O alerta feito pela Organização das Nações Unidas (ONU) na semana passada que gangues armadas teriam “controle quase total” da capital haitiana, Porto Principe, é questionado pelo acadêmico e morador de cidade Camille Chalmers. O economista afirmou ao Brasil de Fato neste sábado (5) que a declaração é alarmista e que boa parte dos moradores da cidade seguem com suas atividades cotidianas nas últimas semanas.
“Não é verdade [que haja controle de gangues], essa declaração foi de um alarmismo falso e tem como objetivo pavimentar o caminho para mais uma intervenção militar”, acusa Chalmers. O país recebe atualmente a Missão Multinacional no Haiti, aprovada no final do ano passado pelo Conselho de Segurança da ONU.
“O governo funciona na capital, todos os dias saio de minha casa para meu escritório e nunca fui ameaçado. Claro que há problemas, a violência das gangues, mas o país não está inviabilizado”, diz ele.
A reportagem do Brasil de Fato esteve ao longo dos últimos sete dias em três grandes regiões haitianas – Norte, Centro e Nordeste – e não testemunhou episódios violentos. Ao contrário, viu cidades fervilhando de atividades econômicas e gente circulando.
A declaração da ONU foi feita na quarta-feira (2) por Ghada Fathy Waly, diretora executiva do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, ao Conselho de Segurança da organização. Ela afirmou que a autoridade do Estado diminui cada vez mais e as gangues ocupam o vácuo de governança.
Áreas abandonadas
Chalmers questiona a afirmação. “Gangues não fazem governança, eles são criminosos que param estradas e pedem propina para permitir a passagem. É extorsão, não é governo.”
O economista explica que um dos pontos mais equivocados da narrativa atual é que tais gangues “controlam” áreas. Ele reitera – algo que a reportagem ouviu de diversas pessoas – que as gangues não ocupam, mas apenas atacam regiões.
“É possível que a maior parte de Porto Príncipe – mas nem perto de 90 por cento – tenha sido atacada, mas não ocupada. Essas regiões atacadas costumam ser, após os ataques, abandonadas”, diz Camille Chambers.
“As pessoas ficam com medo de voltarem para suas casas, daí o grande número de refugiados, cerca de 50% dos 3 milhões de habitantes.”

A crise atual do Haiti vem se agravando desde 2018 e se acentuou em 2024, com a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry e o aumento do poder das gangues armadas, que passaram a operar com mais liberdade, gerando ondas de sequestros, roubos e destruição, especialmente na capital, Porto Príncipe. O Conselho Presidencial de Transição (CPT) que governa o país desde meados de 2024 assumiu com a missão de trazer mais segurança e criar condições para um novo pleito presidencial.
Mas o CPT se mostrou incapaz de melhorar a situação econômica ou social do país, que enfrenta desnutrição aguda generalizada, falta de hospitais e água potável, em meio a um surto de cólera.
O post ‘Gangues não controlam áreas em Porto Príncipe, elas atacam e vão embora’, diz economista morador da capital do Haiti apareceu primeiro em Brasil de Fato.