Brigadistas voluntários cobram reconhecimento e políticas públicas em encontro nacional em Brasília

Em meio ao debate de soluções para a crise climática mundial, mais de 120 brigadas voluntárias e comunitárias de diferentes regiões do Brasil se reuniram entre os dias 1º e 3 de julho em Brasília (DF) com objetivo de fortalecer a proteção dos biomas e exigir mais reconhecimento ao trabalho que realizam na prevenção e combate aos incêndios florestais. O encontro foi idealizado pelo Fundo Casa Socioambiental em conjunto com a Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV) e outros órgãos socioambientais.

Os debates sobre o papel das brigadas voluntárias, financiamento climático e a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo ganharam destaque na programação. Durante os dois primeiros dias do encontro, as atividades estavam fechadas aos brigadistas presentes. Na quinta-feira (3), as discussões foram abertas ao público.

A deputada federal de Minas Gerais Célia Xakriabá (Psol) esteve presente no evento e destacou o papel do Congresso na implementação de projetos que estimulam a crise climática, como o PL da Devastação.

“Quando o Congresso Nacional vota mais de mil projetos de lei de retrocesso aos povos indígenas e à questão ambiental, existe algo de errado. Não adianta falar em compensação em outro território quando eles são desmatados por uma pessoa que acredita que os povos indígenas não têm direito territorial”, pontuou.

Emocionada ao falar sobre a importância do evento, Caroline Dantas, integrante do Instituto Cafuringa, organização atuante no DF que coordena cinco brigadas, destacou a importância do fortalecimento entre os brigadistas.

“Estar nesse evento é um grande sonho. O trabalho com manejo integrado do fogo é muito movido pela afetividade mesmo. As pessoas trabalham de forma voluntária ainda, e a gente não acredita que esse trabalho deva se manter de forma voluntária, mas estar junto aqui com essas pessoas que fazem as mesmas coisas em outros territórios do Brasil, é uma experiência de muito aprendizado”, declarou.

O papel das brigadas

Brigadistas voluntários de todo o país participaram do encontro | Camila Araujo/ISPN

Segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), estima-se que há mais de 5 mil brigadistas voluntários e comunitários no país. O estudo também detectou a presença de ao menos 200 brigadas atuantes na prevenção e combate aos incêndios florestais e atividades associadas ao Manejo Integrado do Fogo (MIF) em todo o Brasil.

As brigadas voluntárias são constituídas essencialmente por colaboradores voluntários que atuam no combate ao fogo em áreas florestais, sensibilização ambiental e conservação da sociobiodiversidade. Já as brigadas comunitárias são formadas por integrantes da comunidade de determinadas regiões. Geralmente, elas são as primeiras a chegarem nos focos de incêndio, antes mesmo que o poder público possa agir.

Entre janeiro e dezembro de 2024, o Monitor do Fogo do MapBiomas registrou mais de 30,8 milhões de hectares queimados no Brasil. A área é maior que o território da Itália, que possui 302 mil km² de extensão.

O bioma mais afetado foi o da Amazônia. Cerca de 17 milhões de hectares foram queimados ao longo do ano passado, correspondente a mais da metade (58%) de toda a área queimada no país em 2023. Foi a maior queimada do bioma dos últimos seis anos.

Manejo do fogo

Brigadistas alteraram o foco de atuação, passando de proteção ambiental para proteção de casas e pessoas conforme o avanço do fogo | Foto: Guardiões da Cafuringa/Divulgação

Muitas brigadas fazem a prevenção de incêndios utilizando a queima prescrita, um dos mecanismos do MIF, que é um modelo de planejamento e gestão que associa alguns aspectos ecológicos e técnicos para combater incêndios florestais.

Resumidamente, o fogo é administrado em pontos estratégicos e controlados em uma determinada região para evitar que os incêndios florestais tenham impactos mais significativos durante a fase da seca crítica.

Em 2024, foi sancionada a Política Nacional do Manejo Integrado do Fogo, por meio da Lei nº 14.944/2024. A queimada controlada e a queimada prescrita são definidas pela norma. A primeira, com controle do fogo, é feita para fins agrossilvipastoris. Já a queima prescrita, é realizada para fins de conservação e pesquisa.

“Usar o manejo integrado do fogo tem nos ajudado bastante no nosso trabalho. Estamos fazendo essa conscientização também da nossa comunidade, fazendo a queima prescrita, principalmente das zonas de fronteira do nosso território. As mulheres têm esse cuidado e o medo também, mas somos formadas. Fomos capacitadas”, explica Maria Aparecida Apinajé, coordenadora da Brigada Feminina Apinajé (TO).

Falta de recursos

Recursos para a execução das atividades é uma das principais demandas das brigadas. Integrante da Brigada Comunitária Cana Brava (MA), Magno Guajajara diz que o recurso primordial do grupo vem dos próprios voluntários.

“A brigada é de todo mundo. Quando não tem recurso, o recurso somos nós. Nós somos o primeiro recurso. Os parceiros do dia a dia, somos nós também. São as comunidades, são os amigos. E principalmente as organizações não governamentais que criam os editais que nos apoiam, que nos ajudam”, explica.

O Fundo Casa Socioambiental, organização não governamental e idealizadora do encontro, trabalha no apoio às brigadas voluntárias e comunitárias desde 2021. De lá para cá, já financiaram 226 projetos em 19 estados diferentes e 5 biomas. Foram mais de R$ 9,8 milhões de recursos diretos, com ações estruturantes e emergenciais para brigadas de base.

Protagonismo feminino

Mulheres da Brigada Feminina Apinajé/ Foto: Bruno Kelly/USFS

Diante da necessidade de conservação ambiental do território, nasceu a Brigada Feminina Apinajé, localizada na região norte do Tocantins. A formação inicial contava com 42 mulheres, hoje são 52 brigadistas voluntárias. Essa é a segunda brigada de mulheres indígenas do país, a primeira também no Tocantins é do Povo Xerente. Além da formação profissional realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), as mulheres aliam seus saberes ancestrais para fortalecer a preservação ambiental.

“Acreditamos que a resistência da nossa cultura também faz parte do território. Então não tem como a gente não cuidar da nossa resistência como indígena, se não cuidar também do nosso território, que é nossa casa. O nosso objetivo maior é construir para o bem coletivo um território que a gente possa usufruir. Principalmente usando os nossos conhecimentos tradicionais com conhecimentos não indígena, porque aí equilibramos nossos conhecimentos nesse combate aos incêndios”, explica Maria Aparecida Apinajé.

Para a coordenadora, o protagonismo feminino é um fortalecedor na proteção do território: “Estar como protagonista nessa história também fortalece, nesse universo que é dominado pelos pelos homens. E, como mulher, mostramos a nossa coragem, a nossa força, a nossa resistência e o nosso cuidado com a nossa família, com a nossa comunidade, com o nosso território. A nossa brigada tem se firmado cada vez mais em prol do bem coletivo do povo Apinajé.”

O Distrito Federal também conta com uma brigada de mulheres. Com o nome da flor típica do Cerrado, a Brigada Lobelias Brasiliensis, integrada ao Instituto Cafuringa, tem o papel de reforçar a importância de manter viva a espécie e o legado das mulheres no combate aos incêndios florestais.

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