Produtores brasileiros começam a sentir efeitos do tarifaço de Trump

Donald Trump determinou tarifas extras de 50% a produtos brasileiros, o que pode comprometer exportações de setores como pesca, citricultura, café e outros. Crédito: Isac Nóbrega/PR

Produtores brasileiros aguardam reuniões e medidas do governo brasileiro para reverter ou mesmo minimizar a taxação anunciada pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump. Ele determinou taxas extras de 50% sobre todas as exportações brasileiras ao país norte-americano a partir do dia 1º de agosto. Para alguns setores, o momento é de apreensão e espera, para outros, os impactos já começaram.

O setor de pescados é um dos que foram imediatamente impactados pela medida de Trump. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), pelo menos 58 contêineres com 1.160 toneladas de pescados que seriam destinadas aos EUA perderam compradores. O produto terá que retornar aos produtores.

Os embarques que seriam feitos agora chegam em agosto. Pelo timing aí do translado dos contêineres eles já chegariam sob essa nova tarifa. Nesse sentido, os compradores de lá suspenderam as compras, suspenderam os embarques.

Jairo Gund, diretor executivo da Abipesca,

Segundo Gund, os EUA respondem por 70% do mercado externo brasileiros de pescado. Somente de tilápia, o país é o destino de 90% do produto. Do mesmo modo, os contêineres que tiveram as compras canceladas eram de congelados. O mercado de produtos frescos, feito por avião, segue normalmente.

Os mais impactados pela medida de Trump são os produtores mais vulneráveis, afirmou Gund.

“O principal item de exportação é a lagosta. A lagosta é vista como um produto de gente rica, mas quem produz é gente pobre. É peça artesanal. Então, o impacto nesse público é direto. Quem vai sofrer não é que quem vai comer lagosta, vai sofrer quem produz. Quem produz são pessoas de baixa condição social, geralmente de comunidades tradicionais”, ressaltou.

Reunião com Alckmin

A Abipesca está entre as entidades que se reunirão nesta terça-feira (15) com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin.

A principal demanda será pelo menos adiar a taxação de Trump para o setor em 90 dias, para que a produção já contratada possa ser escoada. Além disso, os produtores pedirão que se discuta a exclusão dos pescados das tarifas, uma vez que o Brasil representa menos de 1% da importação americana dos itens, acrescentou a Abipesca.

“A gente está no meio da safra das principais espécies. E com contratos andando”, informou a associação. “Que a gente consiga, sensibilizar o governo do Trump de tirar o pescado, pelo menos. Porque a gente representa menos de 1% de todo o abastecimento americano, de tudo o que eles importam. É pouco para eles, mas muito para nós”.

Cítricos e a tarifa de Trump

Os produtores de cítricos também aguardam os próximos passos sobre o tarifaço de Trump.

“Temos que ter cautela. Essa tarifa é para o dia 1º de agosto. Temos que deixar o governo fazer as ações, fazer a defesa e negociar. Acho que uma boa conversa com a equipe do presidente Trump é muito melhor do que uma má discussão”. A declaração é do presidente da Câmara Setorial da Citricultura do Estado de São Paulo e vice-presidente da Associação Brasileira de Citros de Mesa, Antonio Carlos Simonetti.

O Brasil é o maior fornecedor de suco de laranja para os EUA, que compram mais de 40% das exportações brasileiras.

A produção de Simonetti segue com normalidade. “Ainda está tudo normal, sem nada de alertar, tudo correndo normal por enquanto. Ou seja, não tivemos ainda nenhuma estratégia anunciada em relação à taxação do Trump”.

O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) participa de uma série de reuniões com os governos federal e estaduais, entidades de classe e parlamentares. Tudo marcado para discutir o tarifaço de Trump nesta segunda-feira (14). As reuniões prosseguem até quarta-feira (16), quando, além de falar sobre o que foi discutido, o Cecafé deverá apresentar o desempenho das exportações do grão no fechamento do ano safra 2024/25.

O café está entre os dez produtos que representam 57% das exportações brasileiras. Apenas o café torrado representa 4,7%. 

Indústria

Em posicionamento divulgado nesta segunda sobre o tarifaço de Trump, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), alertou. Nesse sentido, disse que o momento “exige ações enérgicas, contundentes”, para reverter o quadro, tanto interna quanto externamente.

“Nas relações exteriores, precisamos de moderação e equilíbrio para contornar a política tarifária dos EUA do presidente Trump. Devemos negociar a revogação da taxação na condição de país parceiro e de nação soberana. Cabe ao governo brasileiro defender os interesses da sociedade brasileira. E assim, evitando, sobretudo, as armadilhas da polarização política que o episódio coloca no caminho”, diz a confederação.

Além disso, a CNI enfatiza que a taxação coloca em risco os planos de investimento e os negócios em andamento. 

A taxação põe fim à previsibilidade que sustenta milhares de contratos de longo prazo. Nesse sentido, afeta fábricas brasileiras e plantas nos Estados Unidos que dependem de componentes e insumos produzidos no Brasil para manter linhas produtivas e empregos. O tarifaço de Trump aumenta, portanto, o risco de retrocesso de forma substancial. Ou seja, ameaça a competitividade de ambos os lados e lança mais incerteza sobre planos de investimento e negócios em andamento.

Nota da CNI

Governo

Nesta segunda, o presidente Lula anunciou a criação do Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais. O objetivo é alinhar medidas de proteção da economia brasileira. O grupo será criado por meio do decreto de regulamentação da Lei de Reciprocidade Econômica (Lei 15.122/25) e terá o objetivo de ouvir os setores empresariais. Ou seja, pretende detectar as implicações do anúncio feito Trump de impor tarifas de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil.

A primeira reunião do comitê será nesta terça-feira (15), às 10h, com setores da indústria. O comitê também fará sua segunda reunião com representantes do agronegócio.

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