
Dados do Panorama do Câncer de Mama mostram também que 44% das mulheres pretas e pardas tiveram diagnóstico tardio. Em países com cobertura de 70%, a mortalidade caiu cerca de 35%. Mamografias ainda cobrem menos 24% da população-alvo no Brasil, aponta estudo
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Apenas 23,7% da população-alvo realiza mamografias no Brasil, segundo levantamento do Instituto Natura em parceria com o Observatório de Oncologia do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer. O índice está muito abaixo dos 70% preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres brasileiras — excluindo o câncer de pele não melanoma —, com 73.610 novos casos estimados anualmente. A principal forma de salvar vidas é por meio da detecção precoce, viabilizada pelos exames de rastreamento, mas essa realidade ainda está distante de grande parte da população.
A OMS recomenda a realização de mamografias a cada dois anos entre mulheres de 50 a 69 anos, com uma taxa mínima de cobertura de 70%. No entanto, o Brasil ainda não alcançou nem um quarto desse percentual.
➡️Em nota, o Ministério da Saúde informou que é assegurado a todas as mulheres o acesso a exames como mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética. Disse também que, “em 2024, foram realizadas 4.307.786 mamografias pelo SUS e que mais de 9 mil mamógrafos estão em operação na rede pública e privada, segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)”. Leia a nota completa mais abaixo.
Confira outros destaques do estudo:
41,7% das mamografias de rastreamento (feitas quando ainda não há sintomas) realizadas no SUS foram feitas por mulheres pretas e pardas entre 2023 e 2024.
44% das mulheres pretas e pardas e 36% das brancas tiveram diagnóstico tardio.
O tempo médio para início de tratamento no Brasil ultrapassa em 158 dias o prazo estipulado por lei – que é de 60 dias.
Confira o percentual de exames realizados por:
Mulheres amarelas: 11,5%
Mulheres indígenas: apenas 0,1% realizou o exame no biênio de 2023-2024
Mulheres brancas: 46,8%
Cobertura de rastreamento do câncer de mama por mamografia
Cobertura por região e estado
O Sul lidera em cobertura mamográfica, com os seguintes percentuais ao longo dos anos:
2015-2016: 31,3%
2017-2018: 30,5%
2019-2020: 22,9%
2021-2022: 24,3%
2023-2024: 27,2%
Os estados com os melhores índices em 2023 foram:
Bahia: 33%
Piauí: 32,6%
São Paulo: 29,9%
Já as menores coberturas foram observadas em:
Roraima: 3,3%
Tocantins: 6,4%
As regiões Norte e Centro-Oeste apresentaram os piores desempenhos entre mulheres de 50 a 69 anos, com 11,9% e 15,3%, respectivamente.
Taxa de cobertura mamográfica ultrapassa os 75% no Reino Unido
Renata Rodovalho, uma das responsáveis pelo estudo, afirma que o Brasil ainda está distante dos resultados observados em países desenvolvidos. Segundo dados da OMS e da OCDE, a cobertura mamográfica chega a 80% na Suécia, ultrapassa os 75% no Reino Unido e varia entre 65% e 70% nos Estados Unidos.
“Essa diferença se deve a programas organizados de rastreamento, com convocações periódicas, infraestrutura adequada e sistemas de monitoramento. A mamografia salva vidas”, ressalta Rodovalho.
Quando detectado precocemente, o câncer de mama tem chances de cura entre 90% e 95%, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia. Em países com 70% de cobertura, a mortalidade caiu cerca de 35%
Estudos mostram que, em países onde a cobertura mamográfica atingiu 70%, houve uma queda de cerca de 35% na mortalidade por câncer de mama.
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Mamografia anual ou a cada dois anos?
O INCA contabilizou 19.130 mortes por câncer de mama em mulheres brasileiras em 2022. Globalmente, a doença é a mais comum entre mulheres, com 2,3 milhões de casos estimados em 2022, sendo a principal causa de morte oncológica feminina, com 666.103 óbitos previstos para o ano.
Embora raro, o câncer de mama também pode acometer homens — representando menos de 1% dos diagnósticos.
Diversas instituições, como a FEBRASGO, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), recomendam que mulheres de 40 a 49 anos façam mamografias anualmente, mesmo sem sintomas.
Já o Ministério da Saúde orienta a realização do exame a cada dois anos para mulheres entre 50 e 69 anos, ou em qualquer idade em casos com histórico familiar. Mulheres e homens com sinais ou sintomas têm direito ao exame pelo SUS a partir da puberdade.
Radiação e desconforto no exame
A mamografia utiliza baixa dose de radiação ionizante e é considerada o principal recurso para o diagnóstico precoce. O exame dura cerca de 10 minutos e, apesar de causar certo incômodo, é suportável para a maioria das mulheres. Mastologistas reforçam que os riscos associados à radiação são mínimos.
Faixas etárias mais afetadas
Quase 500 mil novos casos de câncer de mama foram registrados entre 2015 e 2024 no SUS. A distribuição por faixa etária foi a seguinte:
30 a 49 anos: 31,4%
50 a 59 anos: 26,5%
60 a 69 anos: 24,9%
Acima de 69 anos: 15%
Abaixo de 30 anos: 2,2%
Embora a legislação (Leis nº 12.732/2012 e nº 13.896/2019) estabeleça o prazo máximo de 30 dias para o diagnóstico e de 60 dias para o início do tratamento, esses limites continuam sendo amplamente descumpridos. Em 2023, o tempo médio de espera chegou a 214 dias — 154 além do permitido por lei.
Posicionamento do Ministério da Saúde
Por meio de nota, o Ministério da Saúde informa em nota que:
“O Ministério da Saúde assegura a todas as mulheres o acesso a exames para diagnóstico do câncer de mama, como mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética. Em 2024, foram realizadas 4.307.786 mamografias em todo o país pelo SUS. Atualmente, mais de 9 mil mamógrafos estão em funcionamento na rede pública e privada, de acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).
Desde 2023, a pasta ampliou em 48% os recursos destinados à assistência oncológica no SUS, com foco na expansão da oferta de serviços e na qualificação do atendimento.
Foram R$ 7,5 bilhões investidos em 2024, frente a R$ 5,1 bilhões em 2022. No mesmo período, R$ 80 milhões foram destinados à habilitação de novos serviços de diagnóstico e tratamento. Em 2024, o Ministério da Saúde destinou R$ 16,1 milhões para a aquisição de 14 novos mamógrafos em todo o país.
A oncologia é uma das áreas prioritárias do Agora Tem Especialistas para ampliar o acesso à assistência especializada e reduzir tempo de espera por consultas, exames e cirurgias no SUS. O programa, do Ministério da Saúde, prevê consolidar o cuidado oncológico no SUS como a maior rede pública de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer do mundo. Até 2026, serão adquiridos mais 121 aceleradores lineares. O programa também prevê 150 carretas equipadas para a realização de consultas e exames, incluindo a mamografia, para atender regiões de vazios assistenciais. Outra frente importante é o Super Centro Brasil de Diagnóstico de Câncer, lançado na última sexta-feira (24), que terá capacidade para realizar mais da metade dos exames necessários no país por meio de telessaude. O investimento federal será de aproximadamente R$ 126 milhões”.
Metodologia do estudo
O Panorama do Câncer de Mama é uma pesquisa observacional e transversal, baseada em dados públicos dos sistemas de informação ambulatorial (SIA), hospitalar (SIH) e de mortalidade (SIM) do DATASUS, além de registros hospitalares de câncer (RHC) do INCA.
Sinais de alerta
Segundo o INCA, os principais sintomas do câncer de mama são:
Nódulo endurecido, fixo e geralmente indolor
Pele da mama avermelhada ou com aspecto de casca de laranja
Alterações no mamilo, como retração ou saída de secreção espontânea
Pequenos nódulos no pescoço ou nas axilas
Roseane Macedo, presidente da Comissão de Mastologia da FEBRASGO, lembra que nos Estados Unidos, a recomendação atual é de mamografia anual a partir dos 40 anos. A federação alerta que cerca de 25% dos casos no Brasil ocorrem entre mulheres de 40 e 50 anos.
Importância do autoexame
Além dos exames de imagem, o INCA recomenda que a mulher observe e apalpe suas mamas sempre que se sentir confortável, valorizando eventuais descobertas casuais. Especialistas destacam que, embora o autoexame não substitua a mamografia, ele pode ser importante para detectar alterações.
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