
O mercado fitness é uma potência no país. Nos último 10 anos, o número de academias no Brasil passou de 19 mil para 56 mil. Muita gente atribui essa explosão ao período pós-covid e à necessidade que as pessoas sentiram em cuidar da saúde depois de dois anos de pandemia.
Em 2024, o faturamento de academias no Brasil foi de R$ 8 bilhões, segundo a International Health, Racquet & Sportsclub Association (IHRSA), uma associação global que publica relatórios anuais sobre a indústria fitness. E temos, nada menos do que 15 milhões de alunos no país. Aqui no Espírito Santo, esses números acompanham a tendência nacional. Ou seja, o mercado fitness é bastante promissor e está em alta.
Quem aposta nisso é a rede capixaba de academias Wellness, que mira a expansão não só aqui para o Espírito Santo, mas também para o Brasil. Fundada pelo ex-piloto de avião Leon Sayegh em 2010, a rede tem 15 unidades distribuídas, principalmente aqui na Grande Vitória, mas também tem em Linhares, Cachoeiro e Colatina. São 50 mil alunos no Estado e planos para ganhar o Brasil, bem como chegar a 80 mil alunos até o final de 2025.
Veja abaixo a entrevista com Leon Sayegh:
Como a escala mudou sua perspectiva e a da empresa?
Quando você começa a crescer, vêm as dores do crescimento. Você tem que abdicar de muitas coisas e trazer gente melhor que você. Hoje temos um time fantástico no escritório central, melhores do que eu, com muito orgulho. Eu fico na busca por novos pontos.
A empresa vai criando um organograma vivo e você encaixa as pessoas certas. Para o cliente, a escala também faz diferença. Ele paga uma mensalidade e pode treinar em 15 unidades – até o fim do ano, queremos chegar a 35.
Quando começamos, éramos só mais uma. Hoje, somos o principal player, a principal rede de academias, com o maior número de clientes, e não queremos parar por aí.
Essas novas academias já estão planejadas?
Nosso projeto de expansão tem curto, médio e longo prazo. Neste ano, decidimos sair do Estado. Vamos crescer no Sudeste e na Bahia. É como um raio que parte de Vitória.
Vamos avançando em cidades que fazem sentido, principalmente fronteiriças – Norte Fluminense, Leste de Minas, Sul da Bahia. Também o interior de São Paulo. Já temos mais de 30 projetos assinados e pontos fechados, além das 15 unidades já em operação.
Como vai ser o posicionamento em outros estados?
Não adianta ir com uma unidade só. A gente quer chegar com 5, 6, 10 unidades em regiões como o interior do Rio ou da Bahia. Não podemos ser mais um. Temos diferenciais de estrutura e localização. O grande desafio é mostrar nosso serviço fora do ES, onde a marca já é consolidada.
Aqui, a Wellness é reconhecida, tem um nome forte. Em outros estados, seremos apenas mais uma marca de academias. Nesse sentido entra o trabalho do nosso time para mostrar o nosso diferencial.
O que faz do mercado fitness um bom negócio?
Durante a pandemia, fomos proibidos de operar, por não sermos considerados essenciais. Mas o pós-pandemia nos mostrou, e aos clientes também, que saúde e bem-estar são indispensáveis.
Antes, nosso público de academias era de 20 a 60 anos. Hoje, atendemos pessoas a partir de 12 anos, com acompanhamento profissional. O sedentarismo virou um inimigo. O leque de clientes aumentou e isso torna o negócio mais rentável. Porém você precisa ter diferencial, não pode ser só mais um.
O que o mercado capixaba de academias ensinou que vai ser útil em outros estados?
Temos três mercados: o mundial, o nacional e o capixaba. Comparado ao mundo, o Brasil ainda tem muito a amadurecer, no entanto estamos avançando. Hoje, só 6% da população brasileira frequenta academias.
Em cidades litorâneas, como Vitória, esse número chega a 10%, 12%. Nos EUA, é 25%; na Europa, 20%; na Ásia, 15%. Se crescermos 1% no Brasil, são mais de 2 milhões de novos clientes. Nem a maior rede do país consegue suprir essa demanda sozinha.
O mercado capixaba é desafiador, mas próspero.
Aqui as cidades têm pouca população, mas excelente qualidade de vida. O Espírito Santo encanta. Vim de Belo Horizonte e fiquei impressionado. O Estado é bem localizado, o povo é acolhedor. Só que, para o nosso negócio de academias, é preciso saber atrair o cliente em mercados menos populosos.
Do ponto de vista do consumidor e da operação, o que o ES ensinou?
Principalmente sobre mão de obra. O Espírito Santo tem pleno emprego. Então, para atrair bons profissionais, precisamos de diferenciais. Nosso colaborador é nosso principal cliente.
Temos que oferecer propósito e plano de carreira. Valorizamos a prata da casa. O maior desafio hoje é esse: mão de obra. Conversando com empresários aqui, todos apontam isso como dor principal.
Vocês também sofrem com o apagão de mão de obra?
Muito. Temos várias vagas em aberto. Mesmo oferecendo oportunidades e ajustando salários, não conseguimos preencher tudo.
Já aumentaram os salários?
Sim, já fizemos isso, e mesmo assim ainda enfrentamos dificuldade em preencher todas as vagas.
De que forma a inteligência artificial e outros avanços tecnológicos influenciam a operação?
Tanto no atendimento ao cliente – com inteligência para prescrever treinos mais específicos – quanto na parte de vendas, manutenção e gestão.
A gente usa ferramentas de inteligência artificial em todos os setores das academias. Sempre com supervisão de professores, gerentes e coordenadores. Isso nos dá mais assertividade e, a longo prazo, ajuda na redução de custos.
E como é em relação à tecnologia dos aparelhos?
É um desafio grande. Trabalhamos apenas com equipamentos importados. Com a alta do dólar e do frete marítimo, ficou mais difícil. Por isso, buscamos um bom parceiro que nos dê suporte. Equipamento de academias é como carro: tem todos os níveis.
Trabalhamos com os principais fornecedores do mercado e os melhores equipamentos, porque academia precisa de qualidade e durabilidade. O cliente não quer saber se a peça está parada por problema do fornecedor – o problema é nosso.
Como o momento econômico do Brasil, com cenário de juros altos, por exemplo, impactam seu negócio?
Já deixamos de fazer alguns negócios, principalmente imobiliários. O dinheiro está mais caro. Isso não impactou nossa expansão ainda, mas nos deixa com o pé mais no chão.
Quando os custos de capital ficam altos demais, parece que você está trazendo um sócio novo só para pagar juros. Isso faz a gente repensar como crescer.
Apesar dos desafios, academia ainda é um bom negócio?
É um super negócio. Se não fosse, não estaríamos com 15 unidades, mais de 400 colaboradores e 50 mil clientes nas academias. E com a meta de chegar a 80 mil até o fim do ano. Porém, como tudo no Brasil, você precisa saber trabalhar. Ter boas pessoas ao redor, boa estrutura.
Não basta ter dinheiro. Nossas unidades são grandes, entre 1.500 e 2.000 metros quadrados. Isso exige investimento alto e é preciso entregar retorno para os investidores. O diferencial da Wellness é essencial para justificar esse investimento.
Como você avalia o ambiente de negócios no ES?
Acho super acolhedor. O Espírito Santo gira muito dinheiro, mais do que a média do Brasil. Fiquei impressionado com o potencial econômico. Porém o Estado tem baixa densidade populacional, o que limita nosso crescimento aqui. Daí a decisão de expandir para fora.
Usamos ferramentas de IA para escolher pontos estratégicos, mas reconhecemos que há um teto aqui. Mesmo assim, é um estado muito próspero e receptivo. Vejo empresários olhando para cá com outros olhos.
Como o momento econômico impacta o seu negócio?
Antes, academia era vista como supérfluo. Hoje, as pessoas entendem que é prevenção, é saúde. A academia virou um plano de saúde barato. Ainda sofremos com oscilações da economia, claro, mas impacta menos. Os números mostram isso.
Quando a economia balança, a gente ajusta os custos, mas não perde tanto cliente como antes.
Como você avalia a segurança jurídica no ES?
Essa nova geração de políticos trouxe uma mentalidade diferente, abriu portas, estendeu o tapete vermelho. Já fui recebido por prefeituras para conversas e agradecimentos. Isso é raro e nos motiva muito. Gera renda, emprego, imposto. É bom ser reconhecido por isso. A geração atual valoriza saúde, bem-estar, e isso se reflete nas políticas públicas.
Como vê o desenvolvimento de setores chave do ES, como logística? Isso representa oportunidades?
Com certeza. As cidades do interior estão melhores, recebendo investimentos. Nossa meta é ter uma ou duas unidades de academias em cada cidade com mais de 100 mil habitantes no Estado. Já estamos em Cachoeiro, Linhares, Colatina – com segundas unidades em construção em algumas delas.
Em Aracruz, já fechamos ponto. A cidade está crescendo muito. Preciso ir onde tem gente. Não adianta querer abrir “na lua”. Como é um investimento alto, fazemos estudos bem detalhados antes de seguir com a expansão.
Quais os planos de crescimento da Wellness?
A curto e médio prazo, queremos chegar a 50 unidades – sendo pelo menos 30 no Espírito Santo. A longo prazo, o plano é ter 100 unidades. Tudo com muito pé no chão. Nosso slogan é “apaixonados por saúde”, e a ideia é continuar cuidando de gente.
É muito gratificante ver clientes agradecendo por levarmos uma estrutura nova para o bairro. Também tenho muito orgulho da nossa equipe.
E há recursos para esse crescimento?
A grana está aí. Se precisar, a gente quebra o cofre e vai. Desde a sétima unidade, passamos a trabalhar com investidores, em formato de private equity. Foi uma decisão minha e do meu sócio. Sozinhos, cresceríamos duas ou três por ano. Com investimento, crescemos dez, quinze. É dividir para multiplicar. Prefiro ter 30% de 100 do que 100% de 30.
O retorno tem sido bom e cada vez mais gente procura investir. Buscamos investidores que compartilhem nosso propósito, não só o capital.
A Wellness pode se tornar um grupo nacional ou internacional de academias?
Com certeza. Vamos trabalhar bastante para isso acontecer. Você pode ter certeza: vamos crescer no Brasil e, quem sabe, no mundo.