O Dia Internacional do Orgulho LGBT+, celebrado em 28 de junho, movimenta paradas em diversas cidades do Brasil ao longo do mês. Em Porto Alegre, a Parada de Luta LGBT+ seria realizada no dia 29, mas foi adiada em solidariedade às pessoas atingidas pelas chuvas no estado e diante da previsão de instabilidade climática. O evento ficou para o dia 13, segundo domingo de julho.

Neste ano, o evento na capital gaúcha traz o tema “Trabalh(a)dor: Pelo fim da escala 6×1”, com concentração às 12h no parque da Redenção e caminhada às 15h em direção à orla do Guaíba. A programação também conta com um aquece: neste sábado (5) ocorre a Virada Cultural Sylvinha Brasil, com shows na praça do Aeromóvel.

Um dos coordenadores e apresentadores da parada na capital gaúcha, Roberto Seitenfus, do coletivo Desobedeça, explica que o tema fortalece um debate importante para a comunidade LGBT e dialoga com a Parada de Luta de São Paulo deste ano, que põe em foco o envelhecimento LGBT. “A gente começou a pensar que, para envelhecer bem, precisa trabalhar, precisa ter qualidade de vida, precisa ter condições.”
Ele pontua que a discriminação e o preconceito têm um recorte que atinge principalmente mulheres, negros e população LGBT, “que na ponta do mercado de trabalho e da mão de obra são os que mais sofrem assédio moral e os que mais trabalham na escala 6×1”. O tema reforça ainda o trabalho da deputada federal Erika Hilton (Psol/SP), que apresentou o projeto na Câmara dos Deputados. “É dizer: ó, nós somos os principais beneficiados se esse projeto passar”, completa.
Confira a reportagem em vídeo:
Segundo Seitenfus, a parada conta com apoio de sindicatos. Mas o que mais surpreendeu foi a aceitação da própria comunidade LGBT+. Ele destaca a importância do evento como uma festa, mas que também tem o objetivo de elevar a consciência. “A gente sabe que a parada não vai atingir 100% da comunidade no sentido de elevar a consciência, inclusive do preconceito que sofre muitas vezes sem saber que sofre esse preconceito, mas se a gente conseguir pegar 1, 2 ou 5% que entenda o que a gente tá querendo passar com esse tema, nós já estamos muito felizes.”
O coordenador pontua como a questão de classe está relacionada com a luta LGBT. “A gente entende que o LGBT que mora na periferia de Porto Alegre ou na Região Metropolitana de Porto Alegre não sofre o mesmo preconceito de quem mora numa zona nobre como Moinhos de Vento de Porto Alegre. Então é necessário fazer um recorte de classe. Porque o mesmo que discrimina o LGBT é o mesmo que discrimina mulheres, que discrimina negros, que discrimina os povos de matriz africana, que há pouco tempo teve um ataque também em Porto Alegre. Então esses são os mesmos que nos agridem.”
Parada e virada cultural
A Parada de Luta inicia ao meio-dia de domingo (13) no Parque da Redenção. Às 15h, sai em caminhada até a orla do Guaíba, onde ocorrem diversos shows até a noite. Além disso, neste ano a programação traz a Virada Cultural Sylvinha Brasil, no sábado (5). Coordenador de marketing da parada, Lorenzo de Oliveira conta que o nome faz homenagem a “uma pessoa muito importante dentro do movimento em termos de parada”, que faleceu em 2018.
“A Virada Cultural Sylvinha Brasil vai contemplar diversos artistas, sejam bandas, sejam drags, sejam cantores solo. Começa às 14h, na Praça do Aeromóvel, e acaba ali pelas 22h”, afirma.
Segundo Oliveira, neste ano a divulgação foi intensificada nas redes sociais e são esperadas caravanas de diversas cidades do interior do estado. “Vira e mexe a gente tá marcado no Insta, por exemplo: excursão pra parada de luta no domingo, enfim, a galera sai de manhã pra vir pra cá. Então a galera realmente se empolga porque é um dia, que a gente costuma falar, onde muitas pessoas podem ser elas mesmas somente nesse dia. Então, as pessoas esperam o dia da parada para serem quem elas são de fato.”
Autoafirmação
Para ele, o evento contribui para a autoafirmação da comunidade LGBT+ e também para a cidade. “Tem mais de 30 mil pessoas vendo essas pessoas! Botar um artista LGBT que geralmente não tem esse espaço no dia a dia é mostrar que ele pode, né? E é mostrar para aquelas pessoas que estão na plateia, que muitas vezes não se inscrevem, porque a gente abre as inscrições para os artistas, que elas podem estar ali em cima e que elas têm esse potencial. E pra cidade, enfim, em termos financeiros, em termos econômicos, tem um retorno gigantesco.”
A Parada de Luta LGBT+ de Porto Alegre faz parte da Aliança LGBTI do Brasil. É organizada pelo Coletivo Desobedeça e o Conexão Diversidade. Conta com apoio do governo do estado, que custeia os trios elétricos da caminhada, e da prefeitura de Porto Alegre, responsável pelo palco e estruturas na orla. Para a realização da Virada Cultural, Oliveira ressalta que foi viabilizada com apoio dos delegados da parada no Orçamento Participativo de Porto Alegre.
Em edições anteriores, a parada chegou a reunir 100 mil pessoas. Neste ano em que o evento chega à sua 18ª edição, segundo Seitenfus, a expectativa é que seja ainda maior. “A gente espera esse ano ultrapassar todos os outros anos em número de público. O que não é meramente quantitativo, mas a gente precisa que essas pessoas saiam às ruas, se mobilizem, porque a repercussão que isso dá é política.”
Nota sobre o adiamento do evento
Este foi o segundo adiamento do evento. Na semana anterior, o evento havia sido adiado para o domingo (6) por conta das chuvas. Porém a prefeitura de Porto Alegre informou a organização da impossibilidade de realizar nesta data e pediu novo adiamento, dessa vez para o segundo domingo de julho. A prefeitura foi procurada para comentar sobre o adiamento e não retornou. Confira nota da organização da Parada de Luta:
“Pela segunda vez neste ano, a Parada de Luta LGBTI de Porto Alegre se vê forçada a adiar sua data. Desta vez, o motivo recai sobre a incompatibilidade de calendários com os eventos promovidos pela Prefeitura.
A notícia do novo adiamento, divulgada hoje — após já termos postergado o evento anteriormente por conta da instabilidade climática — nos pegou de surpresa e gerou frustração. A justificativa oficial aponta a sobreposição de datas com outro grande evento que também já conta com apoio e estrutura da Prefeitura, o que inviabiliza a logística e a segurança necessárias para a realização da Parada.
A organização da Parada envolve meses de trabalho voluntário e dedicação. Cada alteração de data representa retrabalho, perda de recursos e, principalmente, um desgaste para a mobilização e o engajamento da comunidade.
É fundamental que a Prefeitura de Porto Alegre e seu burocrático Escritório de Eventos reconheçam a importância da Parada — não como um simples evento ou festa, mas como um ato político, social e cultural de afirmação de direitos, de luta contra o preconceito e de celebração da diversidade. Uma manifestação.
A comunidade LGBTI+ de Porto Alegre merece respeito e um espaço garantido em sua agenda oficial.
Temos consciência e empatia pela situação em que nossa cidade se encontra e, sendo assim, acordamos por ora com o adiamento da nossa Parada — sempre realizada em consonância com o 28 de junho, data que integra o calendário oficial do município. A Parada é parte dessa conquista.
Adiamentos frequentes não estão nos nossos planos.”

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