Com mais de 16 mil pessoas à espera de cirurgia, mutirões prometem reduzir fila no ES

Sala de cirurgia no ES
Sala de cirurgia no ES. Foto: TV Vitória

No Espírito Santo, mais de 16 mil pacientes estão à espera de cirurgias e uma das estratégias para reduzir essa fila no Sistema Único de Saúde (SUS) são mutirões e plantões cirúrgicos nos finais de semana e horários estendidos dos centros cirúrgicos durante a semana.

Neste ano, já foram realizados cinco mutirões de cirurgias e até o final do ano estão previstos mais cinco.

O operador de empilhadeira Adilson Leno Alves, de 51 anos, é um dos que se beneficiaram com esse reforço extra nos procedimentos cirúrgicos após mais de um ano na fila.

Com dores frequentes nas pernas e dificuldade para andar, ele buscou ajuda no posto de saúde de São Torquato, em Vila Velha, no final de 2023. “Eu nunca faltei ao trabalho, mas estava muito difícil. Sentia muita dor, até nas tarefas de casa. Foi aí que procurei a médica”, conta.

Após a consulta, a profissional da Estratégia Saúde da Família solicitou uma ultrassonografia com doppler dos membros inferiores. O exame constatou um problema de má-circulação nas veias das pernas, que poderia causar complicações graves se não fosse tratado.

A recomendação foi cirurgia vascular, mas o caminho até a sala de operação levou quase um ano e meio.

Operador de empilhadeira Adilson Leno Alves
Adilson Leno Alves fez cirurgia durante mutirão da Sesa. Foto: Divulgação/Sesa

“Em dezembro de 2024 saiu o resultado do exame, e aí recebi o encaminhamento para cirurgia. Em fevereiro deste ano passei pela consulta com o cirurgião, fiz os exames pré-operatórios, mas quando estava tudo certo, peguei uma gripe e tive que remarcar”, relembra Adilson.

A operação foi realizada no último dia 31 de maio, durante um dos mutirões organizados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

Mesmo com a espera, ele considera que o processo foi mais rápido do que imaginava. “Achei que ia demorar mais. A gente ouve falar que demora anos. O que ajudou muito foi a minha esposa, que corria atrás de tudo, marcava, ligava. Sozinho, talvez não tivesse conseguido tão rápido”, fala.

A presença de alguém que acompanhe o paciente em cada etapa é, para muitos, decisiva. No caso de Adilson, foi a esposa Eliete quem manteve o ritmo do processo. “Ela que me ajudou com tudo. Se não fosse por ela, eu acho que ainda estaria esperando”, conta.

Hoje, após a cirurgia nas duas pernas, ele se recupera em casa. “Já estou conseguindo fazer mais coisas, ando melhor. Ainda tenho que me cuidar, mas sinto que foi um alívio”, revela.

São 400 cirurgias por dia no ES

De acordo com dados da Sesa, o Espírito Santo realizou 153.461 cirurgias eletivas em 2024. Para 2025, a meta é superar esse número, com projeção de ao menos 135 mil procedimentos até dezembro.

Sala de cirurgia no ES
Sala de cirurgia no ES. Foto: TV Vitória

Atualmente, o Estado realiza cerca de 400 cirurgias eletivas por dia. Ainda assim, ao todo 16.722 pessoas seguem na fila. Desse total, 2.597 estão com os cadastros desatualizados, o que impede a convocação para os procedimentos.

É fundamental que o paciente mantenha o cadastro atualizado, principalmente o telefone. A gente faz busca ativa, mas se não encontra a pessoa, não tem como marcar, afirma o secretário de Estado da Saúde, Tyago Hoffmann.

Segundo o governo, a média de tempo de espera no Estado é inferior a 180 dias – limite estipulado pelo Conselho Nacional de Justiça. No entanto, em especialidades de maior complexidade, o prazo costuma ser bem maior. É o caso da ortopedia, especialmente cirurgias de quadril, joelho e coluna.

“Temos algumas especialidades que exigem equipe, estrutura, prótese. Por isso, estamos buscando ampliar a oferta em hospitais de alta complexidade, como o Hospital Central”, complementa o secretário.

Tyago Hoffmann, secretário de Estado da Saúde
Tyago Hoffmann, secretário de Estado da Saúde. Foto: TV Vitória

Experiências contrastantes na mesma fila

A história do operador de empilhadeira Adilson, que passou pela cirurgia em cerca de dois anos após o diagnóstico, contrasta com a de outros pacientes.

É o caso de Paulo Sérgio, que sofreu uma queda e passou quase três anos com o fêmur fraturado, dependendo de uma cadeira de rodas.

“Minha vida parou. Eu e minha esposa, que também se acidentou, ficamos sem trabalhar, com dois filhos pequenos em casa. Foi muito difícil”, relata.

Paulo Sérgio, paciente do SUS
Paulo Sérgio ficou quase 3 anos à espera de cirurgia no fêmur. Foto: TV Vitória

A cirurgia de Paulo foi realizada recentemente, também por meio do programa OperaES. Ele conta que agora quer voltar a trabalhar e viver momentos simples com os filhos: “Levar meus filhos para a praia, para a pracinha. Antes eu só chutava bola sentado na cadeira. Agora quero poder correr com eles”, comenta.

Para o médico Alceuleir Cardoso, responsável pelas cirurgias ortopédicas no Hospital Estadual Central, as intervenções trazem um impacto direto na qualidade de vida.

“São pacientes com dor crônica, limitação de mobilidade e perda de autonomia. Muitas vezes, são trabalhadores que deixam de produzir. Quando operamos, devolvemos função e dignidade”, declarou.

Previsão de realizar 10 mutirões cirúrgicos neste ano

A principal estratégia da Sesa tem sido concentrar esforços em mutirões aos fins de semana e em ampliar os horários de atendimento durante a semana. A iniciativa tem conseguido acelerar procedimentos, mas ainda encontra desafios para zerar filas de algumas especialidades.

A Secretaria de Estado da Saúde explicou que o Programa Opera ES teve início em 2021 e, desde fevereiro de 2025, tem realizado ações de mobilização para realização de cirurgias aos sábados e nos horários estendidos dos centros cirúrgicos durante a semana.

Em junho, aconteceu a quinta edição dessa mobilização neste ano. Até o final do ano, a Sesa prevê a realização de mais cinco edições do projeto.

O mutirão é uma forma de otimizar os recursos e dar vazão à demanda reprimida. A expectativa é que, no prazo de um ano, consigamos operar os cerca de 400 pacientes que aguardam próteses de quadril, por exemplo, afirma o médico Alceu.

Médico Alceu Cardoso, do Hospital Estadual Central
Médico Alceu Cardoso atua no Hospital Estadual Central. Foto: TV Vitória

Ao mesmo tempo em que se comemora o aumento das cirurgias realizadas, há também um alerta sobre a permanência de obstáculos para quem precisa do SUS: exames que demoram, comunicação falha, dificuldade para acompanhar o processo sozinho e desigualdade no tempo de espera entre especialidades.

A história de Adilson termina com alívio, mas também com a consciência de que o sistema exige atenção e esforço do paciente. “Não é fácil. Mas eu fui atrás, minha esposa correu junto, e no fim deu certo. Agora, é seguir com a recuperação e agradecer por estar melhor”, diz.

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