvaldo de Araújo, em Lagoa Grande. Na maior parte dos municípios em que o MST está presente, o movimento optou por formar aliança com alguma das chapas.

Mas o que o MST vê como tarefas que o PT precisa cumprir como partido em Pernambuco? “Queremos ajudar a construir um partido de massas e de base, com núcleos locais fortes, que forme militantes e lideranças e que também ajude a qualificar os quadros que já estão na institucionalidade”, resume Jaime. “Uma gestão não se faz só com prefeito. Ele precisa de secretários, gestores. Então o PT precisa preparar quadros para a disputa do voto, mas também uma militância para ajudar a governar. Os quadros políticos, ideológicos e técnicos ‘dos outros’ vão governar para os outros”, completa.

Amorim considera que a ausência de uma política de quadros interna leva a um cenário em que um político, ao se eleger, leva seus quadros de assessores e técnicos “de fora” para se filiarem ao PT, formando um novo grupo no partido. “Os cargos eletivos deveriam estar à disposição do partido, e não o partido funcionar a serviço deles”, opina o dirigente do MST.

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Sobre a disputa estadual, Jaime elogia a candidatura de Fernando Ferro, dizendo gostar de muitas das propostas e posicionamentos do ex-deputado, mas conta que o movimento optou pelo apoio à candidatura de Carlos Veras, apoiado pela corrente Construindo um Novo Brasil (CNB). “Ambos têm capacidade de análise para pensar a estratégia do partido”, opina.

Ainda sobre 2026, o líder sem terra não escondeu o desejo do movimento de colocar a deputada estadual Rosa Amorim (PT) na disputa por uma vaga na Câmara Federal. “É lá que Lula está perdendo todas. Mesmo com um presidente da República, não conseguimos avançar como gostaríamos devido ao Congresso. Então precisamos fazer essa disputa das ideias, ‘ir para cima’ – e Rosa tem essa qualidade e capacidade”, avalia Jaime.

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