
As férias de julho são um dos momentos mais esperados do ano pelas famílias, principalmente por aquelas que se planejam para viajar e descobrir novos lugares. Mas enquanto para adultos e crianças este pode ser um momento de alegria, para os pets a mudança pode causar estresse e desconforto.
Neste momento, surgem diversas dúvidas como: devo levar o meu animal de estimação nesta viagem? Como garantir a segurança do pet durante o transporte? Há outras alternativas para manter o bem-estar dos bichinhos durante as férias?
As respostas dependem de diferentes fatores, como o destino escolhido, o meio de transporte que será utilizado, a duração da viagem, o comportamento individual do pet em situações de mudança e, principalmente, as condições de saúde do animal.
Por isso, para garantir uma viagem confortável e proveitosa para todos – adultos, crianças e bichinhos –, é importante, em primeiro lugar, marcar uma consulta com um médico veterinário.
A professora de Medicina Veterinária da Faesa, Manoela Pimentel, explica que o profissional será capaz de orientar os tutores e checar se o animal está apto a viajar.
Segundo a especialista, o primeiro passo é conferir a carteirinha de vacinação do animal e também checar os documentos, que podem ser solicitados por autoridades da segurança pública em casos de fiscalização.
Neste momento poderão ser identificadas algumas necessidades para garantir a saúde do animal, como atualização das vacinas e uso de coleiras que combatem pulgas, carrapatos e mosquitos transmissores de doenças.
Além disso, o veterinário ficará atento a sinais de estresse do animal. “Alguns dias antes da viagem, assim que o animal começa a perceber uma mudança comportamental – como preparar malas –, ele já pode começar a estressar um pouco”, conta a professora.

Para evitar essa ansiedade, Pimentel explica que há alguns medicamentos fitoterápicos que podem ser receitados pelo veterinário para acalmar o pet e outros que ajudam a combater o enjoo decorrente do movimento do transporte.
Outro ponto ressaltado pelo delegado Leandro Piquet, responsável pelo Núcleo de Proteção Animal (NPA) da Delegacia de Meio Ambiente (DEPMA) do Espírito Santo, é a necessidade de observar, em caso de viagem internacional, as exigências do país de destino.
“Tem alguns países que exigem quarentena, exames de doenças específicas, cuidados extraordinários que, para uma viagem a nível doméstico, não se exige”.

Após esta primeira etapa de cuidados, os tutores podem, enfim, planejar os demais passos que envolvem a segurança durante o percurso e o bem-estar do pet no destino – ou alternativas para manter o animal confortável sem necessidade de mudanças.
Viagem de carro
Para qualquer viagem, a premissa básica é entender se o destino suporta o animal, conforme explica o delegado Piquet.
É preciso ver se o local tem as condições necessárias para que o animal viva, para que ele tenha um conforto, para que o bem-estar necessário seja atendido. A partir daí, entramos em um segundo momento: como será a saída de casa e o transporte do animal para esse lugar de férias?
Em caso de viagens de carro, o delegado pontua que é preciso considerar que o pet ocupa o mesmo espaço que um ser humano no veículo. “É a mesma coisa. E se você não obedecer às regras de trânsito previstas no Código de Trânsito, você pode ser multado e perder até cinco pontos na Carteira de Habilitação”, alerta Piquet.
Uma das alternativas para levar os animais em segurança em automóveis é a caixa de transporte. Tanto gatos quanto cães podem utilizar e a vantagem é que ela é fechada, travada e tem um local ideal para encaixar o cinto de segurança do carro.

“Em caso de freada brusca, em caso de batida, o animal vai ficar seguro assim como o ser humano que usa um cinto de três pontos, tanto no banco de trás quanto no banco da frente”, explica o delegado.
Já quando o animal for grande e não couber na caixa, a opção é usar um cinto auxiliar. Ele é preso na coleira de peitoral e no cinto de segurança do carro. “Você vai regular de uma forma que o animal consiga ter um conforto, consiga ter uma mobilidade, mas, em caso de acidente ou freada brusca, ele esteja o mais seguro possível”.
Piquet alerta, entretanto, que a coleira de pescoço não deve ser utilizada neste caso: “Se o carro capotar, por exemplo, ou se for um animal pequeno, com esta coleira se ele cair no banco ele vai ficar enforcado e você pode sequer ver. Então, você pode lesionar seu animal ou até mesmo matá-lo”.
Em uma situação como esta, caso uma fatalidade ocorra, o tutor do animal pode ser responsabilizado pelo crime de maus tratos e ser condenado a uma pena de dois a cinco anos de prisão.
“Isso é a questão do dolo eventual. Quando uma pessoa não quer, mas assume o risco de matar. Ela se coloca nessa posição de responsável e pode, sim, responder por um crime. Então, segurança em primeiro lugar”.
O aluno de Medicina Veterinária da Faesa Hermano Júnior conhece bem sobre o transporte de animais de estimação. Além de estudar, ele trabalha como táxi dog há alguns anos e, por isso, também dá dicas de como transportar os pets de forma segura e confortável em veículos.
“Você tem que dirigir com uma velocidade menor, tem que se preocupar com a questão do caminho, das curvas, para que não balance muito o animal. Se não prestarmos atenção a uma lombada, por exemplo, o bicho pode ‘voar’ dentro da caixa ou até mesmo no carro e ficar muito preocupado”.

Além das questões de segurança, o estudante ressalta que é importante ir acostumando o animal com o passeio de carro desde filhote.
Tem animais que entram no carro e ficam super ansiosos, porque eles não sabem o que está acontecendo. Eles começam a latir, a ficar eufóricos, ofegantes, preocupados, ansiosos com o que está acontecendo porque eles não têm esse costume. Então, quanto antes você for acostumando o animal a andar de carro, melhor.
A professora Manoela Pimentel concorda e acrescenta que não se deve colocar o animal na caixa de transporte só no dia da viagem. Ele precisa se adaptar ao ambiente novo:
“Então é bom já deixar essa caixa em casa para que o animal aprenda a viver naquele ambiente. Pode colocar petiscos e brinquedos para que ele possa entrar e sair quando ele quiser. Isso evita um pouco o estresse do animal”.
Viagem de avião
As estratégias para adaptação do pet com a caixa de transporte também podem ser uma forma de prepará-lo para uma viagem de avião. Neste caso, a principal diferença é em relação à legislação brasileira.
Desde que o Joca, um cachorro da raça golden retriever, morreu em abril de 2024 após ser transportado para o destino errado pela companhia Gol e passar cerca de oito horas no porão de bagagens do avião, o Congresso Nacional tem discutido as leis para o transporte aéreo de animais.
Atualmente, é permitido que bichos de até 10 quilos sejam transportados na cabine do avião com o tutor. Neste caso, o delegado Piquet explica que cada companhia define os critérios para o transporte: uso de coleira especial, caixa de transporte ou uma bolsa específica.
Com a futura Lei Joca – o texto já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, onde foi modificado, e agora aguarda a aprovação final para seguir para análise do presidente Lula –, cães e gatos de até 50 quilos poderão viajar na cabine ao lado do tutor.
Além desta mudança, a proposta também prevê que o pet que for levado no compartimento de cargas do avião deverá ser rastreado para que o tutor acompanhe em tempo real os seus passos. A escolha do local de transporte dependerá do porte do animal, e as regras serão reguladas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
As regras não valem para cães-guia. Estes têm o direito de viajar na cabine do avião junto com o tutor, para qualquer destino.
A ideia da Lei Joca é aproximar o pet de nós, seres humanos. É dar mais conforto. Então, ela amplia a questão da pesagem do animal para que o passageiro escolha se ele viaja na cabine ou se ele vai viajar no porão, como uma carga comum.
Leandro Piquet, delegado.
Como alguns pontos do projeto aprovado pela Câmara foram afrouxadas pelo Senado – como a dispensa da necessidade de um veterinário em aeroportos com movimentação superior a 600 mil passageiros por ano para acompanhar o embarque e desembarque dos animais –, o delegado acredita que a lei é sim um grande passo, “mas ainda é necessário avançar muito na causa animal, principalmente no que tange aos transportes”.
Piquet também ressalta que, independentemente das novas regras, o ideal é que as viagens sejam de curto prazo, “para que o animal fique mais confortável e não sinta o deslocamento de forma intensa”.
E quando o melhor for não levar o pet na viagem?
Dependendo da duração da viagem, seja da estadia ou do percurso, a mudança de ambiente pode não ser benéfica para o animal. Nestes casos, a melhor opção é não submeter o pet a uma situação que pode ser traumática e colocar em risco sua integridade.
A professora da Faesa conta que hoje há diversos serviços que podem ser boas alternativas à viagem, como hotéis especializados e pet sitters, que são como babás e vão visitar o animal na casa dele ou os recebem nas próprias casas.
“É uma série de serviços que podemos escolher para evitar que esse animal passe por todo esse estresse de mudança de ambiente, de viagem numa aeronave, que é barulhenta, que esse animal não está adaptado… Nós temos sempre que pensar muito no bem-estar do animal e não só no bem-estar do tutor”.
Jude Demoner, adestradora de animais e dona da Casa Gaia, um hotel pet em Vila Velha, conta que a demanda pelo serviço aumenta em até 80% no mês de julho. Isso se dá, segundo ela, por questões de segurança e também de bem-estar.

“Muitos locais não aceitam cães nessa época. Neste período, os hotéis têm uma grande quantidade de hóspedes, então fica difícil receber pessoas com pets. Por isso muita gente opta por deixar os cães em hotéis especializados”.
A alternativa, para ela e os clientes, é benéfica porque, além de não estressar o animal, diz respeito a um ambiente pensado especificamente para os bichinhos. Eles têm onde brincar, têm a companhia de outros animais e também de pessoas responsáveis.
Muitas vezes queremos o nosso pet na viagem por uma questão emocional, mas esquecemos que ele vai ficar desconfortável, que ele vai passar por uma pressão psicológica gigantesca, e que isso pode mudar a vida dele, pode traumatizar ele para sempre.
Outro serviço que, segundo Jude, também pode oferecer mais segurança e conforto durante as férias, é o treinamento dos pets para as viagens. Os animais podem ser adestrados para se acostumarem com os movimentos, com as caixas de transporte e com toda a mudança.
Normalmente, os tutores se planejam com antecedência para isto: “as pessoas se programam para que esse treino seja realizado de três a quatro meses antes da viagem. Se for de avião, pode ser até dois anos antes de viajar”.
Opções de locais para deixar os pets durante as férias
- Casa Gaia: Rua Angelina Martins Leal, 22 – Praia da Costa, Vila Velha;
- Pethotel Fazendinha: Rua Flávio Abaurre, 140 – De Lourdes, Vitória;
- Quintalzinho Pet: Rua Profa. Maria Cândida da Silva, 70 – República, Vitória;
- Play Pet Creche e Hotel: Avenida Saturnino Rangel Mauro, 215 – Pontal de Camburi, Vitória;
- 4 Patas Park Hotel: Rua Antônio dos Santos Leão, 83 – Barra do Jucu, Vila Velha;
- Hotel Love Pet: Rua Curvelo, 25 – Parque Santa Fé, Serra;
- Hotel Pet Valparaiso: Rua Itapoã, 34 – Valparaíso, Serra;
- Pet Ville Hotel: Rua Pedro Fontes, 854 – 1170 – Padre Mathias, Cariacica