Morte de pai e filho acende alerta para risco de choque elétrico; eletricista ensina como se prevenir

Pai e filho morrem eletrocutados - Foto - Ed Santos - Acorda Cidade -- -
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

As mortes de Jonathas Lima e do pequeno Bernardo Lima reacenderam o alerta para os perigos do choque elétrico. Pai e filho morreram eletrocutados após o caminhão em que estavam tocar em um fio de alta tensão no distrito de Maria Quitéria, em Feira de Santana.

Relembre o caso

Na manhã da última sexta-feira, dia 27 de junho, Jonathas realizava uma manobra em marcha ré quando o caminhão que conduzia encostou no fio de alta tensão, que, segundo os moradores do local, já estava prestes a cair e abaixo da altura mínima estabelecida nas normas de segurança. O fio estava cerca de 4 metros do solo, quando a norma determina no mínimo de 10 a 12 metros.

Pai e filho
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Após o fato, o garotinho, que tinha apenas 4 anos, desceu do veículo e foi atingido pela descarga elétrica. Na tentativa de salvar o filho, Jonathas também desceu do veículo e foi atingido na sequência. A tia da criança, que estava no caminhão na hora do acidente, não desceu do veículo e conseguiu sobreviver.

Os riscos do choque elétrico

Entendendo a gravidade do caso, o Acorda Cidade resolveu conversar com o eletricista Rui Mário Couto Bastos, que ministra cursos sobre riscos elétricos, para entender quais foram os fatores que podem ter contribuído para que uma das pessoas presentes no caminhão no momento do acidente tenha sobrevivido ao episódio e quais práticas devem ser adotadas para salvar vidas em situações semelhantes.

pai e filho
Mário Couto Bastos, eletricista e professor de Segurança Elétrica | Foto: Arquivo pessoal

O professor começou esclarecendo que, apesar de o caminhão estar todo eletrificado após entrar em contato com o fio de alta tensão, isso não necessariamente significa que a situação não indica possibilidades de sobrevivência. Para Mário, ao contrário do que muitos podem pensar, o fato de estarem dentro do veículo naquele momento significava que estavam protegidos.

“Você fica isolado ali dentro por conta dos materiais isolantes presentes dentro do veículo, como nos bancos, assentos e em outras coisas. Já as partes metálicas têm uma certa energização, elas estão energizadas e prontas para o potencial, ou seja, para que você [no ato de descuido] faça a diferença de potencial”, disse.

Você sabe o que é ‘Diferença de Potencial’?

O eletricista explicou que a diferença de potencial traz uma série de efeitos terríveis para o ser humano e que ela ocorre justamente quando o corpo de uma pessoa, que possui uma carga elétrica [baixíssima e de forma natural], entra em contato com uma alta tensão, como as presentes nos fios da rede elétrica que podem chegar até 17 mil volts.

“E desta forma ocorre a descarga elétrica ou o que nós chamamos de corrente de fuga, que aparece imediatamente após o contato. O fato de eles estarem dentro do carro os protegia, mas a precipitação do menino e a consequente atitude do pai foram fatais para os dois”, disse.

A Gaiola de Faraday

Durante a explicação sobre os perigos do caso, o eletricista considerou que o carro naquele momento funcionou como uma Gaiola de Faraday, uma espécie de gaiola blindada. Termo dado para descrever um fenômeno físico que ocorre quando uma estrutura feita de material condutor, como o metal, presente na carroceria do caminhão, protege o interior contra campos elétricos externos, impedindo que a eletricidade penetre na estrutura.

❌O que você não deve fazer

Mário disse ao Acorda Cidade o que, sob hipótese alguma, deve ser feito em uma situação de grande perigo, como a que Jonathas e o filho Bernardo perderam a vida.

“Nesse ambiente blindado, você não pode encostar nas partes metálicas ou partes que estejam ligadas ao motor do carro, como a marcha, vidros ou pedais. Você deve tirar o pé de tudo. Às vezes o pedal tem uma proteção plástica ou térmica, mesmo assim, você não deve arriscar. Eu falei do vidro porque hoje em dia ele pode ser temperado, ou seja, tem ligas metálicas. Se ele não se fragmentar em pequenos pedaços, isso faz dele um condutor elétrico também”, disse o professor.

✅O que você deve fazer

O professor listou um passo a passo das condutas que uma pessoa deve adotar caso esteja em um veículo que foi atingido por um fio elétrico ou suspeite que ele esteja energizado. Mario explicou que o primeiro grande conselho, apesar de parecer simples, é manter a calma.

“Segundo, se possível, utilizar meios de sinalização de dentro do carro ou comunicação para que alguém veja. Se você não tiver ninguém próximo, aí você deve arriscar a utilizar o celular, que também é outra fonte [que pode esta energizado], só que você está protegido naquela gaiola blindada, aparentemente isolado; aí você pode arriscar chamar uma autoridade, ou bombeiros, ou emergência, para prestar os primeiros socorros”.

Os Raios

Após apresentar os cuidados caso um veículo entre em contato com algum fio energizado da rede elétrica, o professor explicou que a situação pode ser parecida, ou seja, oferecer os mesmos riscos, caso o veículo seja atingido por um raio.

“Quando um raio cai em determinado local, ele energiza uma área de mais ou menos 50 metros do ponto que atingiu, e esta área permanece por alguns segundos energizada. Se você tentar correr, vai provocar diferença de potencial e vai receber esse choque. Geralmente, um raio é composto por mais de 1 milhão de volts. E aí é fatal também”, disse o eletricista.

Justiça

Mário reconheceu que, apesar do tema ser muito delicado, ele acredita que a concessionária, que é responsável por manter a rede elétrica em um nível de funcionamento adequado, pode ter responsabilidade, em algum grau, pelo que ocorreu.

O professor lembrou que tanto a empresa de energia que atua no estado da Bahia quanto a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) possuem normas bem específicas que devem ser seguidas para garantir a segurança da população.

“Em relação à parte legal, aí cabe à justiça ou ao Ministério Público tomar as devidas providências, porque houve vítima, foi uma família que foi destruída, e é necessário realmente eles intervirem nesse processo para que a justiça seja feita”, concluiu o eletricista.

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Com informações da jornalista Iasmim Santos do Acorda Cidade

Reportagem escrita pelo estagiário de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão

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