Nesta quinta-feira (17), Colômbia e Venezuela assinaram um acordo para criar uma Zona Econômica Especial de Paz na fronteira entre os dois países. O objetivo é desenvolver os estados da fronteira, tanto do lado colombiano quanto venezuelano, com foco no fortalecimento dos setores produtivos e na garantia da segurança na região.
O acordo binacional foi assinado pela vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, e a ministra do Comércio colombiana, Diana Marcela Morales. O texto fala em investir em áreas estratégicas em um primeiro momento. Energia, indústria, turismo e transporte são os setores prioritários para isso.
Do lado da nação caribenha, essa Zona vai incluir os estados de Táchira e Zulia. Já do lado da nação irmã, será o Norte de Santander. A ideia é também ter uma cooperação energética para melhorar a rede de eletricidade, distribuição de gás e petróleo. Para a vice venezuelana, a ideia é ampliar a integração em toda a América Latina e Caribe, e a zona fronteiriça entre os dois países têm um fluxo importante para isso.
“Estamos dando um passo histórico e estratégico. Este memorando estabelece as bases para uma zona binacional de paz, unidade e desenvolvimento econômico e social em diferentes áreas. Seguimos uma rota para concretizar o sonho de Bolívar de uma Pátria Grande”, disse Rodríguez em entrevista depois da assinatura do acordo.
O acordo também pretende fortalecer, em um segundo momento, as operações cambiais na fronteira para otimizar as trocas comerciais.
De acordo com a Câmara de Integração Econômica Colômbia-Venezuela, o fluxo comercial entre os dois países foi de US$ 1,1 bilhão (R$ 5,8 bilhões) em 2024. Esse valor representa um aumento de 43% em relação ao ano anterior. De acordo com Rodríguez, a meta é que esse valor supere os US$ 2 bilhões em 2025.
Um marco fundamental para isso foi a retomada das relações e a reabertura das fronteiras entre os dois países depois da eleição de Gustavo Petro em 2022.
Em 2008, a Colômbia exportava cerca de US$ 6 bilhões (cerca de R$ 34 bi) para o vizinho. Em 2021, depois do último ano do governo de Iván Duque e o rompimento das relações, esse montante caiu para US$ 331 milhões, ou 5% do valor de 2008. Segundo a Câmara Colombo Venezuelana, após a abertura das relações esse montante já aumentou.
Para a ministra colombiana, a retomada das relações foi fundamental para impulsionar a economia da região.
“Fizemos um exercício binacional e traçamos uma rota para a integração de duas nações que já são historicamente conectadas. Essa integração nos permite fortalecer setores estratégicos como agroalimentar, energia e indústria, beneficiando as comunidades transfronteiriças e o próprio comércio entre os dois países”, afirmou.
O chefe de Gabinete da Presidência colombiana, Alfredo Saade Vergel, também participou do evento e reforçou a importância de combater também grupos criminosos que atuam na fronteira com tráfico de drogas, pessoas e armas, e que fazem uma disputa territorial, especialmente do lado colombiano.
“São duas nações que sempre estiveram ligadas e que precisavam dessas medidas. Precisamos informar o mundo sobre essas máfias políticas aliadas ao narcotráfico, que tentaram destruir duas nações irmãs. Também estamos revisando mecanismos conjuntos de segurança para acabar com esses grupos criminosos e garantir um ambiente seguro para os empresários”, disse.
A ideia é que novos acordos sejam assinados a partir dessa Zona Econômica. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, celebrou o acordo e agradeceu ao mandatário colombiano por essa “cooperação binacional”.
Relação Colômbia e Venezuela
A balança comercial sempre foi favorável à Colômbia, em virtude da estrutura produtiva dos dois países. Enquanto os colombianos têm uma indústria mais desenvolvida e apresentam maior variedade de produtos exportados para a Venezuela, os venezuelanos têm produção pautada no setor petrolífero, o que dita também as vendas para o país vizinho.
Do lado da Colômbia, a agroindústria, indústria química básica e máquinas e equipamentos foram os principais produtos vendidos. Já do lado venezuelano, as exportações se baseiam em petróleo e gás.
Um dos pontos centrais do desenvolvimento das relações comerciais entre os dois países foi a criação da Comunidade Andina, em 1969. Chamado inicialmente de Pacto Andino, o bloco que tinha Bolívia, Peru e Equador, além de Colômbia e Venezuela, criou uma zona de livre comércio e uma tarifa externa comum que acabou favorecendo o comércio entre venezuelanos e colombianos.
Nesse período, a nação caribenha vivia um boom econômico a partir do aumento do preço do petróleo, que ampliou a arrecadação e dinamizou ainda mais o comércio com países da região, principalmente com a Colômbia.
A retomada das relações não só impacta a economia, mas também a reabertura das fronteiras, de consulados e embaixadas. Só do lado venezuelano foram reabertos 15 consulados colombianos, enquanto no país vizinho foram restabelecidos seis consulados do governo da Venezuela.
Essa representação atende os migrantes que vivem nos países vizinhos, principalmente na regularização de documentos, evitando que cidadãos que cruzaram a fronteira de maneira informal sigam de maneira ilegal.
De acordo com o Ministério de Relações Exteriores do governo Petro, 2.839.150 venezuelanos viviam no país em março deste ano. Já o número de colombianos na Venezuela não é apresentado pelo governo venezuelano, mas a Associação de Colombianos e Colombianas na Venezuela estima que sejam mais de 4 milhões.
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