
A 9ª edição do Encontro da Associação MoviAfro em Feira de Santana celebra o poder e a resiliência das mulheres negras através do aquilombamento. Em um cenário onde a voz e a representatividade são cruciais, o evento se posiciona como um farol de resistência e um espaço vital para a (re)construção do “Bem Viver”.
O encontro, que é realizado pela Associação Mulheres Negras de Feira de Santana, integra as comemorações alusivas ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e está dentro do calendário de ações de resistência, reivindicação e luta por igualdade do Julho das Pretas.
Durante o encontro deste sábado (12), uma mesa de conversa recebeu quatro mulheres, uma indígena, uma quilombola, uma candomblecista e uma psicóloga, para debater o tema central desta edição, discutindo como a ancestralidade e a luta histórica por liberdade podem projetar um futuro de prosperidade e equidade para as mulheres negras.

O bem viver
Ao Acorda Cidade, Val Conceição, coordenador geral da MoviAfro de Feira de Santana, explicou que o encontro nasceu do desejo de homenagear todas as mulheres negras, não só de Feira de Santana, mas de todo mundo. O evento é um dos mais aguardados dentro da associação, que conta hoje com um núcleo de organização composto por cerca de 30 mulheres.

“Todos os debates serão em torno desse tema central, mas falamos também sobre saúde, educação e segurança. A gente desenvolve o encontro exatamente para abrir essa possibilidade de diálogo, onde essas mulheres têm voz e vez. O bem viver é a questão de uma cuidar da outra, das mais experientes passarem para as mais jovens, para aquelas que estão chegando agora, como tratar, como cuidar, como ser, como fazer”, disse o coordenador.
“O aquilombamento ele se dá em torno disso tudo porque quando você se aquilomba você se fortalece. Eu costumo dizer que ninguém encara um formigueiro, mas é muito fácil encarar uma formiga sozinha. Então, quando você está aquilombado, quando você está junto, eu acho que fica mais difícil de você ser combatido”, complementou o coordenador.

A educação liberta
Val fez uma rápida análise sobre o momento atual do Brasil, classificando que a sociedade brasileira é pautada pelo racismo e que tem como modus operandi das relações sociais do cotidiano o machismo e a misoginia, e que os reflexos destas práticas são sentidos com muita facilidade em Feira de Santana também.
“Eu acredito que a principal dificuldade [em nossa cidade] é o emprego e o acesso à educação, principalmente quando se fala do nível superior, apesar de vários projetos, de várias formas que o governo federal e o governo estadual têm desenvolvido para que essas mulheres tenham esse acesso. Mas eu acredito que a educação e o mercado de trabalho ainda, com certeza, é a principal dificuldade dessas mulheres negras.”
O coordenador continuou reforçando o papel do acesso à educação para o fortalecimento do aquilombamento. “Eu acho que tudo começa a partir da educação. Quando a gente tem acesso à educação, acesso às escolas, às universidades, acesso ao saber [tudo pode ser transformado]. Val Conceição fala que alguns membros do poder público, eles não querem que a gente tenha acesso à educação, porque eles sabem que a educação liberta, emancipa, então eles dificultam esse acesso.”

O poder do aquilombamento
Heli Pereira, que faz parte da Associação MoviAfro de Feira de Santana, falou ao Acorda Cidade sobre os desafios enfrentados pelas mulheres negras na sociedade como um todo. Ela reforçou que o aquilombamento é a expressão que melhor sintetiza tudo o que o grupo busca ao longo da sua trajetória.

“Nossa, a pauta é extensa. A gente reivindica desde um tratamento equânime no que diz respeito ao acesso à saúde, educação, o acesso ao bem viver como o próprio lema do encontro diz”, disse.
Desafios na sociedade
Pereira reforçou que o encontro tem um objetivo principal de se aquilombar, se juntar, se reunir e refletir sobre as dificuldades que a mulher negra enfrenta na sociedade, sobretudo as financeiras.
“A questão financeira incide diretamente sobre o corpo da mulher negra, para além do que incide nas outras, porque a mulher negra ainda, por estar ocupando espaço de subemprego, ganha menores vencimentos e, sobre esses vencimentos, o desconto é igual para todos, ao final, ela fica sempre com a menor parcela e acaba sendo aquela que são as gestoras do seu lar.”

“Se você for observar, a grande quantidade de mulheres que são as gestoras dos lares está no segmento racial negro. [Quem comanda a maior parte das famílias no Brasil] é a mulher negra ainda. Infelizmente, a violência, o feminicídio, tudo isso são questões que a gente tem que pautar, refletir, mas também celebrar o dia de Tereza de Benguela, porque foi uma mulher líder, uma liderança, e trazer a reflexão das coisas que ainda faltam melhorar para que a gente tenha realmente uma vida mais tranquila”, completou.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
Reportagem escrita pelo estagiário de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão
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