Em pronunciamento, Lula chama apoiadores de chantagem de Trump com tarifas ‘de traidores da pátria’

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou de “verdadeiros traidores da pátria” os políticos que apoiam a decisão de taxar em 50% os produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 9 de julho. A declaração foi feita em um pronunciamento em rede nacional na noite desta quinta-feira (17).

Sem citar nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro ou seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, Lula disse que sua indignação diante do atual momento fica cada vez maior “por saber que esse ataque ao Brasil tem apoio de alguns políticos brasileiros, os verdadeiros traidores da pátria, que apostam no quanto pior melhor, e não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo”.

O mandatário destacou que o Brasil sempre esteve aberto ao diálogo com os EUA, reiterou o compromisso em defender a soberania nacional e destacou que a decisão do presidente estadunidense tem sido baseada em mentiras. Neste trecho, Lula se referiu às declarações de Trump sobre o processo contra Bolsonaro, que responde por participação na tentativa de golpe de 8 de janeiro, e a informação de que os EUA teria uma relação de balança comercial deficitária com o Brasil.

“Uma chantagem inaceitável em forma de ameaças às instituições brasileiras e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos”, afirmou. “Contamos com o poder judiciário independente no Brasil, respeitamos ao devido processo legal e os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar interferir na Justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional”, pontuou.

Veja o pronunciamento na íntegra

Lula aproveitou para destacar o processo de regulamentação das big techs no contexto do tarifaço, já que isso foi citado entre os motivos para a decisão de Trump. “Para operar no nosso país todas as plataformas são obrigadas a cumprir as regras. Ninguém está acima da lei”, declarou. “É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crime de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia, além de alimentar o ódio, a violência e o bullying entre crianças e adolescentes, em alguns casos levando à morte, além de desacreditar as vacinas trazendo de volta doenças há muito tempo erradicadas.”

O petista aproveitou para reforçar que o governo tem se reunido com os setores produtivos, representantes da sociedade civil e sindicatos em busca de uma solução para o impasse. “É uma grande ação conjunta que envolve a indústria, o comércio, o setor de serviços, o setor agrícola e os trabalhadores. Estamos juntos na defesa do Brasil e faremos isso de cabeça erguida”.

Sobre o Pix, Lula disse que não serão aceitos ataques ao sistema de pagamento que beneficia os brasileiros. “O Pix é do Brasil.”

Sem mencionar o nome, Lula criticou o governo de seu antecessor. “Quando tomamos posse na presidência da República em 2023, encontramos o Brasil isolado do mundo. Nosso governo, em apenas dois anos e meio, abriu 379 novos mercados para os produtos brasileiros no exterior. Estamos construindo parcerias comerciais com a União Europeia, a Ásia e nossos vizinhos da América Latina e do Caribe”, pontuou.

Para concluir, Lula afirmou que o governo seguirá apostando nas boas relações diplomáticas não apenas com os EUA, mas com todos os países do mundo. No entanto, voltou a falar que poderá fazer uso da Lei da Reciprocidade “caso seja necessário”. “Não há vencedores em guerra tarifária. E que ninguém esqueça: o Brasil tem um único dono, o povo brasileiro”, finalizou.

Trump não é imperador do mundo

Mais cedo, na tarde desta quinta-feira, Lula concedeu entrevista à CNN Internacional, quando criticou a postura de Trump e destacou a relação bilateral profícua de mais de 200 anos. “Ele foi eleito para ser presidente dos EUA e não imperador do mundo. Ele está quebrando todo e qualquer protocolo, toda a qualquer liturgia de uma relação entre dois chefes de Estado”.

A Casa Branca rebateu as declarações dizendo que Trump é “o líder do mundo livre”. Na declaração, a porta-voz do governo estadunidense menciona a abertura de investigação comercial contra o Brasil e evidencia o incômodo de Trump com relação à taxação das Big Techs no Brasil.

Algumas horas após a entrevista, Donald Trump enviou uma carta a Bolsonaro em que voltou a criticar o Poder Judiciários brasileiro e falou que o país vive uma censura. “Eu tenho visto o terrível tratamento que você está recebendo das mãos do injusto sistema”.

No pronunciamento oficial, que já estava gravado, Lula não mencionou o fato.

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