Com apagão e bloqueio dos EUA, economia de Cuba recua 1,1% e presidente quer aumentar exportações

“Cada visita que fazemos aos territórios reafirma minha convicção de que, sim, podemos seguir em frente”, afirmou nesta segunda-feira (14) o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, durante sua participação na Comissão de Assuntos Econômicos da Assembleia Nacional do Poder Popular.

Durante os debates sobre a crise econômica que atravessa o país caribenho, mencionou suas visitas a diferentes regiões e o contato direto com a população. O mandatário destacou a existência de outros tipos de liderança, que ele caracterizou como “não marcada por lamentos” e comprometida com “outras formas de enfrentar os problemas de maneira concreta”.

As declarações do presidente vieram logo após o ministro da Economia e Planejamento, Joaquín Alonso Vázquez, informar à comissão que Cuba encerrou o ano de 2024 com uma retração de 1,1% no Produto Interno Bruto (PIB). Com um recuo de 1,9% registrada em 2023, este foi o segundo ano consecutivo de retrocesso econômico, ficando bem abaixo da projeção oficial de crescimento de 2%, meta estabelecida pelo governo.

“Nos últimos cinco anos, a atividade econômica registrou uma queda de 11%”, reconheceu Alonso Vázquez. A retração mais severa ocorreu em 2020, quando o PIB despencou 10,9% devido ao impacto da COVID-19 e das sanções impostas — em plena pandemia — pelo primeiro governo de Donald Trump.

Depois, a economia mostrou leves sinais de recuperação, com crescimentos de 1,3% em 2021 e 1,8% em 2022. No entanto, esse pequeno avanço não foi suficiente para restabelecer os níveis anteriores à pandemia.

O ministro explicou que essa queda se traduziu em uma forte redução de 53% nas produções primárias — agricultura, pecuária e mineração —, uma contração de 23% na indústria manufatureira e açucareira, e um recuo de 6% nos serviços, tanto sociais quanto não sociais.

Alonso Vázquez atribuiu essa situação a uma combinação de fatores internos e externos, destacando entre eles o “impacto agravado” do bloqueio dos Estados Unidos, a “severa perseguição aos fluxos financeiros” e os “obstáculos às transações internacionais”, que dificultam os pagamentos a fornecedores e o acesso a insumos essenciais.

“Temos enfrentado falta de energia e combustível; e, sem energia e sem combustível, é muito difícil nos desenvolvermos”, enfatizou.

E o futuro?

O ano de 2024 foi um dos mais difíceis para Cuba nas últimas décadas, marcado pela convergência de múltiplas crises. Segundo dados da ONU, o bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos causou perdas de US$ 5,5 bilhões (cerca de R$ 34 bilhões) apenas em 2023. Somam-se a isso os efeitos devastadores de dois furacões e dois terremotos no ano passado. Esses desastres naturais causaram prejuízos milionários, incluindo a destruição de mais de 46 mil moradias e a perda de cerca de 40 mil hectares destinados à produção agrícola.

A situação agravou-se ainda mais no setor energético, tornando 2024 o ano de maiores dificuldades para o sistema elétrico cubano em décadas. O país enfrentou três apagões gerais no sistema nacional, deixando toda a ilha sem eletricidade por várias horas. Além disso, os cortes recorrentes — que afetaram diariamente mais de 40% da população nas últimas semanas — impactaram negativamente tanto a atividade econômica quanto a qualidade de vida da população.

Em meio a esse cenário complexo, Cuba ainda terá de lidar com uma escalada na hostilidade por parte do governo dos Estados Unidos. Desde que assumiu o cargo, em janeiro passado, a nova gestão de Donald Trump retomou a política de “pressão máxima” adotada durante seu primeiro mandato. No último dia 30 de junho, o presidente norte-americano assinou um novo Memorando Presidencial de Segurança Nacional (NSPM), voltado a reforçar a política hostil de Washington em relação à ilha, o que agrava ainda mais o panorama econômico e social cubano.

Diante desses desafios, o presidente Díaz-Canel destacou a necessidade de aproveitar as oportunidades oferecidas por mecanismos como a União Econômica Euroasiática, o Brics e os vínculos com “parceiros e países amigos”. Além disso, insistiu na importância de repensar a organização econômica do país para enfrentar o cenário atual.

“Sem aumentar a produção, nas difíceis condições que enfrentamos hoje, não há como organizar a economia”, advertiu. “Que tipo de descentralização é necessária para que um município consiga impulsionar algo assim? O que precisa ser aprovado?”, questionou, em referência ao prolongado debate interno sobre o nível de autonomia que os governos locais devem ter na condução da política econômica.

O presidente afirmou que todos os esforços devem estar voltados para “aumentar as exportações” e criticou a persistente mentalidade voltada para a importação, defendendo uma valorização maior da produção nacional. “É mais fácil falar e explicar do que fazer, mas definitivamente temos que fazer — e já há coletivos que estão fazendo isso”, reconheceu.

As dificuldades econômicas também se refletem no não cumprimento das metas de exportação. Segundo Alonso Vázquez, no primeiro semestre de 2025, o plano de exportações de bens apresenta um déficit de quase 40%, com quedas em setores como mineração, mel, carvão vegetal e biofarmacêuticos. O turismo, outro setor estratégico, conseguiu executar apenas 71% do plano previsto para a primeira metade de 2024.

Nesse contexto, as perspectivas para 2025 continuam desafiadoras. O governo projeta um crescimento de 1%, mas a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) prevê uma nova queda de 0,1% no PIB cubano para o mesmo ano.

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