
Países da Europa adotam planos de emergência para proteger a população da poluição
O envelhecimento é acelerado por fatores como instabilidade política, poluição do ar e alta desigualdade social, de acordo com um estudo inédito publicado pela revista científica “Nature Medicine”.
Foram analisados dados de 161.981 participantes de 40 países, incluindo o Brasil. O estudo foi desenvolvido por 41 cientistas da América Latina, Europa, África e Ásia e teve participação de pesquisadores brasileiros.
A pesquisa revelou que fatores políticos, ambientais e sociais de um país têm impacto suficiente para influenciar, de forma significativa, o estado de saúde mental e física, levando a maiores índices de declínio cognitivo e quadros de demência.
Em nível global, diversos fatores foram associados ao envelhecimento mais rápido:
Físicos, como má qualidade do ar.
Sociais, incluindo desigualdade econômica, desigualdade de gênero e migração.
E sociopolíticos, como falta de representação política, liberdade partidária limitada, direitos de voto restritos e democracias frágeis.
“Nossa idade biológica reflete o mundo em que vivemos. A exposição ao ar tóxico, à instabilidade política e à desigualdade, claro, afeta a sociedade, mas também molda nossa saúde”, detalha Agustin Ibaneza, um dos autores do estudo.
Países europeus e da Ásia apresentaram um envelhecimento mais lento, enquanto o Egito e a África do Sul, mais rápido. E o Brasil ficou no meio desses extremos.
Corrupção, instabilidade política e poluição aceleram envelhecimento, revela estudo global
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A pesquisa usou modelos avançados de inteligência artificial e modelagem epidemiológica para análise das “diferenças de idade biocomportamentais (BBAGs)” – termo usado para avaliar a diferença entre a idade real de uma pessoa e a idade prevista com base em sua saúde, cognição, educação, funcionalidade e fatores de risco, como saúde cardiometabólica ou deficiências sensoriais.
Dessa forma, foi possível verificar uma relação direta entre o envelhecimento da população e os contextos políticos, sociais, econômicos e ambientais específicos de cada país.
O professor da UFRGS e um dos autores do estudo, Eduardo Zimmer, explica que foram avaliados fatores ambientais, sociais e políticos e seu impacto no envelhecimento cerebral.
“Os resultados mostram de maneira marcante que o local onde vivemos pode nos envelhecer de forma acelerada, aumentando o risco de declínio cognitivo e funcional. Em um país desigual como o Brasil, esses achados são extremamente relevantes para políticas públicas”, comenta.
O também autor do estudo e pesquisador da UFRGS, Wyllians Borelli, apoiado pelo Instituo Serrapilheira, afirma que a importância desse estudo é a comprovação de como o contexto de vida mais amplo influencia a saúde cerebral:
“O local de nascimento e de moradia influenciam de maneira desigual o cérebro de todos. Viver na Europa, na África ou na América Latina tem níveis diferentes de impacto no envelhecimento por causa da disparidade na disponibilidade de recursos e acesso à saúde”, explica.
Outro participante brasileiro no estudo, Lucas da Ros, da UFRGS, destaca que “antes de focar em riscos individuais, as autoridades de saúde devem priorizar a diminuição das desigualdades sociais e o desenvolvimento regional para promover um envelhecimento populacional mais saudável”.
Países europeus e da Ásia apresentaram um envelhecimento mais lento, enquanto o Egito e a África do Sul, mais rápido
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Altos índices de corrupção e envelhecimento acelerado
Em algumas regiões, o estudo aponta como a polarização política, as falhas de governança e a instabilidade institucional estão diretamente ligados ao declínio cognitivo e de capacidades físicas.
Esses elementos impactam a saúde pública ao comprometer a alocação de recursos, a coesão social e a estabilidade dos sistemas de saúde, ampliando as disparidades entre diferentes grupos sociais, segundo os autores.
Países com altos índices de corrupção, baixa qualidade democrática e pouca transparência têm maiores índices de envelhecimento acelerado, observaram os pesquisadores.
“A confiança no governo está associada a melhores condições de saúde, enquanto a desconfiança e a polarização política aumentam a mortalidade e enfraquecem as respostas de saúde pública”, destacam os autores no artigo.
A exposição prolongada a contextos de governança instável pode levar a um estado crônico de estresse, levando ao declínio cardiovascular e cognitivo da população, apontam os cientistas.
O envelhecimento, de acordo com a nova pesquisa, tem espectro mais amplo, envolvendo ainda uma combinação entre o ambiente em que vivemos e tudo a que somos expostos no dia a dia, apesar de tradicionalmente estar associado a condições de caráter particular, como passado genético e estilo de vida.
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